O conhecimento apostólico


Por Carlos Seino

Entendemos que, um apóstolo é aquele que recebeu diretamente seu ministério do Cristo. Ou seja, apóstolos são os apóstolos de Cristo, enviados e comissionados pelo próprio Jesus.

Mas o que dizer daqueles que, nas Escrituras também são chamados de apóstolos, como Barnabé, entretanto, não conheceram Cristo pessoalmente?

Ora, estes são apóstolos da Igreja, e não de Cristo, pois foram comissionados por homens.
Um apóstolo, como Paulo, não recebeu seu ministério de homem nenhum, conforme diz na sua epístola aos gálatas. Nem de homem nenhum, nem por intermédio de homem algum, mas diretamente de Deus e de Cristo.

Cada ramo do cristianismo lida de modo diferente em relação a tais afirmações.

Para nós, evangélicos, isso significa que toda a doutrina acerca da salvação já foi dada aos apóstolos, não podendo ser alargada, não podendo ser aumentada!

E nós entendemos que tal doutrina, essencial para o evangelho, é a fé, a confiança em Cristo, naquilo que Deus, em Cristo, fez por nós pecadores. É a polêmica e famosa doutrina do "Sola fides". E, como creditamos a salvação somente a Cristo, nosso segundo postulado é "Solus Christus", e, por isso não envolver mérito de criatura nenhuma, dizemos que é tudo pela graça, ou seja, "sola gratia". "Sola Scriptura" é tão somente uma coroação de todos estes princípios que se encontram nas Escrituras. Não se começa a salvação pelo "Sola Scriptura", sendo tal princípio resultado, conclusão, e não fundamento. O fundamento, a base, é Cristo, o verbo de Deus. Isto afirmou Lutero, e os fundamentalistas, infelizmente, inverteram.

De qualquer modo, não é esta a intenção da minha postagem. Minha intenção é responder a uma pergunta de um irmão católico romano do motivo pelo qual não aceitarmos a doutrina a assunção de Maria.

Isto, na verdade, é uma complicação. A maior parte dos evangélicos contemporâneos imediatamente já diria: "é porque não está na Bíblia, uai!", fazendo uma rasa interpretação (que a maioria faz) do que é "Sola Scriptura".

Mas este não é o verdadeiro motivo. Tem um monte de coisa que não estã na Bíblia, e sim sometne na tradição , que a maioria dos protestantes aceita, como por exemplo, o nome dos autores dos Evangelhos.

O verdadeiro motivo é uma radical reação ao catolicismo romano, após a declaração papal do referido dogma mariano.

Conforme disse, para nós, ninguém, em nossa opinião, tem mais conhecimento que um apóstolo; e nenhum apóstolo incluiu em sua soteriologia a necessidade em se crer no dogma da assunção de Maria. Ou seja, nenhum anátema foi lançado por não se acreditar em tal doutrina.

Claro que muitos dirão que o fato ocorreu após a maior parte dos documentos apostólicos terem sido produzidos. Ora, isto não muda nada, pois o conteúdo doutrinário da salvação não aumeta com o tempo pós apostólico. Entendemos, juntamente com Pedro, que, já em seu tempo, "nos foram doadas todas as coisas que conduzem à vida e a piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude".

Portanto, não se trata de duvidar da assunção de Maria. Talvez tal fato possa até ter ocorrido mesmo! Porque não? Afinal, se isto aconteceu com um santo do Antigo Testamento, porque não poderia ter acontecido com a mais bem aventurada e santa de todas as mulheres, a Virgem?

O problema é que, ao se lançar um anátema sobre todos aqueles que não aceitam tal doutrina, bem como, ainda mais delicadamente, a doutrina da imaculada conceição, há, infelizmente, a tendência de haver uma reação em sentido contrário!

E a posição protestante é no sentido de não se exigir nenhuma crença que não tenha sido ensinada por um apóstolo e que não tenha alcançado dignidade bíblica, por assim dizer.
Mas o que chateia mesmo nesta história é que, as exigências romanas em relação a tais dogmas marianos, estão, por assim dizer, entre aquelas doutrinas que podemos facilmente ver na história que poderiam ser opiniões teológicas, "teologúmenas", ou "adiáforas"; ou seja, idéias que poderiam ou não ser aceitas por qualquer fiel.

Dar um status de dogma a tais doutrinas, e lançar o anátema sobre os que lhe são contrários, afasta para mais longe ainda a possibilidade de qualquer unidade nesta questão. Quanto maio o espectro dogmático de uma igreja, mais difícil vai se tornando a unidade.

Portanto, a questão não é se Maria foi assunta ao céu. Nem mesmo se ela foi imaculada desde que nasceu, ou somente no momento da encarnação do verbo em seu ventre (que, no meu sentir, seria uma posição mais ortodoxa). Ou mesmo se haveria realmente uma necessidade de tal doutrina, visto que a própria encarnação, por si só, já seria suficiente para a não, por assim dizer, "transmissão" do pecado original... A questão acaba sendo de concepção acerca da autoridade apostólica e de darmos crédito a todo o conteúdo do depósito doutrinário daqueles que há dois mila anos deixaram registrado que nada deixaram de anunciar no que que dizia respeito à salvação e um reto viver.

Para o bem ou para o mal, a ortodoxia protestante continuará a bradar que ninguém tem maior conhecimento que os apóstolos no que tange aos caminhos da salvaçáo, e que, ninguém é obrigado a crer ou agir de forma diferente a que os próprios apóstolos agiram...

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