O pentecostalismo e eu

Li atentamente o texto anterior de Domingos, e, sem dúvida nenhuma, compartilho a idéia de que, é do pentecostalismo, ou mais precisamente, do neo-pentecostalismo que tem surgido a maior parte das esquisitices e desvios doutrinários do cristianismo, sob a perspectiva protestante.

Entretanto, minha experiência pessoal diverge um pouco da dele em seu contato com os pentecostais.

Cresci os primeiros vinte anos de minha vida na periferia de São Paulo.

Talvez, um pouco por causa de minha condição pessoal, psicológica, influencia do meio, etc (além de causas sociais que me escapam ao controle) estive envolvido em questões muito complicadas, me rendendo inclusive problemas com a lei, que me abstenho de comentar nesta oportunidade.

Fato é, que em determinado momento de minha vida, fui apresentado a uma comunidade pentecostal (Assembléia de Deus).

Minha vida foi absolutamente transformada por aquilo que considero minha experiência de conversão, um tanto quanto dramática, que os que convivem comigo puderam acompanhar, e alguns, pela graça de Deus, seguirem o mesmo destino que o meu.

Nesta comunidade, considero que aprendi a amar a Cristo, às Escrituras, o Evangelho.

Eu tinha vinte e dois anos à época. Digo ao amado leitor que, até esta idade, apesar de ter o colegial completo em uma escola estadual, eu sequer sabia o que era FUVEST, Mackenzie, USP, cursinho pré-vestibular, ANGLO, etc. Não sabia nada destas coisas.

Mas nesta comunidade, havia irmãos que cursavam direito, psicologia, sociologia, entre outras matérias. Reconheço, uma comunidade um pouco mais culta dos que geralmente caracteriza os pentecostais, e ali, passei a ter um grande amor pelo conhecimento.

Naquele local fui instruído a voltar aos meus estudos, com apoio de alguns irmãos, tendo me formado, em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (não sem antes frequentar e trabalhar em um cursinho pré-vestibular) e depois em Teologia pela Faculdade de Teologia Metodista Livre, sendo que hoje tenho a grata satisfação de lecionar nesta instituição, entre outras.

Por isso, posso dizer que me foi apresentado um evangelho que considero integral, pelo menos nos termos protestantes, tendo sido auxiliado, inclusive com bens materiais por alguns irmãos daquela igreja. Tive ajuda para pagar a faculdade, inclusive trabalhei um bom tempo para a própria comunidade. Até mesmo dinheiro para a condução recebi naquele local.

(Para um católico romano e para o ortodoxo, todo o protestantismo é incompleto, não importa qual a vertente).

O primeiro livro, nesta igreja, que me indicaram, foi o Celebração da Disciplina, de Richard Foster, que me ajudou a conhecer os fundamentos da vida cristã, da disciplina da oração, da simplicidade, do silencio, da adoração, e da vida comunitária, entre outras coisas. Foi também ali que, logo depois, me indicaram “Cristianismo Puro e Simples” de C. S. Lewis e “A cruz de Cristo”, de John Stott, ambos, autores anglicanos. Daí por diante, fui apresentado a muitos dos mais notáveis evangelicais, como Caio Fábio, Robinson Cavalcanti, Carlos Queiroz, Ariovaldo Ramos, além de outros autores internacionais, como James Houston, Eugene Peterson, Philip Yancey; tendo indicação até para a leitura de alguns padres, como Henri Nonwen, Tomas Merton e Anselm Grunn. Também foi ali que tive contato com as primeiras posições ditas de esquerda, pois a maior parte dos pastores e líderes ali fazia parte do dito evangelicalismo mais progressista, sendo dois de seus pastores membros do PT naquele momento (hoje, não mais).

