Minha apologia ao bom protestantismo > Corolários






- Da correta postura do Cristão perante as outras religiões e correntes espirituais I












O ser humano parece amar os extremos e ser extremista por natureza.




Sempre que possivel endeusa o que lhe convem e sataniza o que lhe desagrada.




Pouco humaniza com serenidade de espírito e isenção de ânimo.




O Filósofo sem embargo afirmou que os extremos se tocam...




Faz-se mistér pois superar os extremismos num continuo esforço dialético.




Naquele campo da espiritualidade Cristã pertinente a relação com as demais religiões e credos predominam duas posições extremistas e antagonicas:




A um lado temos aquele extremismo grosseiro que encara todas as outras crenças e religiões como inventadas pelo Demônio e seus adeptos todos como réprobos ou condenados as perpétuas chamas do inferno querido.




Como fruto desta opinião fanática temos a intolerância religiosa até a violência e a supressão da vida: aqui é o Papa que faz arder Savonarolla, ali é Calvino que faz supliciar Servet, acola é o professor Scops sendo enquadrado por ensinar a evolução, mais a frente um grupo de pentecostais depreda a um centro de umbanda e Bento XVI tece as mais disparatadas calúnias ao Islan...




Bem fez o Ocidente em tirar o poder das mãos deste tipo de gente. Do contrário este pobre mundo continuaria sendo o que foi durante centenas e centenas de anos: uma açougue...






Entrementes, desta postura incompativel com o espírito do Evangelho surgiram duas outras, diametralmente oposta a primeira, porém igualmente inaceitaveis:




Refiro-me já ao sincretismo, já ao ecumenismo...




No primeiro detectamos por vezes um ceticismo institucional e, outras vezes um desbragado relativismo, sempre a serviço do individualismo.




Por ceticismo institucional queremos dizer que muitas pessoas já não confiam naquelas organizações ou instituições religiosas que se apresentam como orgãos da revelação divina e que lhes propõe um símbolo de fé adrede confeccionado.




Entretanto essas mesmas pessoas entreteceram certas relações pessoais ou sentimentais com relação a certos elementos ou artigos dos símbolos oferecidos.




Diante disso recortam tais artigos ou elementos duma religião, outros tantos de outra e assim por diante tecendo suas colchas de retalhos.




É o self service da fé...




Entretanto na maioria das vezes tratam-se de elementos dispares ou logicamente opostos e inconciliaveis...




Num determinado momento algumas delas percebem que construiram seu próprio sistema ou religião, diferente de todas as outras...




E chegam a pensar que são aos únicas depositárias da verdade da face da terra...




Outras afirmam que todas as religiões ensinam a mesma coisa...




Embora o Cristianismo seja trinitário enquanto o judaismo e o Islan são unipessoais.




Outras sustentam que todos os caminhos levam a Deus...




Sem se perguntar se Deus sendo único como é não lhes nivelou um único caminho.




Outras enfim alegam que todas as religiões são boas.




Comportam entretanto a mesma medida de bondade?




Acaso era boa a crença dos Tugs cujo culto consistia em estragular e roubar viajantes?




Será boa, digna e justa um sistema que separa as pessoas em castas?




Uma religião que afirma a existência de um único povo eleito por Deus, logo especial ou privilegiado com relação aos demais será boa?




Um sistema que condene os avanços da biologia ou da medicina com base em escrituras arquicentenárias será bom?




Tais as confusões do sincretismo.




Oriundas do relativismo e do individualismo.




Quanto ao segundo, o ecumenismo, consiste em minimizar as diferenças existentes entre as diversas religiões ou entre as vertentes duma determinada religião.




Uma coisa é dizer que parte das religiões possue um objetivo comum que é a promoção do Ser humano numa perspectiva ética e que seus membros não só podem como devem colaborar uns com os outros tendo em vista esse objetivo comum.




Outra bem distinta é afirmar que as diferenças credais existentes entre elas são inexistentes ou irrelevantes.




Que não sejam essenciais concedo, agora que sejam irrelevantes discordo. Sem serem essenciais - ao menos quanto ao Cristianismo - são sem embargo importantes especialmente na medida em que a doutrina ou a crença influência a ação ou o comportamento ético do profitente.




