Comentário ao artigo: como fazer Teologia ?

Por Gederson Falcometa Zagnoli Pinheiro de Faria


Comentarei o texto no que diz respeito a Santo Tomás de Aquino.


O Aquinate não colocou outro fundamento para se chegar ao conhecimento de DEUS, mas utilizou a filosofia como método de exposição da revelação e do conhecimento de DEUS presente na mesma. Tudo isso esta em conformidade com os princípios Evangélicos, como pode se ler:


"Porque é ele a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava, abolindo na própria carne a lei, os preceitos e as prescrições. Desse modo, ele queria fazer em si mesmo dos dois povos uma única humanidade nova pelo restabelecimento da paz, e reconciliá-los ambos com Deus, reunidos num só corpo pela virtude da cruz, aniquilando nela a inimizade." Ef 2, 14-16


O protestantismo, vai na contramão e constrói muros contra a filosofia grega antiga e efetivamente, não destrói o muro que separa Judeus e Gregos, como também não constroem de dois povos uma única humanidade. Tal posicionamento é fruto mais de um anti-catolicismo do que própiamente o fruto da doutrina do Espírito Santo ou de uma teologia evangélica. O que ocorre na mente de teólogos como Lutero e Karl Barth, é o absurdo de considerar que Cristo em sua natureza humana, não era dotado de razão. Logo não existe razão verdadeira, razão divina e razão cristã, mas apenas o fideísmo reformista que nada mais é do que uma fé na própia razão.


Nosso Senhor disse que basta ao discípulo ser como mestre e basta ao servo ser como seu Senhor. Neste sentido, frei Tomás foi fidelíssimo ao exemplo de nosso Senhor que usou da razão humana para se demonstrar as realidades divinas. O meio utilizado por Nosso Senhor para este fim foram as parábolas, onde DEUS demontrou as realidades divinas, através das realidades humanas. Também pode se dizer que Tomás construiu um edificío sobre o fundamento que é Cristo. Isto esta em conformidade com aquilo que se lê em Corintíos:


"Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um." 1 Cor 3, 12-13


O material com o qual se edifica sobre o fundamento (que é a revelação) é próprio da natureza do homem, estabelecida por DEUS, por esta razão, pode ser nobre ou corruptível. É o que demonstra o altar ao DEUS desconhecido que é o altar da limitada teologia natural e não o altar do tomismo. São Paulo, não condenou os gregos, que pelo uso único e exclusivo da razão cultuavam aquele que não coheciam e lhes seria anunciado pelo Apóstolo. Isso ocorreu em Atenas, o berço da filosofia, onde encontraram-se a revelação natural e a sobrenatural, e não se repeliram.


É um erro monumental igualar a cultura dos gentios com a cultura dos pagãos. O mesmo pode se dizer da consideração da natureza. Barth tem a visão da natureza a partir do homem, não a partir de DEUS. Já Santo Tomás vê a natureza a partir de DEUS, por esta razão, não pode negar que se tenha em culturas gentias, aquilo que São Justino chama de "Sementes do verbo". Como a definição da lei natural de Cícero que aponta exatamente para a revelação Cristã:


"XXII - A verdadeira lei é a reta razão em harmonia com a natureza, difundida em todos os seres, imutável e sempiterna, que, ordenando, nos chama a cumprir o nosso dever, e, proibindo, nos aparta da injustiça. E, não obstante, nem manda ou proíbe em vão aos bons, nem ordenando ou proibindo opera sobre os maus. Não é justo alterar esta lei, nem é lícito derrogá-la em parte, nem ab-rogá-la em seu todo. Não podemos ser dispensados de sua obediência, nem pelo Senado, nem pelo povo. Não necessitamos de um Sexto Aelio que no-la explique ou no-la interprete. E não haverá uma lei em Roma e outra em Atenas, nem uma hoje e outra amanhã, ao invés, todos os povos em todos os tempos serão regidos por uma só lei sempiterna e imutável. E haverá um só Deus, senhor e governante, autor, árbitro e sancionador desta lei. Quem não obedece esta lei foge de si mesmo e nega a natureza humana, e, por isso mesmo, sofrerá as maiores penas ainda que tenha escapado das outras que consideramos suplícios." (De republica, III, 22).
Tradução da obra LA REPUBLICA, Marco Túlio Cicerón, edición española, Aguilar S A, 1979, Libro III, XXII, pág. 100.


A reta razão nada mais é do que a razão Divina. Cícero através dela, já sabia que "haverá um só pastor e um só rebanho." A interpretação de Karl Barth de Rm 1, 19-21, perde completamente o sentido a partir do momento que se lêem definições como a exposta. A teologia reformada não aceita que DEUS faz seu sol nascer sobre justos e injustos.