Portanto, de modo algum o pentecostalismo ao qual fui apresentado me alienou, e, adotado o ponto de vista do pastor batista citado por meu amigo Domingos, ali, fui apresentado ao evangelho, pelo menos no que tange à perspectiva protestante (que para um ortodoxo ou católico romano tradicionalista, será sempre incompleto conforme já mencionei). Isto porque, para um batista, um metodista, um presbiteriano, um luterano, um pentecostal, entre outras coisas, sempre, há alguns princípios em que todos concordam, como o próprio conceito de Trindade, Divindade de Cristo, Salvação somente por graça pela fé somente, que toda a louvação, veneração e adoração são devidas somente a Cristo, que as Escrituras são a regra última de doutrina, vida e fé. Por isso, para o batista, o pentecostalismo acaba cumprindo sua função evangélica. Um pentecostal que conheça tais verdades pode ser considerar irmanado de um cristão batista; e na verdade, a uma das duas maiores convenções batistas brasileiras, hoje, pertence a vertente carismática, tendo sido fundada pelo hoje ancião Enéas Tognini.

Entretanto, há uma necessidade urgente, a meu ver, em se harmonizar um pouco de teoria e prática, no que tange a vida cristã.

Neste diapasão, quando me foi apresentado este evangelho sob a perspectiva protestante e pentecostal, eu e mais alguns amados colegas aderimos a tal comunidade. Alguns de nós, conforme já disse seriamente envolvidos com complicações que geralmente acometem muitos jovens de periferia. Muitos dos meus colegas que não acompanharam o mesmo caminho morreram de forma um tanto quanto violenta, infelizmente; outros, foram para a prisão, outros vivendo a vida normal, de festas, bailes, bebedices e orgias.

Daí, eu sou muito grato à forma de evangelho que fui apresentado. Sabemos que todos estamos sujeitos a muitas coisas nesta vida, e, o que ocorre com o ímpio, ocorre também com o justo; entretanto, penso que, caso não tivesse sido apresentado ao evangelho, era grande a probabilidade de eu ter sido um destes que não estão mais entre nós.

Ocorre que, na periferia em que vivi, mais precisamente na zona sul, Vila Joaniza, Missionária, Cidade Ademar, etc, jamais vi um cristão dito do cristianismo ortodoxo, e muitos poucos protestantes tradicionais, com exceção dos batistas (não digo que não existam, mas nunca cruzaram meu caminho). Se eu, e milhares de outras pessoas tivesse dependido destes, sequer teríamos conhecido nem estas migalhas de evangelho que eles nos acusam de conhecer, quanto mais o próprio evangelho da perspectiva deles. Muitos cristãos tradicionais são fechados em suas próprias paróquias (isto, quando a freqüentam), fortemente étnicos; ou seja, não pregam o evangelho a toda criatura. Como se julgam possuidores (ou possuídos) de toda a verdade, não seria uma questão de lógica que o apresentasse a toda a criatura? Ou será que não se importam? Até cristãos predestinacionistas se esforçam por levar o evangelho (ou o que consideravam evangelho) pelo mundo, por mais incoerente que isto pareça para alguns.

Obviamente, não discordo que boa parte das aberrações no cristianismo advém mesmo do pentecostalismo.

O pentecostalismo lembra muito, analogicamente, a Igreja de Corinto. Uma igreja extremamente facciosa, carnal, em que se julgava que o dom de línguas era o mais importante, com sérias facções, com grande preconceito social; entretanto, nem por isso, Paulo deixou de endereçar sua epístola aos “santificados em Cristo Jesus”. Como posso desconhecer as aberrações teológicas da teologia da prosperidade, que tem seu fruto naquilo que os sociólogos têm chamado de “neo-pentecostalismo”? Entretanto, todo estudioso sabe que o neopentecostalismo e o pentecostalismo são coisas diversas (basta comparar o discurso de uma Congregação Cristã no Brasil, da Deus é amor, da Assembléia de Deus com o da IURD e todos verão que são coisas diferentes). Associar todo o pentecostalismo com a teologia da prosperidade é um erro grave, um terrível reducionismo. A maior parte do pentecostalismo, conforme já disse, lhe é contrário, não obstante, parte destas igrejas, principalmente da AD, se deixarem contaminar (mas até comunidades inteiras descritas no Novo Testamento se deixaram contaminar).