Que todas as religiões em absoluto estejam comprometidas em promover o fenômeno humano não corresponde aos fatos: pois propor soluções mágicas ou imediatistas no que diz respeito a melhoria das condições humanas na imanência - como fazem as religiões primitivas e pentecostais - serve antes de obstaculo a promoção da dignidade humana na medida em que oculta as verdadeiras causas dos problemas que afetam a sociedade e impede que as pessoas tentem soluciona-los com aquilo de que efetivamente dispoem... Trata-se pois duma religiosidade que mascarando as causas e soluções para os problemas que afligem o homem, alienam-no e oprimem-no.




Algumas delas como a umbanda ao menos são honestas se apresentam a si mesmas como amorais... a outras entretanto...




Religiões há que sustentem determinismos de ordem espiritual como: maldições, feitiços, destino, predestinação, etc Segundo seus líderes os homens nascem com futuro escrito e pouco ou nada podem fazer para altera-lo (fatalismo). Convem aceitar passivamente a vontade de deus ou dos deuses ou o castigo temporal do pecado pois toda e qualquer tentativa do sugeito tentar mudar sua história é rebelião ou sacrilégio...




Que humanismo pode haver em tais sistemas bom apenas para escravocratas?




Religiões há que dum modo ou de outro desprezam a matéria ou o corpo alegando que a salvação é para o espírito apenas... Disto decorre que seus adeptos não deem qualquer atenção a este mundo e a suas condições ou que tratem seus próprios corpos com desleixo... Onde há humanismo nisto, onde há promoção do homem integral nestas teorias?




É pois absolutamente falso que todas as religiões estejam engajadas na promoção do Ser humano, muitas há dentre elas que merecem ser classificadas como anti-humanas, como desumanas e como opressoras.






Quanto as demais formar religiosas, que com mais ou menos intensidade vindicam e promovem a diginidade dos seres humanas, urge confesar que em termos de doutrina apresentam diferenças cruciais e inconciliaveis e que tais doutrinas como já foi dito estão revestidas de mais ou menos importancia na medida em que determinam as ações e operações de seus adeptos.




Quando digo: com mais ou menos intensidade quero dizer que uma seita que afirma a Santidade de um homem que habita num palácio com onze mil aposentos, certamente que não se empenha muito em provomer a dignidade dos seres humanos, o mesmo se pode dizer duma seita que diga a seus adeptos para lerem apenas e tão somente um determinado livro ou que ele seja verbal e plenamente infalivel de cabo a rabo...




No que diz respeito as diferenças doutrinárias temos que considerar por exemplo que determinados grupos afirmam a absoluta transcendencia de Deus enquanto o Cristianismo sustem a transcendência/imanencia ou a encarnação de Deus que se faz também homem em Cristo Jesus.




Qual dentre eles esta mais próximo do fenômeno humano a ponto de de alguma forma diviniza-lo em Jesus?




Qual esta mais apta a vindicar a salvação do homem como um todo ou seja no que tange não só ao espírito invisivel mas tambem quanto ao complemento visivel do corpo?




Alguns afirmam que não há esperança para o corpo enquanto o Cristianismo afirma que este corpo ressuscitará (não o mesmo corpo as forma do corpo segundo o gêne).




Tendo em vista o dogma da ressurreição qual das formas em questão acabará por valorizar mais o corpo humano e por insistir na salvação do homem como um todo?




Tenho pois por demonstrado que as diferenças em matéria de doutrina não são de todo irrelevantes (embora não sejam igualmente essenciais) mas importantes conforme exercem impacto no carater e nas atitudes do sujeito.




Tomemos por exemplo uma seita que afirma que a graça capacita o homem para o bem, para a santidade e a impecabilidade real inclusive e uma outra que afirma que o homem se salva em seus vícios, crimes e pecados pela imputação externa ou meramente jurídica do sangue de Cristo.




Alguém terá a coragem de dizer que tais doutrinas não produzirão efeitos totalmente opostos no corpo social?




Lutero que o diga pois reconheçeu que após a pregação do solifideismo: "O mundo aos poucos tornou-se pior, sempre mais ímpio e descarado e os homens mais AVARENTOS E IMPÚDICOS que sob o papado. Por toda parte só dá cobiça, intemperança, luxúria, desordens vergonhosas e paixões horriveis." in Doellinger "Reformation" I, p 289




A pregação de Patrício muito pelo contrário converteu a Irlanda numa ilha de Santos, como ficou reconhecida por séculos. Dentre os saxões o anúncio do Evangelho pelos Bispos Ortodoxos no século IX resultou poder se deixar uma veste pendurada sobre um árvore a beira de um caminho e encontra-las no mesmo local anos depois!!!




Tais os frutos do verdadeiro Evangelho e da santa doutrina!




