O que de fato separa o Cristão de Cristo? Os complexos da Cristandade.

Se existem de fato duas categorias de pecado: uma que nos separa de Cristo e nos mata espiritualmente> o pecado que é para a morte e uma que não nos separa de Cristo > o pecado que não é para a morte, temos que distinguir perfeitamente uma da outra, já para negar que o homem se salve no pecado, ou seja no pecado para a morte, já para admitir que a impecabilidade comporta a possibilidade de virmos a cometer faltas ou pecados leves que não são para a morte.

É pois a impecabilidade relativa, relativa a gravidade do pecado e a suas consequências e não absoluta ou utópica, embora devamos perseguir este belo ideal da impecabilidade absoluta ou da perfeição neste mundo. Se por um lado regeitamos o antinominiasmo como sendo a maior afronta e o supremo vitupério lançado em face ao Supremo Instrutor, por outro lado devemos ser honestos e realistas...

Falando francamente, o sr crê na possibilidade do homem evitar tambem os pecados veniais e de grangear a impecabilidade absoluta?

Se levarmos em conta a vida do fiel em toda sua extenssão já nos tempos de ignorância, já nos de tibieza, devo confesar que não. Agora se se considera um estádio, o estádio final da vida Cristã, o último termo de sua jornada e o apice de seu desenvolvimento em Cristo, minha fé me obriga a confesar que sim.

Sim, creio que uma pessoa pode crescer em Cristo e nele desenvolver-se até deixar de cometer qualquer tipo de pecado de modo que o Verbo venha a encarnar-se nela como se encarnou e viveu em Paulo, ao menos no fim de sua carreira... Julgo que Pedro, Paulo, João, Clemente, Origenes, Francisco, Vicente, Wesley, Schweitzer e outros homens ilustres não mais pecaram de forma alguma a partir de uma determinada fase de suas vidas e que esse é o termo sobrenatural da Vida Cristã em sua autenticidade...

Creio que é o ideal mais belo a ser alcançado e já antevisto pelo grande Sócrates: o justo que não acomete mal a quem quer que seja!!! Nem mesmo a sí próprio, logrando atingir uma santa ataraxia em face do mal...

Creio que Cristo concende o Logos sem medida para plasmar sua imagem nos seres mortais e diviniza-los conduzindo-os ao Pleroma e restabelecendo o universo em seus fundamentos perpétuos. Creio que é dado ao fiel crescer em Cristo sem limites e desenvolver-se plenamente nele...

Não creio numa amizade divina sob medida ou numa comunhão mesquinha e limitada com Cristo, creio na possibilidade duma comunhão totalizante com ele.

Mas assusta-me o fato de que quando Pelágio, Wesley e outros fizeram tal afirmação a Cristandade toda melindrou-se e denunciou-os como heréticos... devo confesar que sinto-o na pele, mas não me importo... Ja superei a fase do medo há muito tempo.

Aquele a que deveria temer porque é todo pderoso, diz-me justamente para não teme-lo porque é Amor.

Temer o homem que hoje vive e amanhã baixa a sepultura é suma tolice, mormente quando não lhe é dado, nesta bendita era, torturar-nos para convencer-nos de que esta certo... Paus e pedras certamente podem quebrar meus ossos, mas palavras más...

Porque a Cristandade se escandaliza da virtude, do bem e da perfeição, da graça util e não se escandaliza do pecado?

Porque a Cristandade se compraz em denunciar a possibilidade duma estabilidade espiritual - auferida pela graça - no cumprimento da lei divina e em afirmar o pecado, inclusive o mortal, como uma necessidade metafísica ou um destino inevitavel?

Jamais atinei com isso...

Imaginava que a Cristandade exultaria com o bem e com uma boa mensagem com uma mensagem de vitória e de ressurreição espiritual para todos os dormentes... mas a cristandade prefere crer que a vida do cristão é uma sucessão interminavel de mortes e ressurreições diárias...

Creio que Cristo, em si e nos seus: ressucitado já não pode morrer mais...

Nesse Cristo que triunfa do mal, da morte e do pecado creio, no outro, que convive lado a lado com os pecados mortais, nesse me recuso a crer. Eu não adoro um ser que não dispõe os homens para o cumprimento do que lhes pede: sua lei e tampouco adoraria um Deus sem lei, supremo anarquista que dispensa os homens do bem e absolutiza o dom da liberdade...

Divaguei... as vezes é necessário desabafar onde nos dão espaço.

Na ortodoxia jamais me foi concedido tal espaço... pago pelo preço de levar minha ortodoxia até o fim, ao invés de aderir a fábulas inventadas no século XIII ou de engolir as pílulas romanas e protestantes que a neoortodoxia dourou...

Voltemos ao pecado ou melhor aos pecados, as duas categorias de pecados e a questão de como podemos distinguir uma da outra...

Questão assaz delicada que só podemos resolver mergulhando de cabeça nas fontes, a começar pelo Decalogo dos hebreus e depois passando ao Evangelho - a mais cristalina e pura de todas as fontes - ao Novo Testamento, aos padres ante-nicenos e a Igreja pós nicena.

No Decalogo, que é o coração da velha lei e a única parte dela que permanece viva - porquanto expressa uma vontade eterna, padrão de todas as consciências pessoais - nos deparamos com duas partes: uma parte positiva válida apenas para hebreus e Cristãos referente ao monoteismo e ao dia do culto divino... Tais valores inda que transcendentes não são facilmente captados e discernidos pela consciência e por isso devem ser necessariamente expressos por um decreto positivo da divindade.