É de se espantar que os Teólogos Protestantes, neguem desde a reforma a existência da razão divina que transcende a razão humana. Seria como se Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro DEUS, não fosse dotado de verdadeira razão ou razão divina. Também pode se dizer que pensam que a razão é criação humana e não divina, apesar do cérebro demonstrar que ela é um elemento constitutivo de nossa natureza. Além disso, o homem é um ser que tem a sua natureza corrompida pelo pecado original, ela não se deletou por completo ao ponto dele ter se transformado em um demônio. É por esta razão que diz o apóstolo:


"Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de sua raça..." At 17, 28


Neste caso, o erro dos reformistas é tomar a concepção racional como determinação do homem e não determinação de DEUS. Cometem o erro em não distinguir entre razões verdadeiras e razões falsas. Como Karl Barth, que não distingue o homem natural dos tempos Apostólicos, do homem natural nos tempos de Santo Tomás de Aquino.

Na Idade Média, o homem natural era Cristão, não era o pagão da antigüidade e da modernidade. Ainda caem na profunda falta de discernimento em não considerarem que os antigos e os medievais, tinham gravados na consciência o fato de serem criaturas de DEUS. Poderiam eles terem consciência de ser criatura sem que não soubessem da existência de um criador? Neste ponto nasce outro erro na consideração dos dois padrões para se chegar ao conhecimento de DEUS. O padrão natural só é tido como um outro padrão para se chegar ao conhecimento de DEUS, porque ele foi deletado em nosso tempo. Hoje praticamente não se fala em criatura de DEUS, o homem não pensa em um criador. Assim, o conhecimento de DEUS através das coisas criadas, por aqueles que raciocinam erroneamente, passam a se tornar uma segunda via para se conhecer a DEUS. E segundo Santo Tomás, este cohecimento sobre DEUS, é o menor de todos os conhecimentos que o homem pode possuir sobre DEUS.


Se o homem pode ser convertido, tanto a filosofia como todas as ciências naturais também o podem, pois todas carregam os pecados de seus produtores. Tudo é possível ao que crê, ensina nos o Evangelho! Em momento algum, a Bíblia condena o uso da razão para se expor a fé, até porque fé e razão, não se separam. A razão em si mesma é matéria de fé, ninguém tem provas de que seus pesamentos tem alguma relação com a realidade. Para convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo, o Espírito Santo fornece nos razões comprovadas por fatos de que Jesus é o filho de DEUS, de que pecamos e de que haverá o dia do juízo. A fé não é uma adesão a um sentimento religioso e sim a adesão da inteligência e da vontade a verdade revelada.


É complicado afirmar que a doutrina do Espírito Santo, é tipícamente protestante. O protestantismo nasceu no Século XVI, fortemente influenciado pelo humanismo antropocêntrico. A Sola Scriptura, é puro empirismo que não se sustenta em si mesma. Além de ser uma doutrina profundamente antropocêntrica e individualista, uma vez que a manifestação do Espírito Santo se dá para proveito comum (Cor 12,7) ela não ocorre para uma suposta iluminação pessoal. Porque o desejo de DEUS é que os batizados em um só espírito, formem um só corpo, porque há uma só fé, um só batismo e um só Senhor. Os poderes da Igreja, foram lhe outorgados pela própia Santíssima Trindade, a não ser que pensem os protestantes que São Pedro não possuí a chave do reino dos céus.


A analogia do ser, de Santo Tomás, nada mais é do que a analogia do verbo. Conforme diz São João:


"Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito." Jo 1, 3


O ser é o verbo por excelência, ele quem determina aquilo que a coisa é, ele é o logos princípio do conhecimento universal, sem o ser não haveria palavra, pois não poderia determinar o que É a palavra. É por esta razão que DEUS se apresenta a Moisés dizendo; "Eu Sou" e também por esta razão, os judeus escandalizam-se no Sinédrio quando Jesus diz: "Eu Sou". Ao negar a analogia do ser, nega-se a analogia do verbo e que tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Tem se uma teologia que parte exatamente da premissa onde se pensa que os homens é que determinam o que são e o que não são as coisas.


Já "analogia fidei" de Barth apresenta um DEUS semelhante ao da fé, pelo verbo ser não é o DEUS da fé, mas um "DEUS semelhante ao da fé." Que DEUS será este senão o próprio homem?


Ao negar a analogia do ser, nega-se a analogia do verbo. Desta maneira, DEUS não poderá ser conhecido analogamente a Cristo que é o SER por excelência. Nem mesmo a revelação sobrará na Teologia de Karl Barth, mas sim o próprio nada e o humanismo que visa combater.

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