Graça barata X Graça preciosa II

Ainda medito nas palavras de Dietrich Bonhoeffer, em sua obra, Discipulado, quando faz diferença entre graça preciosa X graça barata...

Outro dia, vi um rapaz, em seu primeiro semestre de teologia, preguiçoso que só, dizendo que não importava o quanto fosse estudar, jamais aprenderia o suficiente...

Outra coisa, seria ouvir o ancião Dr. Russel Shedd, ou ainda, o Pr. Ariovaldo Ramos, dizendo que, não importa o quanto tenha estudado, o que ainda há a se aprender é muito mais...

Uma coisa era ouvir de um oficial luterano, simpático ao nazismo, dizer que a salvação era unicamente pela graça, mediante a fé...

Outra coisa, era ler, escrito da prisão, das mãos de Bonhoeffer, que, teve licença de ensinar cassada, seminário fechado, perseguição, prisão em campo de concentração por enfrentar o nazismo, e ainda assim dize que a salvação era pela graça e que não mereceria a salvação...

Uma coisa é ouvir aquele que vive regaladamente, em orgias, descompromisso, dizer que nada pode fazer para mudar sua condição, mas que ainda assim tem fé...

Outra coisa, é ouvir do discípulo, que, ainda que esforçado, lutador, batalhador, tenta vencer a si mesmo mas percebe que tem em si uma outra lei que lhe faz fazer, muitas vezes, aquilo que não quer, e aquilo que quer, acaba ficando para depois, chegando a conclusão que, se Cristo não o libertar, ele não será verdadeiramente livre...

Chego assim a conclusão, não somente por experiência pessoal (pois não passo de um limitado), mas também da experiência dos santos que, por mais que se faça em termos de discipulado, catequese e caridade, não há quem chegue a conclusão de que finalmente se tornou merecedor do reino dos céus...

O próprio Paulo, no fim de sua vida, quando escreve a seu filho na fé, se apresenta como o "maior dos pecadores"....

Na própria auto-biografia de Francisco, no final de sua vida, ia se sentindo mais indigno do que antes... (ainda que, visivelmente, aumentassem suas obras de santidade).

Chego a conclusão, portanto, que se a salvação não for por graça, mediante a fé, não poderá ser por mais nada...

Ainda creio (e, com a ajuda de Deus, continuarei crendo) no sacrifício expiatório de nosso Senhor. Que ele se fez humano para que o homem possa se tornar divino (Atanásio) e que é o sangue de Cristo que nos purifica de todos os nossos pecados. Ainda sustento em meus ensinamentos que Jesus morreu para nos dar vida, a do santo pelos pecadores, o segundo Adão, sem o qual ninguém poderá se salvar.

Caso contrário, bastava Deus mandar um manual lá do céu, dizendo faça isso, ou faça aquilo, e depois somava e subtraia os pontos...

Mas não dá... Tente viver o sermão da montanha em sua integridade, tente viver o evangelho em sua integridade, cada dito de Jesus, bem como dos santos apóstolos, e verá outra lei guerreando dentro de você, sua "sarx" (carne) gritando e protestando violentamente contra as obras do Espirito...

Agora, isso não significa que não vamos tentar (graça barata). Vamos tentar, ou morrer tentanto, ainda que tenhamos que ser entregues a morte todos os dias por amor D'Ele, pela misericórdia d'Ele, e pelo amor d'Ele por nós. Vamos sim, derramar nossas lágrimas, clamando por misericórdia, ainda que nos sintamos, muitas vezes, secos como gravetos, quando, com os olhos caídos, no mar bravio, nos distraímos com nossa pesca enquanto Jesus espera por nós na beira da praia...

Isto porque, por mais falhos que somos, não iremos baratear a graça, promover a desgraça. Junto com toda a igreja vamos clamar "Kyrie eleyson", Deus tenha piedade, clamar para sermos revestidos de Cristo, e, ainda que em meio a uma cristandade para muitos decadente (e será que na maior parte da história, não esteve mesmo decadente, ainda que com louváveis exceções?), tentarmos ainda levar a bandeira de Cristo para os que estiverem ao nosso redor.

Deus tenha piedade de nós, e de mim, um grande pecador.

Carlos Seino.

Comentários

  1. O triste de tudo isso caro amigo, é que a Alemanha, um país que se julgava e dizia Cristão, essa Alemanha com milhões e milhões de alemães entedeu tudo como o oficial alemão e não como Bonhoeffer.

    Admiro o testemunho de Bonhoeffer que em sua piedade tirou deduções santas dum princípio, que eu, de minha parte creio ser errôneo.

    Um Santo, inconsequente, como tantos e tantos, alguns inclusive amigos meus.

    O demais alemães foram consequentes, exercendo seu luteranismo, pois quem já está salvo, está salvo...

    Meus máximos respeitos!

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