Mas eu não estranho que o pentecostalismo tenha tais tipos de problemas. O pentecostalismo está entre os mais pobres, e, é destes pobres que retira suas lideranças, geralmente, gente com pouca instrução. E por terem sido esquecidos por esta sociedade, durante muito tempo o próprio pentecostalismo rejeitou, e, de certa forma, continua rejeitando esta cultura pela qual um dia foram rejeitados. O padre José Comblin já fez muitas elogiosas observações a este movimento de pobres voltado praticamente para os pobres. O pentecostalismo é a religião com o maior numero de negros e de mulheres na liderança, geralmente das classes financeiramente inferiores. Como estes ensinarão Marx às suas comunidades? Mal aprenderam a ler. Abandonados que foram, seja pelo Estado, seja pela Elite religiosa e cristã. Conta-se que o primeiro líder pentecostal, um negro norte americano, tinha que assistir as aulas do seminário de fora da sala, pois não lhe era permitido entrar e sentar-se ao lado dos brancos. Entretanto, ainda que por pouco tempo, foi a primeira comunidade a reunir brancos e negros em um mesmo Espírito; e, se tal coisa não logrou êxito em se perpetuar naquele momento, foi por culpa dos brancos.

Cem anos se passaram do pentecostalismo. Hoje, a Assembléia de Deus tem a maior editora evangélica do país, a CPAD, além de estarem sendo criadas muitas instituições teológicas apoiadas pelas igrejas pentecostais.

Muitos criticam o modo de ser pentecostal, com suas músicas simples, com sua agitação, com suas "histerias coletivas", com forma parecida muitas vezes com a do candomblé. Estes, que criticam, geralmente preferem o rito Tridentino, o canto gregoriano, ou uma liturgia mais sóbria, como a presbiteriana tradicional, ou a batista.

Mas será que não percebem que ao dizerem uma coisa destas, se posicionam justamente ao lado da elite que dizem muitas vezes combater? O pobre real (e não o virtual) brasileiro, não é tão formal assim, não tem uma liturgia tão organizada assim, não conhece latim nem canto gregoriano, teriam dificuldade em acompanhar o culto lendo o Livro de Oração Comum, etc.

Para o pobre, o brasileiro médio, a divina liturgia de São João Crisóstomo é ininteligível, cansativa, com seu jeito imperial, suas coroas, cajados, procissões, etc, mais próprias para um período imperial. O rito Tridentino também teria pouca adesão (este, é mais complicado ainda, por ser em latim), tanto é que foi o clero latino americano, conforme ouvi de um religioso, que clamava com maior vigor no Vaticano II para que se permitissem novas experiências litúrgicas no continente, antes que todos se tornasse carismáticos evangélicos. Os protestantes tradicionais, com poucas exceções, também sofrem com isso. Particularmente, advogo que estas expressões litúrgicas deveriam se respeitar; que os pentecostais aprendam a admirar formas mais litúrgicas e antigas de se cultuar a Deus. Eu admiro profundamente tais liturgias antigas, mas nem por isso desdenho dos mais simples.

O povo brasileiro é, em boa parte, carismático, barulhento, sensual (no melhor sentido do termo), daí o pentecostalismo ter tanta aceitação em meio a nossa população, em minha opinião. O estilo europeu teve pouca adesão por aqui, não obstante, eu pessoalmente preferir uma liturgia mais organizada, menos barulhenta, não obstante não ser contrário aos canticos populares.

Sobre a questão da contemporaneidade dos milagres, todas as vertentes cristãs, seja Ortodoxa, Católico Romana, ou Protestante, a aceitam em nível oficial, pelo menos. O pentecostalismo tão somente aumentou o leque das manifestações carismáticas (línguas, profecia, etc), entendendo que se Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente, não há motivo para não haver possibilidade de tais dons se manifestarem. A exegese bíblica que diz que Paulo advogou os fins dos dons para este tempo não é boa; daí, é melhor assumir o ceticismo logo de uma vez do que justificar o fim dos dons pelas Escrituras ou pela história da Igreja. Segundo as Escrituras, os dons estão plenamente vigentes, ainda que, obviamente, haja, sem dúvida nenhuma, muita picaretagem, emocionalismo mesmo.

