Revelação e Cultura

REVELAÇÃO E CULTURA

A auto-revelação de Deus em Cristo Jesus pode ser julgada pela cultura?

Há pouco tempo atrás, perguntei a um professor meu o que ele achava sobre os diferentes comportamentos sexuais de diversas culturas diferentes, inclusive a homoafetividade. Ele disse que não via problema nenhum, que a questão era meramente cultural, e que não deveríamos julgar este tipo de atitude.

Na verdade, este brilhante professor (e digo brilhante, porque é mesmo) sempre ressalta a questão cultural na explicação de boa parte da teologia dogmática e moral cristã, ensinando que, quase tudo o quanto faz parte das Escrituras e da Igreja, é, notavelmente, uma questão cultural. Ressalto firmemente que é um professor altamente respeitado e amado pelos seus alunos, inclusive por mim.

Mas meditando nestas coisas, e, após ler Alister McGrath, fiquei me perguntado se realmente pode reduzir assim a “Sola Scritpura”, pela “Sola Cultura”, e cheguei também a conclusão de que há alguma incoerência nesta abordagem.

Isto porque, imaginem a seguinte situação, que irei ilustrar com um exemplo. Há determinadas culturas que mutilam o órgão sexual feminino para que as mulheres não sintam prazer. O teólogo liberal terá que admitir que esta é uma questão cultural, já que não admite a revelação. Tenho certeza que tais teólogos dirão que isto é uma injustiça, é errado, é opressivo, etc. Mas irá dizer isso com base no que? Em uma revelação superior? Isto, ele não pode fazer, porque já lhe negou a existência de algo do tipo. Logo, ele terá de admitir que existem culturas superiores a outras, dizendo que aquelas que não mutilam suas mulheres são melhores do que as que mutilam. Mas aí, ele terá que admitir que existe superioridade entre povos e povos, entre costumes e costumes; só que isso é algo que os liberais também não estão muito acostumados a fazer. Qualquer estudante universitário sabe o desconforto de ter de admitir publicamente, por exemplo, que há uma superioridade da civilização de base cristã frente a outras culturas.

Portanto, os liberais não poderão admitir a reforma daquela mencionada cultura com base em uma revelação. Também não poderão fazer com base na constatação de que uma cultura deva prevalecer sobre outra. Então talvez devam pregar o fim das mutilações com base na razão. Mas eles também, geralmente, são os primeiros a admitir que não existe uma razão universal, que ela também é uma questão cultural.

Por isso que, geralmente, quem admite esta forma de pensamento, chegará ao ponto de pregar a total não interferência em cultura alheias. Não importa se eles mutilam mulheres. É uma questão cultural. Não importa se sacrificam crianças ou se são canibais. É uma questão cultural. Não importa se em determinados momento da vida religiosa, cometem suicídio. É uma questão cultural. Não importa se idolatram seu líder. É uma questão meramente cultural...

E aí, o cristianismo de tais pessoas começa a morrer. Começam a pregar o fim do evangelismo e das missões, como geralmente fazem os liberais, ao exemplo do bispo anglicano Spong. As igrejas se tornam verdadeiros clubinhos da Eucaristia, onde seus membros não são ensinados a evangelizar. Usam a linguagem Trinitária, mas não crêem na Trindade, chamam Jesus de Senhor e Salvador, mas não consideram que Jesus seja Deus, nem que realmente haja necessidade de um salvador. A mensagem do evangelho se torna relativizada, e Cristo, Buda, Confucio e Maomé passam a fazer parte da mesma confraria de amigos...

Por isso, não podemos abrir mão da noção de que a Verdade de Deus foi revelada em Cristo Jesus. De que Deus é amor, por isso, não podemos mutilar as mulheres, feitas a imagem e semelhança de Deus. Que há um padrão excelente para a conduta sexual, que Deus nos ensinou. Que não podemos sacrificar nossas crianças, saudáveis ou não, pois Deus é amor, e seu Filho amava as criancinhas. Que ninguém deve se suicidar em nome de religião ou cultura nenhuma. Que não se deve idolatrar nenhum ser humano, pois somente Deus é digno de adoração.

Recomendo a leitura da obra “Paixão pela Verdade, a coerência intelectual do evangelicalismo, de Alister McGrath, editora Shedd.

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