Consideramos pois que nem todas as religiões estão a favor da causa do humanismo e que as diferenças de doutrina entre as que são favoraveis a sua causa não deixam de influir sobre a produção dos resultados concretos.




O ecumenismo não possui tal percepção, caminha a passos largos para o relativismo e dá suporte ao sincretismo beócio.




Quanto as tão decantadas orações em comum ou como dizem cultos ecumênicos acabam por relativizar e logo por destruir a fé tanto entre romanos e ortodoxos quanto entre protestantes segundo temos observado. Confundem as mentes dos simples e conduzem sutilmente os mais instruidos a indiferença e ao agnosticismo...




Assim parte da clientela torna-se sincrética ou como se diz hoje esotérica (dai o imenso sucesso obtido nos ultimos tempos pela teosofia e instituições congêneres) e parte incrédula ou indiferente.




Julgo que tais reuniões sejam destrutivas e que envenenem a sã espiritualidade. ~




Que alguns leigos ou fiéis em certas circunstâncias - expontaneas e fortuitas (acidentes ou catastrofes) - se associem a pessoas de outras crenças e dirijirem uma oração comum ao Pai, movidos pelo amor e a bondade, penso que seja até mesmo uma ato meritório perante Cristo.




Pois ele deseja que nessas situações saibamos confortar os que choram.




É assaz conhecido o exemplo de Maomé que acompanhou - com grande escandalo para os fanaticos que o cercavam - o féretro de um judeu! Não sejamos pois inferiores a Maomé!




Agora que os próprios líderes religiosos se congreguem e misturem é para nós um mau exemplo.




Da parte da religião institucional, visivel, sacramental e sacerdotal aderir a outra forma qualquer de oração pública é e sempre será uma apostasia, exceto nos casos extremos acima registrados.




Disto tem resultado inclusive que algumas pessoas passem a frequentar cada domingo uma organização diferentes ou que se ponham a estudar sem método tudo o que é doutrina religiosa com prejuizo, das forças, do tempo e as vezes até mesmo da sanidade mental.




Outros - no caso protestantes - sem procurar a verdade vão cada semana a uma instituição diferente pelo simples gosto da novidade jamais criando vinculos num lugar ou prestando serviços conforme a orientação da liderança.



Penso que a atitude imprudente dos líderes religiosos é a principal causa do confusionismo espiritual e da instabilidade religiosa que caracterizam nossa geração.



Convencido de que tudo e bom e de que tudo poder ser conciliado um número cada vez maior de pessoas tem demonstrado entusiasmo pela mixórdia, sopa ou salada reinante nos pódromos da fé.


Compreendemos que as pessoas das mais diversas crenças possam colaborar e trabalhar tendo em vista um objetivo comum que é a promoção da justiça, da fraternidade e da caridade.


Cremos firmemente que devam se amar, compreender e tolerar mutuamente umas as outras entregando as divergências nas mãos do Senhor.


Admitimos que em certas situações - de transtorno publico - prevaleça aquela caridade expontânea que brotando do coração faz com que todos se deem as mãos e recitem a prece ensinada pelo próprio Senhor.


Tudo isto é belo, edificante, santo, puro e meritório.


Convem que tudo seja feito com sobriedade, descência e cautela no espírito da caridade.


Repudiamos porém esse acumenismo calculado e inconsequente com seus cultos ou reuniões de oração que de fato não satisfazem a quem quer que seja e que de algum modo acabam melindrando a todos e diminuindo a fé de todos. Essa colcha de retalhos espíritual, seja doutrinária ou mística, regeita-mo-la com tudo que é contraditório, antagônico e vão.


Julgamos pois que temos caido dum excesso noutro ou passado dum extremo a outro.


Os cristãos de ontem - se é que merecem este belo nome - acreditavam ser lícito odiar aos que heréticos ou aqueles que pensavam de modo distinto a respeito da fé.


E passando dos sentimentos as vias de fato fizeram correr rios de sangue...


Através de suas respectivas inquisições: seja a romana ou a protestante, ambas igualmente condenáveis. Pois não podemos nós aplaudir em Lutero e Calvino o que condenamos no papa romano.


A honestidade obriga-nos a denunciar e a condenar ambas as opressões, seja a romana, seja a protestante.


Admitindo que a suprema heresia consiste em matar ou assassinar em nome daquele que disse: Amai-vos uns aos outros como eu voz amei (Voltaire) não podemos deixar de encarar aos papas romanos e aos reformadores, a uns e a outros como mestres da heresia!