É preciso saber separar o joio do trigo no pentecostalismo. Conforme já analisado, não é possível associar todo o movimento pentecostal com a teologia da prosperidade. E, mesmo nas igrejas que defendem tal teologia, há a esperança da salvação, assim como em muitas das igrejas fortemente tendidas para a heresia, havia sempre um remanescente fiel, como no caso da igreja em Tiatira (Apocalipse 2.24-25) e na igreja em Sardes (2.4). Eu conheço membros de igrejas deste tipo que discordam da teologia de sua denominação, mas continuam em tais igrejas por questão de chamado, de convicção, por entenderem que poderão fazer diferença ou morrer tentando.

Para um cristão ortodoxo, principalmente os mais tradicionais, não faz sentido falar em apostasia provocada pelo pentecostalismo. Isto porque, em certo sentido, todo o protestantismo é apóstata para aqueles.

Mas o conceito de apostasia diz respeito àqueles que estiveram, algum dia, no reto caminho, mas, em algum momento, se desviaram dele, rejeitando verdades essenciais.

Ora, como pode todo o pentecostalismo ser apóstata? Acaso foram cristãos ortodoxos algum dia para que pudessem, uma vez nele, tê-lo rejeitado?

Por isso, mesmo sob a perspectiva ortodoxa, no meu sentir, não faz sentido chamar o pentecostalismo de apóstata, visto não ter surgido tal movimento no seio da Ortodoxia!

Para o protestantismo histórico, o pentecostalismo é problemático, infantil, e até herético em algumas de suas vertentes, mas não apóstata. O conceito de apostasia no protestantismo é a negação da necessidade do Cristo, Filho de Deus, para a salvação e a rejeição da Santíssima Trindade. Ocorre que o pentecostalismo, como movimento popular, é um dos que mais afirmam a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Geralmente são teólogos de expressão mais liberal do protestantismo que têm negado tal dogma, o da divindade do Filho em termos nicenos.

No meu entender, os pentecostais prestam um serviço valioso ao evangelho. Levam a palavra de Deus onde cristãos elitistas não ousam nem pisar os pés. Melhor adaptam a verdade do evangelho ao povo, sem lhe perder a essência (digo sempre em perspectiva protestante - para um ortodoxo conservador, o protestantismo em si já é a perda da essência cristã). E é onde há movimento, transformação, que surgem as possibilidades de surgirem também toda sorte de confusão, de controvérsia; mas é isto que mostra que uma religião está viva, que o interesse religioso está reacendido. A igreja de Corinto tinha muitos problemas, discussões, facções, orgulho, etc; entretanto, nem por isso deixava de ser cristã. Em igrejas mornas (mortas?), realmente há muita paz, silêncio, falta de movimento, de jovens, de crianças, de casais. De modo algum estas igrejas estão vazias porque estão vivendo e pregando um evangelho comunitário nos moldes dos tempos antigos, com gente que se conhece, que tem tudo em comum, que se ajudam mutuamente; ou estão vazias porque assumiram um cristianismo profético, denunciador, esclarecedor. Estão vazias, boa parte delas, com exceções, porque estão sem vida nenhuma.