Já os demais valores referentes a vida, aos bens, a verdade, a fidelidade, a gratidão, etc esses pertencem a lei natural e podem sem dificuldade ser captados por todos os seres humanos enquanto principios, embora sua aplicação de margem a confusões.

Foi dito por alguns que os selvagens não tem qualquer noção de amor para com os pais ou idosos, imolando-os quando se encontram assaz debilitados ou devorando seus corpos após a morte.

Tal alegação é falsa e superficial.

Pois o selvagem imola o idoso justamente para liberta-lo da faina de caminhar com o grupo, o que para ele representa um sofrimento terrivel, imola-o porque não há medicina que possa cura-lo (pratica intuitivamente a eutanásia), imola-o porque a tradição da tribo apresenta tal ato como benemerente. Devora-o enfim para evitar que seu corpo se transforme em pasto de vermes - o que para o selvagem é algo de desonroso - e para assimilar as virtudes que nele admira e cobiça.

Portanto todos os atos que faz e que consideramos pecaminosos, executa-os porque considera-os virtuosos e porque deseja cumprir o quarto mandamento, ou seja, honrar seus maiores. Para ele, o selvagem, proceder de tal forma é uma prova de amor e gratidão enquanto proceder como nós procedemos para com nossos pais, seria para ele um sinal de ódio para com aqueles que nos comunicaram a vida.

De modos e formas diferentes, porque sua mentalidade é diferente e também o seu modo de vida, o selvagem também reconhece e cultua os valores contidos e expressos pelo decalogo. O que muda não é o princípio - divino - mas o geito - humano - de aplica-lo.

Observemos agora cada preceito do decalogo para ver se encontramos algum elemento comum ou por assim dizer, o espírito mesmo do decalogo, porquanto o espírito esta muito acima da letra vivificando o homem. A letra morta muitas vezes lho escraviza e faz dele um fariseu...

Emprego a versão protestante e não a romana que é artificiosa e vã.

1) Honrar pai e mãe.

É normativo que o homem encerra e cumpre em si mesmo ou que esta voltado para fora de si, digo para o outro?

É normativo externo que tem em vista os pais, tutores, superiores, idosos, etc

Não tem seu fim ou término no agente.

2) Não matar.

Não matar quem:

A sí?

O judaismo apóstata e a pseudo Cristandade conderam irremissivelmente o suicidio...

Entretanto tal condenação não se encontra expressa em qualquer parte da Torá ou dos profetas ou mesmo do Ketubim.

Pelo contrário seis narrativas de suicidio há nos livros dos judeus e nenhuma comporta condenação.

Conclusão: este matar esta voltado para o outro, para o próximo ou para o semelhante e seu sentido é absoluto.

Corrija-me o Dr Seino caso eu esteja errado, pois toda lei deve expressar claramente os atenuantes por meio de termos que restrijam seu alcance e aplicação. Nada porém é acrescentado a este inciso...

Declara pura e simplismente: não matarás e sem restritivo que lho acompanhe...

Condena pois as guerras, o regime de mercado, a pena capital, etc tudo quando a Cristandade ousa tolerar.

3) Não roubar.

Ninguém rouba a si mesmo, pois o fruto de seus trabalhos e esforços lhe pertencem, o roubo esta pois voltado para o outro ou o próximo, é inciso externo e não interno ou individual.

4) Não adulterarás. ou kleyeiV ( LXX ) - no NT e Didaké vertido por adultério.

É POIS ABSOLUTAMENTE FALSA E MENTIROSA QUALQUER TRADUÇÃO OU VERSÃO QUE COMO AS PAPISTAS TRAGA 'NÃO PECARÁS CONTRA A CASTIDADE' procurando dar a este inciso uma abrangência maior do que a que lhe foi conferida pelo hagiografo e apresenta-lo como pertinente a sexualidade pessoal.

O inciso alude claramente ao ato de trair ou de ser infiel para com o conjuge.

É pois mandamento externo voltado para o próximo ou o outro e não para a sexualidade em si mesma.

Voltaremos a este texto e a sua falsificação pela igreja nos artigos subsequentes quando analisarmos a infiltração do maniqueismo e o individualismo na moral Cristã.

5) Não invejar (os bens do próximo)

Posto esta que tal mandamento também não esta voltado para o homem apenas e sua personalidade isolada, mas para o próximo ou o outro.

6) Não darás falso testemunho (não mentir)

Evidentemente que não devo dar falso testemunho sobre alguém...

Portanto este derradeiro mandamento também não se esgota no agente. Está voltado para o próximo.

CONCLUSÃO SOBRE O ESPÍRITO DO DECALOGO:

Nenhum de seus incisos diz respeito a atos individuais que se esgotam em si mesmos: masturbação, suicidio, embriaguez, fumo, vestimentas, etc

O Decalogo não aborda costumes, antes pauta-se como começo ao fim pela ALTERIDADE.

O Espírito do Decalogo tem em vista condenar como pecado TODO MAL QUE SE FAZ AO PRÓXIMO.

O PRÓXIMO É O CRITÉRIO SUPREMO DE BEM E MAL NO DECALOGO.

Ele determina o que NÃO se deve fazer ao próximo e não toma em considerações os gostos, costumes, culturas ou atos puramente individuais que se finalizam e esgotam em si mesmos sem atingir ou causar dano seja ao outro ou a comunidade.

Continua.

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