A oração do Senhor.

Por Domingos Pardal Braz

Alguns estão persuadidos de que a oração suprema é aquela que brota do fundo do coração e que não pode ser consignada em fórmulas.

Certamente que a oração suprema é aquela que brotou do fundo do coração do Salvador, vaso repleto do Espírito Santo, quando seus apóstolos lhe perguntaram: Mestre como devemos orar?

Ao invés de dizer a cada um que orasse conforme os impulsos de seu coração o divino Mestre quiz que eles e nós orassemos conforme os impulsos divinos de seu coração, e por isso disse:

Orai assim!

Como quem diz: orai comigo, orai como eu oro, imitai o meu modo de orar... pois se orardes conforme vossos pensamentos orareis como homens, mas, se orardes como eu oro então orareis como ora a natureza humana de vosso Deus e orareis divinamente.

Aquele que vem do céu sabe o que os céus desejam ouvir e fala conforme a linguagem do céu, por isso orai:

PAI - Pai porque gerou um Filho igualmente divino.

"Como orvalho antes da aurora eu te gerei."

Pai é um têrmo relativo a Filho, portanto se não há um Filho divino, um Filho por natureza, então não há Pai.

NOSSO - Porque "aqueles que o receberam e nele creram Deus lhes autorgou o direito de serem chamados seus filhos." Jo 1,12.

Assim, pela fé no Filho natural revestido de carne, também nós nos tornamos filhos adotivos e chamados a divinização, pois "O que haveremos de ser não foi ainda manifestado.".

Outra testemunha porém afirma que seremos participantes da natureza divina.

Como o ferro incandescente sem deixar de ser ferro assimila as propriedades do fogo, assim sem deixar de ser criaturas assimilaremos as propriedades da natureza divina.

QUE ESTAIS NO CÉU - Tais palavras não devem ser tomadas ao pé da letra sob a pena de encararmos a Divindade como um passáro, conforme nos adverte Evangelho apócrifo de Tomé.

Deus é Espírito ou seja entidade isenta da matéria.

Portanto não está no pavilhão dos céus, mas a terra, os céus e o universo inteiro é que estão nele.

Pois o universo é finito enquanto seu artífice é infinito. Ora o finito não pode conter o infinito.

Deus não ocupa espaço e não tem lugar. Ele é o lugar...

Estar nós céus significa estar acima de todas as vicissitudes e paixões, ser amplo, infinito, imaculado, puro, elevado, moralmente superior.

SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME:

Pela pela do teólogo sabemos qual o verdadeiro nome de Deus: Deus é amor.

Longe de nós imaginar que podemo santificar em si mesmo o que é santo por natureza.

É em nós que o nome de Deus deve ser santificado e isso não é díficil pois Jesus disse: Por eles eu me santifico...

Devemos santificar o nome de Deus em nós mesmos vivendo piedosamente conforme os preceitos do Evangelho.

Não se trata duma santificação formal, por decreto... mas duma santificação a ser vivida dia após dia, na odebiência a lei e Cristo e no cumprimento dos novos mandamentos, espirituais.

Nossa regra de santidade, nosso código, nossa carta magna está ali no sermão da montanha. Não são apenas palavras belas para serem apreciadas, mas sobretudo palavras santas para serem vividas.

VENHA A NÓS O TEU REINO -

Na verdade o Reino já estava no interior de tantos quanto aspiravam por ele.

Esse reino não é um reino externo conquistado a força de armas como imaginavam os carnais judeus, mas um reino interno o reinado de Cristo em nossas almas.

Como Cristo pode reinar em nossas almas?

Cristo reina em nossas almas pelo amor conforme disse: Vos sois meus discípulos se fazeis o que vos mando e o que vos mando é que vos ameis uns aos outros, nisto vos reconhecerão.

SEJA FEITA A TUA VONTADE -

Qual é vontade do Pai?

A vontade o Pai é expressa pela vontade do Filho pois entre ambos não há dissenssão, mas plena comunhão de vontades e operações.

A vontade do Pai é que ouçamos o Filho: Eis o meu Filho amado, ouvi-o.

A vontade do Filho é que nos submetamos a vontade do Pai.

A vontade de ambos é que nos amemos uns dos outros. Então eu e meu Pai viremos até ele e nele faremos morada....

É necessário acrescentar que o amor anunciado pelo Cristo não é um amor vocal ou romântico, mas amor de obras e verdade (I Jo).

O amor anunciado por Cristo esta fundamentado em sua derradeira catequese: O que fizestes a estes pequeninos foi a mim mesmo que o fizestes. Mt 25.