Igrejas cheias realmente não significam estarem com a verdade, sem dúvida. Mas igrejas que não se movimentam, não vão até o povo, não buscam o Cristo na face do pobre, não entram na periferia, que esperam que as pessoas entrem em seus templos também não podem esperar crescimento. O ministério de Cristo foi localizado primordialmente fora do Templo e das sinagogas. Jesus estava entre o povo, e as multidões o seguiam. É desejo de Cristo que o evangelho seja pregado a toda criatura, e que todo convertido seja acompanhado, discipulado, ensinado. Penso que, se Deus deseja que todos sejam salvos, é seu desejo que sua igreja aumente em número de fiéis. Aprendo de atos dos apóstolos e do cristianismo primitivo que as multidões afluíam à pregação apostólica, o que causava muita inveja dos líderes de religiões tradicionais, que consideravam o cristianismo nascente apóstata e herético. Policarpo foi considerado pelos pagãos o destruidor de seus ídolos, uma ameaça a religião oficial de Esmirna. Os padres antigos eram considerados perigosos porque as multidões afluíam às suas pregações, deixando de dar lucro aos vendedores de ídolos, retirando a adesão ao culto imperial. Crisóstomo, o boca de Ouro, atraia as multidões de pobres e de desfavorecidos com seus sermões, mesmo quando exilado de Constantinopla. É claro que havia igrejas com número pequeno de fiéis, não nego isso. Mas é desejável que a obra de Deus cresça.

Não adianta somente criticar de longe, do gabinete pastoral, da biblioteca da faculdade, da segurança de nossos quartos. Destruir é mais fácil. Construir é que são elas. Mostre-me a sua fé pelas suas obras, disse Tiago. Se a árvore não dá fruto, é cortada e lançada no fogo do esquecimento. Digo isso para mim mesmo antes de para qualquer outra pessoa. Se alguns cristãos fizessem por aquilo que consideram verdade o que outros fazem por aquilo que aqueles consideram mentira, talvez o que consideram erro não se alastraria tanto. Claro que sempre há chance de um profeta como Noé, Jeremias, Tolstoi não ser ouvido. O santo de casa muitas vezes não recebe crédito. Mas outros, como Luther King, acabam fazendo diferença.

As igrejas, paróquias que deixaram de crescer precisam fazer um sério auto-exame sobre si mesmas, se tal não tem ocorrido pela sua própria letargia espiritual. Há muitas igrejas protestantes tradicionais, que não são permitidas sequer o bater de palmas, e nenhum outro instrumento senão o órgão, que crescem bastante, tendo em vista a seriedade do seu trabalho. E mesmo naqueles templos cheios em que imperou a injustiça e o descaso para com os pobres e necessitados, Deus sempre reservou para si um remanescente fiel que honrasse a verdadeira causa cristã e evangélica, desde os tempos de Elias, do apóstolo João, de Atanásio, até hoje. Tenho inclusive, notícias que em Recife, cresce bastante a Igreja Ortodoxa Sérvia; e nos EUA, a Ortodoxia cresce bastante também (talvez, mais por esgotamento do protestantismo naquelas terras). Compartilho da opinião de que, em boa parte da história do cristianismo, por quase todo o tempo, foi sempre uma “grande minoria” que realmente levava o evangelho a sério, seja em qualquer expressão cristã, não somente no protestantismo, mas mesmo no catolicismo, e até na ortodoxia. A maioria, por exemplo, não apoiou Constantino e Teodósio durante a Roma imperial? É possível que sim. No entanto, a obra de Deus precisa crescer.

Na obra sobre os pentecostais de sociólogos como Ricardo Mariano, professor da USP, ele analisa o quanto estas igrejas pentecostais, na periferia, ajudam a dignificar as famílias que delas participam (sem deixar, óbvio, de fazer críticas que considera justas). Ele relata que o pai de família veste sua melhor roupa, arruma sua mulher, seus filhos e vai a igreja, todos juntos. Isto dá dignidade e coesão, mesmo em nível unicamente social. É certo que parte de sua renda vai para aquela comunidade; entretanto, ele se tornou mais criterioso com o restante do dinheiro. Ele deixou o álcool, que é a maior miséria do homem da periferia, onde há um bar em cada esquina. O baile que ele freqüentava (por exemplo, eu era DJ em uma equipe de som), sempre havia briga na saída, tiroteio, gente morta, drogas, violência. É estatístico que, quando se abre uma igreja na periferia, a freqüência a bares diminui, vindo alguns até a fechar suas portas.


