Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos (Mateus 5.6).


Vejo toda a espécie de revolucionário citar este versículo para tentar “chamar Jesus para a sua própria causa”. Legitimam todas as formas radicais de atitude revolucionária ou social, sob a bandeira de que estão fazendo justiça, estão sedentos por ela; seja a distribuição forçada de bens e propriedades, seja o fim de um governo opressor, etc.

Entretanto, se analisarmos o sermão da monte, veremos que Jesus não é este tipo de revolucionário. Qual destes seria capaz de “dar a face ao que o fere”, ou, caso alguém queira lhe tirar a túnica, dar-lhe também a capa?

Aqueles que têm fome e sede de justiça, em minha opinião, são aqueles que reconhecem que não possuem nenhuma justiça própria diante de Deus. Reconhecem-se como injustos diante de Deus, e clamam, para que, diante d’Ele e por Ele, sejam justificados.

O aspecto objetivo desta questão é o sacrifício de Cristo que foi feito em nosso favor, e o acesso que temos a esta graça é a nossa fé. Subjetivamente, isto se expressa em uma atitude de confiança em nosso Redentor. É por isso que, juntamente com a Igreja antiga, continuamos continuamente a clamar “Kyrie Eleyson”, ou seja, “Senhor, tem piedade de nós”, “tem misericórdia de nós. Pois é somente a presença de Deus em nossas vidas que nos justifica, e que também nos torna justos (em nosso caráter). É a justiça que nos livra dos laços da maldade e da injustiça que, não raras vezes, começa dentro de nós mesmos.

Com isso, não se quer dizer que o cristão não se deva envolver nas causas que demandem o cumprimento da justiça, principalmente no que tange à sua voz profética na sociedade. Mas o que o discípulo precisa saber é que a sua luta não é contra a carne e o sangue, por isso, não trata os homens como inimigos. De qualquer modo, é a presença interior de Deus nele que lhe dá a certeza de que está justificado. Por isso, cristão nenhum pode descansar enquanto não obtiver esta certeza real de que, agora, justificado em Cristo, pode ter paz com Deus (Rm 5.1). E é neste sentido, o da justificação diante de Deus, que os cristãos poderão ser, ainda neste mundo, fartos; mesmo que a injustiça ainda prevaleça no mundo.


Mas quero enfatizar que, não obstante esta análise sistemática, que está de acordo com a doutrina protestante da justificação, fato é que não quero isentar também a interpretação mais ampla no sentido de que o discípulo deve ser alguém sedento para ver a justiça se cumprir neste mundo. Justiça por melhores condições sociais, mínimas para a sobrevivência de todos. Que a ética e o amor possam prevalecer em toda a sociedade. Isto deve angustiar o cristão, que de modo algum virará as costas para tais questões, pois vive o seu discipulado no mundo. Os protestantes criticam o monasticismo, mas de modo geral, criaram um outro tipo de modo de retirar-se do mundo. Fazem isso em forma de "gueto", de forma "igrejeira". As coisas do mundo para eles não importam muito. Basta serem bons frequentadores de igreja, estarem de acordo com a doutrina de sua denominação, ou com as ordens de seus pastores. Mas se esquecem que até João Batista, que vivia no deserto, exortou o hipócrita governante acerca de sua conduta matrimonial pecaminosa, bem como instou aos soldados para que não fossem corruptos, e aos cobradores de impostos que não tomassem mais do que lhes era devido. Ou seja, alguém que, embora no deserto, influenciou a vida na cidade, não se isolando do mundo. Assim também Jesus, diante dos políticos da época, os fariseus, não deixou de proclamar a justiça do reino. Assim também nós devemos estar envolvidos, na medida da força que tivermos, nas causas de nosso mundo, de nossa sociedade, com verdadeira sede para criar um ambiente mais justo e acolhedor, para que vivamos todos em paz, pois isto é agradável, tanto a Deus quanto a nós mesmos. O exemplo dos profestas vétero-testamentários a isso nos leva. A lutar por justiça social, a causa do pobre, do órfão e da viúva, é sempre agradável a Deus. É este o jejum que Ele escolheu...

Comentários

  1. Existem muitas pessoas que sonham com um mundo feliz para todos, onde não houvesse tantas desigualdades sociais, morais e intelectuais. E as diferenças fossem superadas com o esforço nobre, o trabalho construtivo, com a valorização da educação, com a fraternidade, com mais justiça social, e com pessoas sensatas nos governos dos povos humanos.

    As diferenças ocasionam sofrimentos variáveis entre os seres pensantes. Uns sofrem por cupidez; outros sofrem revoltados com as situações desagradáveis; outros sofrem porque fazem os outros sofrerem. E, entre todas as condições que geram sofrimentos há aqueles que buscam as respostas racionais para as razões do sofrimento humano, é esses que têm fome e sede de justiça porque lutam consigo mesmo para renovarem os seus entendimentos sobre as questões do existir dentro do programa de crescimento para Deus.

    Na nossa caminhada evolutiva para o Reino de Deus, e com Jesus, ninguém fica sem esclarecimentos ponderados sobre a Justiça Divina que rege as existências dos seres inteligentes, e com certeza seremos fartos, saciados de consolações luminosas sobre as questões e razões do sofrimento humano.

    Bem-aventurados os que têm fome e sede justiça, guarda profunda conexão com aqueles que se enquadram nos bem-aventurados os que choram... Uma vez que alma é consolada em suas aflições, ela é também intensamente saciada em suas interrogações sobre a Justiça Divina, com lucidez.

    Se na existência terrestre, muitas vezes não encontramos a retidão perfeita que nos proporciona uma felicidade saudável nas relações entre os povos humanos, e isso ocorre em virtude da consciência individual que integra a consciência popular não estar ainda cristianizada dentro da moral saudável do Mestre Jesus. A boa nova de Jesus foi anunciada numa época em que os povos eram na maioria bárbaros em seus costumes, e esse conjunto de ensinamentos foi revelado para fazer o homem se sentir bem, na Terra, para conquistar definitivamente a felicidade completa e durável na vida imortal do espirito.

    Na maioria dos seguimentos da existência humana o que ocorre é que as pessoas firmam os seus interesses somente na busca de tesouros temporais que a traça e a ferrugem destroem (Mateus 6. 19-21), esquecendo-se dos objetivos superiores da vida celestial; pois toda conjuntura humana é como se fosse apenas um aprendizado passageiro que proporciona mais experiência e maturidade espiritual que deve despertar os valores imortais da alma para as beatitudes inalteráveis da vida celestial – “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”

    http://vozqclamabr.blogspot.com.br/2014/06/bem-aventurados-os-que-tem-fome-e-sede.html
    VOZ
    Q
    CLAMA
    http://vozqclamabr.blogspot.com/
    Intensivo de Difusão Espiritualidade Evangélica – IDE

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Mais vistas do mês

Toda a Reforma em apenas dois versículos

Uma reflexão acerca do Salmo 128

Quem não dá o dízimo vai para o inferno?

A triste história do rei Asa

Ananias, o discípulo que batizou Paulo

A impressionante biografia de William MacDonald

José do Egito - um exemplo de superação

A Conversão de Zaqueu (Lc 19)

Uma comparação entre Zacarias e a Virgem Maria

Os "logismoi"