Eles se atraveram a dissertar sobre as fontes da eternidade, entretanto esta escrito que nos matadores e homicidas não há sombre de vida...


Lutaram e mataram em nome da verdadeira religião justamente porque ignoravam as bases da verdadeira religião: o amor ao próximo, a misericórdia, a benevolência, o respeito pela vida...


Não eles nada sabiam sobre a religião viva cuja alma é a caridade, só sabiam de fórmulas ôcas, mortas e isentas de fecundidade...


Tal o extremo em que nossos pais mergulharam nos tempos de outrora, tempos de ignorância e de malignidade...


E como sói a condição humana dum extremo a pobre Cristandade foi levada a outro: o sincretismo e o ecumenismo enquanto expressões de ceticismo institucional, individualismo, credulidade e sobretudo de relativismo.


Trata-se da velha senha de Protagoras: O homem é a medida de todas as coisas.


Entretanto o homem é apenas capaz de medir ou de captar aquilo que caracteriza ou constitui o mundo externo.


Se medir ou captar bem em conformidade com os outros representantes do gênero a que pertence certamente terá correspondido a sua natureza mesma.


A ciência é certamente antropocêntrica - especialmente as ciências humanas - na medida em que é verídica.


A religião ou a fé sem embargo não pode deixar de ser, ao menos em parte, teocentrica ou seja centralizada e fundamentada no Deus revelador, no caso em Jesus Cristo Nosso Senhor e no magistério externo da Igreja.


É indubitavel e assaz sabido que o objetivo imediato do Cristianismo é a promoção da pessoa humana (o objetivo final é a união eterna do homem com Cristo) e que o Deus Cristão é um Deus humanado ou Emanuel.


Constitui pois o homem sua natureza e condição parte do dogma e da ética cristãos. Há muito de humano ou de humanista em nosso sistema.


No entanto o individuo ou o homem não é e jamais será juiz em matéria de doutrina Cristã.


Tendo chegado a Cristo e sua igreja resta ao homem apenas e tão somente submeter-se.


Não há e não pode haver dialogo ou conseção em matéria de doutrina, a revelação Cristã é um todo uniforme em cada uma de suas partes constituitivas não restando ao homem acatar esta revelação ou regeita-la em sua integralidade.


Não pode haver seleção ou escolha em matéria de doutrina ou de fé.


Aplicar o 'uni du ni te - salame min guê' ou o 'bem me quer/mal me quer' a revelação divina é o maior insulto que se pode fazer ao divino revelador Nosso Senhor Jesus Cristo.


Demonstrado que Jesus é a encarnação de Deus e que o padrão episcopaliano foi estabelecido por ele a apologia esta encerrada.


Resta a cada qual decidir-se se aceita ou se não aceita...


E não julgar a revelação.


Louvavel é julgar o Cristo (examinar suas credenciais proféticas) justo investigar a origem da igreja... entretanto pretender julgar a revelação ou a igreja de Cristo é a Nosso ver a mais louca de todas as pretenssões.


Respeito tantos quantos julgam poder reconstruir o Cristianismo original através do ecumenismo, mas não partilho de suas opiniões nem lhas considero saudaveis.


O Cristianismo ou é humano ou é divino. Se humano vale muito pouco, entretanto se é divino, foi, é e sempre será em sua estrutura essêcial, perfeita, acabada, imutavel e divina.


Ou cremos numa revelação divina e transcendente ou não cremos.


Se cremos nela devemos admitir que é indestrutivel e que subsistindo invariavelmente de geração a geração não precisa ser reconstruida ou recomposta, se não cremos devemos reexaminar a idéia que temos de Cristianismo.


Resta-nos o desafio que ultrapassar os dois extremos em questão: fanalismo e intolerância de um lado e ecumenismo/relativismo do outro tentando chegar a um meio termo que glorifique o amor e a justiça sem macular a fé.


Refiro-me a posição que devemos tomar frente as diversas religiões e seitas existentes no mundo moderno.


Posição que já adianto devera ser totalmente diferente seja da posição fanática, que tudo encara como demoníaco e reprovado e da posição relativista que tudo encara como igual ou indiferente. Constituindo uma terceira vertente não nos associaremos nem a uns nem a outros, buscaremos o caminho do meio.

Penso que Jesus Cristo desejou e deseja que nos amassemos, compreenderssemos e suportassemos sem no entanto confundir as coisas e sacrificar aquela revelação divina e transcendente que ele mesmo nos legou.


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