Domingo de Ramos!



Pena que uma boa parte dos evangélicos ignore o Domingo de Ramos. Alguns, em sua ignorância, chegam até a alegar que isto é coisa de católicos. Por essas e outras, as celebrações evangélicas da Páscoa estão cada dia mais pobres, limitando-se a comemoração do Domingo da Ressurreição. Assim, não apenas o Domingo de Ramos, mas até mesmo a Sexta-Feira da Crucificação está sendo ignorada. Um absurdo, pois o tema central do Evangelho é a mensagem da cruz (1 Co.2.2).

Até mesmo, por uma questão pedagógica, é interessante aproveitar as datas festivas para comunicar o seu significado. Por exemplo, um culto temático com canções, mensagem e, até mesmo, "ramos", no dia da celebração do Domingo de Ramos ajudará a fixar a mensagem bíblica.

Domingo de Ramos! Dia em que celebramos a Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém, quando uma multidão, festiva, o recebeu como o tão esperado Messias. Eufórico, o povo, carinhosa e respeitosamente, espalhava seus próprios mantos, juntamente com ramos de palmeira pelo caminho em que Cristo havia de passar, e aclamava a Jesus com imenso júbilo, dizendo: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas” (Mt 21.9; Lc 19.38)!

Os fariseus, incomodados, pediram que Jesus mandasse parar aquela adoração, mas Jesus respondeu: “se eles se calarem, até as próprias pedras clamaram”, visto ser aquele um momento sem igual, quando as profecias messiânicas estavam se cumprindo: “alegre-se muito, cidade de Sião! Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo, vitorioso e humilde, montado num jumentinho” (Zc 9.9)!

Interessante que ele tenha entrado montado sobre um jumentinho, algo incomum para um rei, pois os reis faziam questão de ostentar poder e glória. Jesus, se quisesse, poderia ter se imposto aos homens pela força do seu poder, mas não quis que fosse assim. “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor” (Zacarias 4.6). Ele não quis se impor pela força, pois decidiu cativar pelo amor (Jo 12.32-33)! Sendo o próprio Deus, esvaziou-se de sua glória para identificar-se com nossa fraqueza (Fl 2.7), revelou-se como servo sofredor (Is 53), que carrega a sua cruz (Jo 13.1; 19.17) e dá a vida pelos seus amados (Rm 5.8). E, mesmo quando chegou a hora de apresentar-se como Rei, em sua entrada em Jerusalém no Domingo de Ramos, Jesus não entrou montado num cavalo portentoso e cheio de pompa e nem estava acompanhado de um forte e ameaçador exército, mas escolheu entrar de maneira humilde e mansa montado num jumentinho.

Sendo Senhor, Jesus foi humilde e assumiu a condição de servo, chegando até a lavar os pés dos discípulos (Jo 13.4-5). Ele não foi dominador e nem tirano, mas procurou cativar pelo exemplo. Não constrangeu os seguidores pela força, pois seus discípulos sempre foram livres para escolher e até mesmo desistir de segui-lo. Portanto, Jesus jamais quis se impor pela força, antes escolheu atrair seguidores através de seus atos de amor, que é uma eterna fonte de inspiração vocacional (2 Co 5.14).

E é por seu grande amor que Jesus está entrando em Jerusalém, pois ele bem sabe que está a caminho da Cruz. Ele está disposto a dar sua vida para salvar os que estão condenados ao castigo eterno (Jo 1.29; Rm 8.1). Jesus, o justo, na Sexta-feira daquela mesma semana, assumiria o nosso lugar e cumpriria a nossa pena para que pudéssemos ter acesso ao perdão e a vida eterna (Is 53.5-11).

Ao avistar Jerusalém, Jesus chorou com pena dela e disse: “Ah! Jerusalém! Se você pudesse reconhecer aquele que pode te trazer a paz! Mas, infelizmente, os teus olhos estão tapados” (Lc 19.41-42). Jesus lamentou a cegueira espiritual de Jerusalém e segue chorando hoje por tantos que ainda estão em trevas, ignorando e desprezando sua única esperança que é o Salvador. “Eles têm olhos para ver, mas não vêem, e ouvidos para ouvir, mas não ouvem, pois são uma nação rebelde” (Ez 12:1-2).

Em outra ocasião, Jesus já havia feito um lamento semelhante: “Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes” (Lc 13.34)! Repare que Jesus quer acolher a todos como filhos, mas não contra a vontade deles, pois Deus respeita a vontade dos homens; Afinal, foi Ele mesmo quem lhes concedeu poder de decisão. Também observamos isto na parábola do Filho Pródigo, que tem liberdade para deixar a casa do Pai e ir para um lugar distante (Lc 15.12-13). O Pai chora de tristeza a atitude rebelde do filho e as danosas consequências que isto acarretará para o jovem. Ele não quer que o seu filho sofra, mas respeita as escolhas do filho, pois não quer um filho contrariado em casa, no entanto, esperançoso, ainda o aguarda de braços abertos (Lc15.20).

Como o Filho Pródigo temos liberdade de ir e vir, de ficar longe e de regressar para casa. Assim como aquele povo de Jerusalém, diante de Jesus, cada um de nós tem também hoje a liberdade de exclamar “Hosana” ou gritar “crucifica-o”.


“Que farei de Jesus chamado Cristo?” (Mt 27.22)


Pr. José Ildo Swartele de Mello

Comentários

  1. Excelente texto! De fato, nós, evangélicos, precisamos resgatar algumas festas, algumas comemorações, etc.

    Bom ouvir isto de um bispo e pastor evangélico. Ainda há esperança!

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  2. sou pastor e todo ano faço essa cerimônia biblica.

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