Auto-Exame

Por Carlos Seino


Geralmente, faço coro com aqueles que denunciam a teologia da prosperidade e os chamados "profetas de portas largas" que enganam milhares de pessoas com um evangelho que sequer é uma sombra daquilo que Cristo ensinou e viveu.

Há exemplos de sites e blogs deste tipo, dentre os quais alguns até figuram na lista de blogs interessantes aqui no "Vida Cristã", conforme o leitor já deve ter notado.

Entretanto, algo tenho percebido, que talvez deva ser objeto de nossa reflexão.

Estas pessoas, que participam destas igrejas neopentecostais, destes chamados movimentos apostólicos, estariam em nossas igrejas, caso naquelas não estivessem?

Tenho a impressão que, a maioria não.

A questão é muito mais complexa, e não se encerra somente naquilo que observo aqui, obviamente.

Mas o fato é que, tenho visto que, muitas vezes, quanto mais ortodoxa se diz uma igreja, mais corre ela o risco de fechar-se em si mesma.

E, isso, sabemos todos, Cristo não o fez.

Jesus era um que estava constantemente em contato com as massas, com os pobres, com os ignorantes e carentes.

Mas a nossa ortodoxia, muitas vezes, nos leva a uma certa intelectualização da fé, e esta intelectualização da fé não se permite estar mais entre o povo, e corre o risco de, afastando-se deste, passar a desdenhá-lo. Ama o pobre "virtual", mas pouco conhece do "pobre real".

Daí, talvez, possamos dizer que, cresce a mentira, por não existir (ou existir muito poucos) daqueles que estão dispostos a fazer pela verdade (ou pelo o que consideram verdade) aquilo que aqueles fazem pelo erro.

Não estou aqui a pregar o hiper-ativismo (se bem que, ao observarmos a vida de Jesus, dos apóstolos e de Paulo, certamente, teriam sido considerados um tanto quanto ativos), nem mesmo o proselitismo (malgrado sabermos que os primeiros cristãos não perdiam uma oportunidade sequer de apresentar a Cristo), mas tão somente a meditar se o pouco fruto que temos não é resultado de nossa fraca semeadura, de nosso pouco trabalho.

Algumas das mais ortodoxas igrejas que conheço só arriscam-se a abrirem para o mundo aos domingos de manhã, começando e terminando pontualmente no horário pré-estabelecido. Algumas, até parecem se incomodar quando do surgimento de curiosos visitantes, que, pouco, ou nada recepcionados, não voltam mais àquele lugar.

Portanto, penso que precisamos meditar nestas questões. Óbvio que não deixaremos de falar o que pensamos, de denunciar o que entendemos dever ser denunciado, mas precisamos saber se estamos dispostos a estar no "corpo a corpo", face a face, na vida e no discipulado das pessoas que se achegam ao evangelho.

A crítica que vem somente por meio das palavras, de nossos gabinetes e quartos protegidos, é pouco comparado com nossa atividade positiva em favor do evangelho.

A luta evangélica é uma luta de todos os dias, e não somente de um dia da semana.

A mente de Cristo deve nos permear em todos os momentos, e não somente em uma pequena fração do final de semana.

Há muitas igrejas que se dizem ortodoxas na doutrina, mas não espelham aquela mesma vitalidade do amor e da compaixão entre seus membros; não são comunidades "vivas", por assim dizer, pois não perderam o primeiro amor.

O formalismo tomou conta de tais igrejas de uma forma tal, que o humano deixou, infelizmente, de ser precioso.

Daí, prezados irmãos e irmãs, tanto quanto o nosso discurso contrário àqueles que não concordamos, peguemos no arado para participar deste grande discipulado do povo de Deus. Estarmos com o pobre que se achega a nós, com a mãe desesperada pelo filho que se encontra nas drogas, com o adolescente dividido entre o reino e o mundo, com o rapaz atordoado buscando desesperadamente o perdão de sua esposa por ter cometido adultério, com a irmã, triste, doente, que nos procura em busca de cura e esperança.

É fácil ser profeta de internet, pastor de gabinete. Revistamo-nos do amor, como eleitos e amados de Deus, para que, mais do que palavras, possamos agir de acordo com nossa crença e profissão de fé.

Graça e Paz do Nosso Senhor Jesus Cristo a todos.

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