Acaso aquele que goza de fartura e vê seu irmão sofrer necessidade esta na posse do amor de Deus? (I Jo)

Se Não lhes forneceres o que necessitam para manter-se - diz o irmão do Senhor Tiago ben Iosef - é inutil dizer eu rezarei por vós, para que tenhais comida e roupas. Tg 2,16

ASSIM NA TERRA COMO NOS CÉUS.

A emergência do mal neste plano sublunar retardou o consecussão dos planos divinos.

Mas não impedira que sejam levados a cabo por meio dum recurso maravilhoso.

Por isso o apóstolo anuncia que: Todas as coisas haverão de ser reintegradas.

Já o Senhor e Mestre de todos dissera: Erguido no madeiro atrairei todos a mim.

Certamente que os seres que habitam nos outros mundos foram criados na ignorância e postos a prova. Mas não cederam ao mal, permaneceram em comunhão com o Criador e foram galardoados.

Este mundo porém apartou-se do plenroma e da unidade.

Pois a vontade livre de nossos antepassados desvio-se do bem e deu origem ao mal.

Assim a vontade dos homens entreou em conflito com a vontade de Deus.

Eles não assimilaram a benevolênia e a generosidade do Senhor mas tornaram-se centrados e si mesmos, ensimesmados e egoistas até a idolatria do eu.

E procedendo dessa forma mantiveram sobre si o domínio da morte, da dor, das lágrimas, da enfermidade e da ignorância.

Cheio de compaixão pelo estado de miséria em que jaziam os seres humanos, uma das consciências divinas resolveu encarnar-se e padecer na cruz.

Encarnar-se para revelar os seres humanos a lei eterna do amor.

Pois conforme disse Inácio o Teóforo: Deus viveu como homem para que os homens aprendam a viver como deuses.

E Padecer para comover os homens e despertar neles uma amor equivalente.

Assim o verbo tornou-se instrutor, môdelo e exemplo para todos os mortais.

E todos aqueles que lho obedecem e se submetem a sua lei são reintegrados a unidade e elevados ao pleroma em comunhão com todos os seres.

E dia virá em que todos serão reintegrados e não havera mais dissenssão entre está terra e o pavilhão dos céus.

Pois todos os seres se submeterão a pregação e ao exemplo do Salvador.

E salvos da ignorância e da maldade reinarão com ele nos séculos.

Como desvio da vontade o mal deixara de existir, pois não é substância e toda substância concebida pela mente divina e trazida a existência é boa.

O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE.

Não se trata do pão material feito de trigo ou centeio que o homem pode fazer com suas próprias mãos.

Pois Deus nada fornece aos homens que esteja ao alcançe de suas forças naturais.

Quando nos aconselha a não fazer caso do amanhã não nos chama a vadiagem, mas previne-nos contra o acúmulo desmedido que é filho do egoísmo e o mal deste século.

Devemos respeitar as sábias leis da natureza e trabalhar pelo dia de hoje, ganhando o pão com o próprio esforço.

Os próprios judeus cosignam em seus livros: Ganharas o pão com o suor do teu rosto.

Não um monte de pão para um ano, mas o pão necessarío para cada dia.

Neste passo porém Jesus nos fala doutro pão não menos importante e talvez até mais importante: o pão ou alimento espiritual que nutre a alma.

Por isso disse aos seus: um alimento tenho que ignorais. (Jo 4)

E noutro passo: Nem só de pão vivem os homens mas de toda a instrução que é dada por Deus.

Eis nosso pão: O Evangelho, os oráculos do Cristo, as palavras do salvador e não pode haver pão mais saboroso.

Este é pão substancioso, pão de trigo sem escolha, de trigo que frutifica cem por um.

Outros preferem pão de centeio que provem dos apóstolos e há até quem prefira o pão de cevada... mas o pão por excelência é o pão de trigo alvo e imaculado.

Nutridas com o pão do Evangelho nossas almas se encherão de vigor e crescerão em graça e santidade a semelhança daquele que estatuiu o Evangelho.

Nem é preciso dizer que devemos ouvir ou ler o evangelho todos os dias.

Pois com relação a esse pão divino não há jejum.

PERDOA AS NOSSAS DÍVIDAS.

Sempre que o homem agride seu semelhante e lhe causa sofrimento, se aparta da vontade de Deus e peca.

Peca porque devia agir sempre deacordo com a vontade Suprema.

Certamente que Deus não é atingido por essas ação má e que não se irrita.

Pois se se irasse como afirmam alguns já não seria imutavel e perfeito.

O homem se impacienta e irrita porque ignora o amanhã.

Deus é impassivel porque antes que este universo viesse a luz conhecia de antemão o seu fim.

Aquele que peca atinge ante de tudo o outro e atingindo ao outro atinge a sí mesmo, pois agressor e vítima são da mesma natureza.

