Contraponto

Lí, como alias sempre leio, o artigo do Dr Seino, sobre suas experiências pessoais em torno do pentecostalismo, um tanto diferentes (rsrsrs) das minhas...

Afinal cada ser humano é um universo com suas peculiaridades, e especificidades, e singularidades.

Folgo que com meu amigo as coisas tenham se sucedido de modo diverso de como se sucederam comigo.

Pois minha convivência com a igreja em que nasci e fui criado - a C C B - nunca foi fácil, pelo contrário sempre foi problemática.

Já descrevi em minha auto biografia como meu falecido pai, ensinou-me a ler e a contar com cerca de quatro anos de idade, de modo que aos cinco anos fui capaz de ler meu primeiro livro e desde então o ato de ler converteu-se numa constante para mim. Basta dizer que aos dez anos de idade lí "Crime e castigo" e aos onze "O Egipcio" de Watari.

Infelizmente chegou o dia em que minhas leituras em matéria de profanidade chegaram aos ouvidos de um dos profetas ou anciãos e tive de sofrer uma reprimenda devido ao péssimo costume de ler tais livros. Deste dia aos quinze anos de idade tive de ouvir de diversas bocas que o verdadeiro crente devia ler apenas a Bíblia e nenhum outro livro, folgo que o Dr Seino jamais tenha ouvido palavras tão duras, mas eu as ouvi não uma, nem duas, mas diversas vezes e se tivesse dado ouvido a tais palavras como poderia estar hoje aqui escrevendo este artigo?

Para mim romper com aquele mundo, o mundo que eu conheci aqui na cidade de São Vicente, foi uma questão de vida ou morte em termos de espírito. Ou seguia o exemplo de meu pai, que era um homem de grande ilustração e cultura embora eivado de preconceitos materialistas e ateus, ou seguia o exemplo de minha mãe e sua família, que era um exemplo de submissão as igrejas a que pertenciam e ao mesmo tempo um exemplo de inanidade intelectual.

Não gosto muito de escrever publicamente a respeito de mim mesmo pois não julgo que seja um tema importante ou agradavel.

Direi entretanto como ocorreu a ruptura entre mim e o pentecostalismo, e ja adianto que se trata duma experiência comum por que passaram um bom número de amigos meus, parte dos quais ainda hoje permanece agnósta, materialista ou atéia, eu entretanto tive melhor formação e um pouco mais de sorte.

Quando cheguei aos quinze anos de idade, minha avó, a matriarca da família, veio a falecer.

Era uma mulher muito austéra, influenciada por padrões calvinistas de comportamente e eu passei ao menos uma parte de minha vida junto dela. Para comigo era uma mulher dócil, para as outras pessoas no entanto sempre sabia a um travo de amargor... minha avó, ao que me recorde, jamais se preocupou com seus vizinhos, vivia em seu mundinho burguês, fechada em sua vasta casa e isto me marcou profundamente... pois é antitese do que vi com estes olhos no quadro do espiritismo...

Um ano após o falecimento de minha avó, minha mãe se encontrava deprimida e por isso não ia mais a igreja. Então eu ia com uma vizinha idosa ao menos algumas vezes, apreciava sobretudo a música, pois na CCB ( e isto é a meu ver uma caracteristica positiva sua ) a música é totalmente diferente da música das outras organizações religiosas pentecostais.

Foi na Congregação Cristã - e não no romanismo ou na ortodoxia - que todos aprendemos a considerar as musicas e ritmos das outras organizações protestantes como profanos e escandalosos, para nós tais ritmos e músicas nem eram sacros nem comportavam qualquer temor piedoso.

Sou grato até hoje a formação musical - quase clássica - que recebi na CCB e reconheço que devo a ela, meu futuro flerte com o romanismo e a ortodoxia e minha oposição marcada a tudo o que se chama Gospel. Na Congregação Cristã há instrumentos verdadeiramente musicais como harpas paraguaias, orgão, violino, etc os quais constituem até hoje minha predileção.

Choro até mesmo ao ouvir a fanfarra da escola ou do exército poir tais acordes vibram até hoje no fundo de minha alma, reminiscências da infância? Se o forem sou mil vezes grato a CCB!

