Bem aventurados os humildes de espírito

Humildes de espírito. Quem é o humilde de espírito? É aquele que sabe que não possui sua suficiência em si mesmo. É alguém que sabe que depende de Outro, de um “totalmente Outro” (Barth) para ter em si a saúde e o vigor espiritual necessários.

Ele é bem aventurado, ou seja, feliz, em sua humildade, justamente porque sabe que não está escravizado pela necessidade de se fazer feliz. Está tranqüilo em relação a isto, pois sabe que nada, por si só, pode fazer, mas sim acolher a Outro. É feliz alguém que realmente, em certo sentido, desistiu de ser feliz, de ficar nesta corrida frenética pelo conseguir algo. Ele descansa, pois se lembra do profeta que disse que “no sossego e na confiança está a nossa força” (Isaías 30.15).

Ele está tranqüilo, pois não sente a necessidade de se impor sobre o seu próximo. Não precisa provar nada para ninguém, pois é Outro que o justifica. Não que seja um arrogante, que não se importe o que os outros pensam. Pelo contrário; sua vida é totalmente transparente, pois não tem o que esconder. E somente não tem o que esconder quem é humilde, pois o humilde nada precisa camuflar, é transparente.

A humildade é a primeira bem aventurança, pois é pela humildade que entramos em contanto com o Reino, com Deus. A humildade é a porta, a primeira das virtudes, uma graça de Deus. Não é falsa modéstia, pois os humildes também procuram ter uma opinião correta de si mesmos. São capazes de dizer “sede meus imitadores como eu fui de Cristo”, e ainda assim permanecerem humildes.

Em sua prática, se colocam como servos de todos. Procuram não ser pesados a ninguém, mas ao mesmo tempo não recusam serem servidos. Querem lavar os pés, mas também deixam que lavem os seus pés. Na prática eclesial, se submetem ao seu líder, ao seu guia, pois sabe que os anciãos e anciãs sempre têm algo de bom a dizer, uma boa direção a lhes dar. Ultimamente, muitos são auto-suficientes e individualistas; não é a toa que existe tanta confusão e frustração. Humildade também está na confiança, em perceber que na multidão dos conselheiros há sabedoria, se ganha uma batalha. A humildade precede a vitória, a arrogância precede a queda, pois Deus resiste aos soberbos.

Quem é humilde também não se ocupa de julgar e criticar os seus irmãos, pois se coloca como o menor de todos, como o servo de todos. Não significa que é um indolente, um irresponsável. Ele tem voz profética, mas sabe, em seu coração, que não é sua honra própria que está em jogo, mas sim a própria vida daquele que é advertido. E quando o faz, não está com o coração livre da angústia, mas pode dizer com o seu mestre que tentou recolher os resistentes como a galinha que tenta proteger os seus filhotinhos, ainda que muitos não queiram.

Dos humildes é o Reino de Deus. E o reino de Deus é uma realidade escatológica presente, ou seja, uma escatologia parcialmente antecipada, pois o reino é alegria, paz e justiça no Espírito Santo. (Rom 14.17). É o já e o ainda não a que estamos submetidos (Moltmann), que nos promete alegria, mas que já nos dá alegria.

Peçamos sempre ao nosso Senhor que nos dê a graça da humildade.

“Senhor, nosso Deus e nosso Pai. Pedimos perdão por todas aquelas ocasiões em que porventura, não fomos humildes. Ajude-nos, Senhor, a sermos humildes a exemplo do nosso Senhor Jesus Cristo, para vivermos em plenitude esta bem aventurança. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

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