Deus que é imutavel não se afasta dele, mas ele que se afasta moralmente de Deus, expusando-o de seu interior.

E assim fica solitário e vazio...

Eis o único inferno.

Para sair desse inferno o homem deve reconhecer que errou, pois agredindo o outro violou a natureza comum.

Quando o homem reconhece que errou e deseja não errar mais Deus torna a fazer morada nele e a comunhão entre criador e criatura torna-se plena.

COMO PERDOAMOS OS NOSSOS DEVEDORES.

Mas ao reconciliar-nos conosco não pode nos santificar plenamente.

Porque não pode cancelar o mal que infrigimos ao próximo, mas que apenas e tão somente a vítima pode cancelar perdoando.

Por isso a reconcilização com Deus não nos exime, antes nos obriga a sanar os males e as consequências de nossos atos.

A Absolvição da igreja não nos alija de nossa responsabilidade, antes nos convoca para que lha coroemos.

Devemos pois ir até o irmão e reconciliar-se com ele, ou seja pedir desculpas, retratar a mentira ou a fococa, devolver o que foi roubado, sofrer com resignação a reclusão por pena de assassinato ou agressão, prestar serviços a comunidade, fazer penitência e acima de tudo praticar boas ações, ações nobres e virtuosas.

Três são as formas de apagarmos as nossas faltas: Perdoando a todos os que nos fazem mal.

Assim quebramos o círculop do mal e pomos em movimento a roda do bem.

Sofrendo com resignação as consequências de nossas maldades.

E fazendo boas ações.

Essa é a parte que convem ao homem.

Por isso David foi castigado e sofreu, após ser perdoado.

Porque Deus espera que o homem faça sua parte.

NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO.

Nossa natureza é fragil e exposta diariamente a um sem número de maus exemplos e de oportunidades para obrar o mal.

Nessas circunstâncias devemos resistir ao máximo e suplicar devotamente o auxílio de Nosso Senhor Jesus Cristo e de todos os seus santos.

De nada vale expor-se temerariamente e desejar o pecado no pensamento e recorrer a Cristo com os lábios a ajuda prometida não exime o homem de odiar o pecado e de fugir as oportunidades. Do contrário tenta o Senhor seu deus por leviandade.

Somente depois de se esgotarem toas as forças da natureza pela heroicidade da resistência ao mal é que a graça do Senhor é concedida.

Pois a graça é para os que lutam e não para os que se acomodam, para os que executam fielmente a sua parte do convênio e não para os preguiçosos.

Donde se segue que o treino da natureza pelo jejum e pela vida regulamentada, não só coopera com a graça como até suscita a mesma graça.

Em suma a graça não substitui a natureza mas a completa e socorre.

Dentre todas as tentações a mais perigosa é a tentação original que apartou nossos antepassados da senda reta: o egoismo.

Devemos rogar constantemente ao Supremo Reparador a graça de não desejar juntar bens neste mundo, onde a traça e a ferrugem capeiam, mas tesouros de boas ações na eternidade.

Pois: abençoados os que morrem no Senhor pois suas obras acompanham-nos.

MAS LIVRAI-NOS DO MAL.

O mal é permanência no pecado e a alienação de Deus.

O estado natural do homem deve ser a comunhão espiritual com seu criador e redentor, conforme diz o hiponense: Fizestes o nosso coração para tí e ele permanecera sempre inquieto até repousar em tí.

O estado natural do homem deve ser a comunhão fraterna com seus semelhantes vínculo da paz.

Esse mal também pode ser a ignorância das letras humanas ou a miséria material.

Donde todo cristão é chamado a instruir os ignorantes e a socorrer seus semelhantes.

É mal o prolongamento desses estados todos no além túmulo.

É má a expiação de dívidas apos a morte no cárcere.

Tudo isto é mal, de tudo isto preserve-nos o Pai das Luzes, generoso e benevolente.

PORQUE TEU É O REINO, O PODER E O EXPLENDOR PARA SEMPRE.

Covem encerrar todas as preces com um louvor a Deus.

Não que ele seja carente e precise dos nossos louvores, antes porque louva-o nos faz um bem enorme e dignifica nossas almas.

O louvor sóbrio e temeroso humaniza aqueles que lho ministram.

Acrescentai por fim: Oh PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO NA SANTA IGREJA.

Porque o Pai não se separa do Filho, e ambos não se separam do Consolador, pois a natureza das três consciências é una.

Porque a igreja, Virgem, Mãe e Mestra é a coluna e o sustentáculo da Verdade.

AMIM.

Quer dizer: Assim seja, assim espero, tal a vontade do meu coração.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

Como era no Princípio, agora, sempre e pelos séculos dos séculos.

AMIM.

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