Entretanto dia houve em que finalmente iniciei a leitura da Bíblia e para minha desventura iniciei pelo Velho Testamento JFA, do qual não gostei nem um pouco e nada compreendi.

O mesmo se dava com as orações, que na CCB se faziam aos berros em alta voz. Com sete anos de idade eu já me perguntava a mim mesmo, silentemente, sobre o que levava aquelas pessoas a gritar com um Ser que estava ali tão próximo e presente...

Então, desgostoso de tudo quanto via naquela organização, mas se coragem de romper com minhas raizes dirigi-me a um inspirado e lhe perguntei sobre o que devia fazer para compreender o significado do livro, dele recebendo esta resposta:

-- Isto é muito facil meu irmão, quando estiver lendo a Bíblia e se deparar com alguma dificuldade, dobre os joelhos e entre em comunhão que o Espírito de profecia, haverá de esclarece-lo e de tirar sua dúvida.

Como sempre ouvirá a irmandade testemunhar sobre tais iluminações, fui levado a crer que também seria iluminado, obtendo assim a compreenção das escrituras.

Na primeira oportunidade dobrei meus joelhos e diriji fervorosa prece ao Criador... para levantar-me horas depois completamente cético e revoltado!

Não me levantei completamente ateu porque desde menino costumava a olhar para os céus estrelados durante a noite e a concluir naturalmente pela existência de uma mente produtora deste universo (daí meu posterior interese pelas provas de Aristóteles) sem necessidade de livros ou sacerdotes.

Digo no entanto que aos quinze anos de idade me tornará agnósta da noite para o dia e sobretudo animado por um ódio quase que animalesco com relação ao fundador do Cristianismo, Jesus Cristo. Pois para mim Jesus era o fundador histórico do protestantismo, do pentecostalismo ou melhor da CCB, única forma religiosa de que tive conhecimento, junto com a Assembléia de Deus, até os dezesseis anos de idade.

Durante quase um ano vaguei como uma sombra pelos labirintos do judaismo e depois do satanismo e da bruxaria, até que numa crise existêncial que quase deu cabo de minha existência tomei conhecimento da igreja papista, a qual quase que de imediato me converti. Depois disto muitos conhecem meu trageto até a ortodoxia e meus flertes com o espiritismo.

Quiz entretanto registrar tais impressões juvenis para que o leitor faça idéia das sequelas até hoje presentes em minha alma.

Insisto que um bom numero de jovens hoje ateus, materialistas e agnóstas passaram por experiências similares e que chegamos até mesmo a criar alguns grupos virtuais com o objetivo de comparar nossas experiências.

Penso que dentre eles sou o que menos sequelas reteve de tais experiências.

Nenhum deles consegue compreender porque acabei me curvando novamente aos pés do Nazareno...

Só eu posso sabe-lo.

Portanto se algumas experiências como a descrita pelo amigo Seino são positivas e não duvido delas outras não o são nem um pouco e eu, me encontro deste lado.

Algumas das apreciações do Dr Seino são bastante equanimes e exatas: ao que me lembre na CCB jamais foi vendido um único milagre ou uma única graça.

Mesmo porque a instituição judaica do dizimo jamais foi adotada por ela.

Ocorre-me ter lido há alguns anos um livro publicado por certo pastor pentecostal no qual a CCB era classificada como uma seita herética justamente porque não cobra dizimos ou tachas permenecendo fiel ao sistema neotestamentário e paulino das coletas... Bendita heresia.

É justa a apreciação: da CCB jamais poderia sair a TP pois a CCB ignora essa instituição anacronica do dizimo.

Tampouco testemunhei uma unica fraude ser forjada ali.

Tantos quantos ali se encontravam acreditavam piamente nos testemunhos, graças e milagres com a fé de uma criancinha e eu mesmo testemunhei posteriormente autênticos fenômenos psiquicos e paranormais naquele ambiente altamente sugestionavel. Na 'Deus é amor' entretanto - pára a qual cambiou uma família muito próxima a minha - tivemos a ocasião de assistir de perto a uma porção de patranhas e fraudes.



- Continua.

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