A socióloga Regina Reyes Novais, em sua obra “Pentecostais, Trabalhadores e Cidadania”, da Marco Zero, p. 7, relatou que entre os entrevistados nas comunidades carentes de Pernambuco, os crentes demonstravam um senso de dignidade recomposta. Comparar a ida para uma comunidade evangélica com a ida a um baile, no meu sentir, é exagero, para não dizer no mínimo sem caridade.


“Ad argumentandum tantum”, ainda que não se vislumbre, por opinião teológica, nenhum bem espiritual no pentecostalismo, benefícios sociais advindos do de tal movimento são evidentes. Eu tenho contato constante líderes e membros de comunidades pentecostais em Diadema, sou testemunha ocular destas coisas. Sou professor de alunos que deixaram de ser literalmente bandidos, inclusive, ex-presidiários; de moças que preferiram viver uma vida humilde, morando em casas de um cômodo, trabalhar de balconista ou faxineira do que terem uma condição melhor pela venda de seus corpos na prostituição. E fazem isso por amor de Cristo, por terem se arrependido de seus pecados. A questão não é se os pentecostais prestam ou não muitos serviços aos pobres. A questão é que os pentecostais, em sua grande maioria, são os pobres. Daí, ao contrário do que entendem alguns, não penso que o pentecostalismo seja uma grande movimento apóstata. Não. Penso que é um dos movimentos mais interessantes, contundentes, de grande potencial e vitalidade para a causa evangélica e cristã (sob perspectiva protestante, repito). Reconheço que também é o movimento que mais apresenta problemas, pois o inimigo não perde tempo em plantar joio no meio do trigo, a ponto de até lhe ultrapassar a quantidade. Também me revolto com o grau de exploração, de autoritarismo, de caudilhismo, de alienação, de abuso, de ignorância, de arrogância que existe no pentecostalismo; notadamente no “neo-pentecostalismo”, com seus apóstolos. Detesto a teologia da prosperidade com todo o meu ser, combatendo-a nos meus sermões, em minhas aulas, e escritos. Talvez, a diferença, é que eu vejo o pentecostalismo de dentro, participando de tais comunidades, convivendo com seus fiéis, aprendendo deles e ensinando para eles, daí, amá-los verdadeiramente. E, aderindo à opinião do amigo do professor Domingos, aquele pastor batista (que espero que leia este texto), concordo também que, o pentecostalismo pode ser a porta de entrada para que alguém se achegue ao cristianismo sim, ainda que de outras esferas. Tanto é que, mesmo se considerarmos o pentecostalismo um erro, alguns saem dele e se tornam católico romanos, ortodoxos, ou anglicanos; ou mesmo protestantes tradicionais, geralmente, reagindo negativamente ao pentecostalismo do qual pertenceram (assim como, muitos conversos do catolicismo romano parecem ser os mais anti-católicos). Eu mesmo, se hoje tenho um razoável conhecimento para um leigo, de todas as vertentes do cristianismo, seja ele ortodoxo, romano ou anglicano, mantendo contatos e laços estreitos com pessoas oriundas de tais igrejas, tenho que confessar que a minha consciência religiosa e cristã foi desperta pelo movimento pentecostal (em certa ocasião, levei um grupo de quase vinte alunos, mais da metade, pentecostais, para assitirem a divina liturgia na Catedral Ortodoxa Antioquena e a ordenação de um diácono - foi lá que conheci Domingos pessoalmente); e hoje, boa parte dos alunos de Faculdades de Teologia tradicionais, como a Metodista (São Bernardo), Batista (em Perdizes), e Presbiteriana Mackenzie, são pentecostais, ultrapassando alunos da própria denominação que atribui o nome a tais instituições. Achei importante fazer tais observações, não obstante, não ter tido, desde o início deste blog, a intenção que ele fosse um espaço de controvérsia teológica entre seus membros, haja vista que, sua intenção original era que fosse a expressão da Vida Cristã em suas mais diversas tradições.

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