Não retire o amor que pertence a Deus


Todo pecado tem raízes na carência de amor. Todo pecado consiste em retirar de Deus o amor e aplicá-lo a outra coisa. (Thomas Merton).


Quem se pode dizer perfeito ao ponto de ordenar corretamente todas as suas intenções?

Somente uma graça sobrenatural pode dar tal perfeição a seres tão limitados quanto nós. Isto porque, acostumamos desde cedo a aprender que pecado são coisas ruins que cometemos, mal que fazemos ao nosso próximo, violar os mandamentos, cometer crimes, e coisas do tipo.

Entretanto, o pecado pode ir muito além disso. Pode-se inclusive desejar e realizar coisas objetivamente aprováveis, mas com intenções reprováveis dentro de si. Isto porque, ao retirarmos o nosso amor por Deus para algo menos digno, estaremos já a partir daí, rompendo um pouco daquela santa comunhão, e aí, estaremos já cometendo pecado. A nossa sede de amor é infinita, e somente pode ser direcionado para algo infinito, eterno, e cremos que somente Deus possui tais qualidades. Mesmo nosso amor ao próximo tem que ter Deus como fundamento.

Já ouvi falar de pessoas que renunciaram uma carreira brilhante por entenderem que, no exercício de tal labor, não obstante o sucesso profissional, sentiam que sua comunhão com Deus ficava um tanto quanto abalada. São advogados, jornalistas, profissionais liberais, etc, que de algum modo, perceberam que não poderiam agradar a dois senhores, a Deus e ao dinheiro, e, “perderam suas vidas para ganhá-las”, conforme as abençoadas palavras pronunciadas por nosso Senhor. Por incrível que pareça, mesmo vocações religiosas podem ser obstáculos para a comunhão com o Pai. Muitos, ao amar demais suas carreiras aplicaram pouco amor a Deus, minguando seus frutos. Entretanto, ouço muitos poucos falarem sobre a possibilidade de muitos não abraçarem, ou recusarem o sucesso profissional em nome do evangelho. De modo algum quero dizer que cristãos devem ser profissionais medíocres, mas sim que, “só é legítimo amar todas as coisas e ir ao seu encalço quando elas se convertem em meios de amar a Deus” (Merton).

Às vezes interpretamos mal a graça, relativizando-a, tornando-a barata demais (Bonhoeffer). A uma excessiva ênfase na doutrina luterana na salvação pela graça única e exclusivamente pela fé, destituída do discipulado pode levar a tal equívoco e acomodação na caminhada cristã. Jesus sempre impôs condições para aqueles que quisessem caminhar ao seu lado. Seguir a Jesus sempre implicou em renúncia, em morte do próprio eu para que Cristo cresça em nós. Jesus chegou inclusive a impor condições particulares a determinadas pessoas, como a de que o jovem rico deveria vender seus bens e distribuir.

Não podemos nos descuidar da comunhão com Deus. Se nos dedicarmos demais, mesmo ao estudo, à escrita, etc, ainda que sobre temas cristãos, ainda assim corremos o risco de estarmos direcionando mais o nosso amor para as obras de nossas mãos do que para o autor de todo o bem. Portanto, cada um de nós deve examinar a si mesmo, se por acaso não estamos concentrando demais o nosso amor em determinada coisa e retirando-a de Deus.

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