Tão difícil nos acolhermos...

De vez em quando ando por aí, de vez em quando por ali... Vou vivão e vou vivendo...

Às vezes, estou com os carismáticos... às vezes, com os ultra-carismáticos...

Outras, estou com os históricos, com os reflexivos, e com os intelectuais...pois é...

Tudo o que conto aqui acontece, no prazo, digamos, de um mês ou até mesmo de uma semana, pois é.

Estive com um carismático que desceu a lenha em uma comunidade mais reflexiva. Disse que eles não evangelizavam o suficiente. Que eles eram muito classe média. Que eram muito sossegados....

Mas faz não muito tempo atrás, estive com um destes crentes mais intelectualizados, de uma comunidade não muito proselitista (ou nada proselitista assim).

E dizia que os carismáticos são barulhentos, fundamentalistas, atrasados, ignorantes, autoritários, etc...

Outros, mais históricos, prezam uma bela liturgia, formal, com panfleto, momentos litúrgicos variados, canto, etc...

Outros, catam músicas populares em seus cultos, com poucas estrofes... cantam, cantam, cantam... Lêem a Bíblia, uma pregação explosiva, e depois voltam a cantar.

E vejo o tempo todo isso: pentecostais chamando os históricos de frios, ou os mais reflexivos de classe média, os históricos chamando os carismáticos de barulhentos, alienados; pessoas de igrejas mais liturgicas dizerem que os demais são profanadores do templo e das coisas santas, etc, etc, etc. Isso, mesmo no catolicismo, vejo gente tradicionalista descendo a lenha na RCC, e carismáticos pouco respeitosos com as tradições antigas, etc.

E fico me perguntando: porque temos tanta dificuldade em nos mútuo acolhermos? Já pensou se, conforme já perguntou Rubem Alves, todos os pássaros da floresta cantassem em uma tonalidade só? Cantassem o canto do urubu? Não somos nada tardios em lançar os nossos anátemas uns aos outros, infelizmente.

O que seria da fabulosa hinologia protestante e reformada se não fossem as igrejas históricas e litúrgicas? O que seria da fabulosa tradição oriental se não fossem os cristãos ortodoxos? Mas o que seriam dos milhares de jovens, crianças, marginalizados, se não fossem os carismáticos em cada buraco, em cada periferia deste país enorme? Cânticos simples, crianças cantando, entendendo o que cantam... Enfim, precisamos desta diversidade. Ela somente enriquece a experiência cristã sobre a face da terra.

Óbvio que existem questões passíveis de críticas em todas estas manifestações. Mas penso que é mais desejável que cada um de nós trabalhe, e trabalhe bem em sua própria tradição antes de fuzilar as demais. Há muitos marmanjos barbados que não suportam cheiro de gente, de pessoa, de comunidade, e não têm nenhuma alternativa a demonstrar para aqueles que verdadeiramente trabalham. "Mostre-me a sua fé sem as suas obras, que pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé..." já disse alguém.

Jesus disse que seu fardo era leve e suave. Um dos fardos que ele nos tirou foi esta necessidade alucinante que temos de, o tempo todo, medirmos os demais pelos nossos próprios critérios. De julgar, de examinar, de emitir nosso douto parecer... Mas pra que? Jesus nos livrou deste peso. Vivamos nós em alegria e simplicidade de coração, fazendo todas as coisas como que para Deus, o Pai, e para a glória do Senhor Jesus Cristo, por intermédio do Espírito.

Comentários

Mais vistas do mês

Toda a Reforma em apenas dois versículos

Uma reflexão acerca do Salmo 128

Quem não dá o dízimo vai para o inferno?

A triste história do rei Asa

Ananias, o discípulo que batizou Paulo

A impressionante biografia de William MacDonald

José do Egito - um exemplo de superação

A Conversão de Zaqueu (Lc 19)

Uma comparação entre Zacarias e a Virgem Maria

Os "logismoi"