Questões em torno do belo, do simbólico e da litúrgia.


Aqueles que me conhecem sabem muito bem que apesar de minha posição: progressista com relação ao mundo, liberal com relação a moral e tolerante - mas não relativista - com relação as opiniões e correntes teológicas, sou total e absolutamente contra toda e qualquer reforma litúrgica ou alteração no que diz respeito a forma do culto Cristão.

Isto significa que apesar de ser liberal e/ou progressista noutros terrenos sou conservador no terreno do culto ou da litúrgia.

Assim o é.

Reconheço a conveniência de que as leituras ou recitações de alguns salmos de teor belicoso deveriam ser substituidas por leituras ou recitações do Evangelho ou da pena apostólico de teor tanto mais pacífico.

Admito ainda que nas terras de missão, nas quais o Cristianismo ortodoxo ainda não foi implantado e que possuam um amplo repositório de gestos e palavras simbólicas, seja criadas e implementadas novas formas ou tipos litúrgicos desde que se mantenha a estrutura tradicional, Não sou contra a aceitação, e recepção, e emprego, da herança cultural de um determinado povo dentro de um esquema litúrgico inspirado por nossas litúrgias apostólicas.

Neste sentido poderiamos citar as experiências do Pe Mateus Ricci e dos ritos chineses e a Missa Luba, iniciativas dignas de serem acolhidas e imitadas com toda prudência e sabedoria pela ortodoxia.

No entanto todo e qualquer tipo de reformação, inda que conveniente e bem intencionada não deixa de ser problemática. Pois quando se inicia uma reforma qualquer jamais se sabe quando irá parar, pois enquanto alguns encaram tais reformações como excessivas outros lhas encaram como tímidas desejando reformar mais e isto gera um clima de instabilidade e confusão generalizadas.

As reformas implementadas por Lutero no âmbito da fé e pelo Concílio do Vaticano II no âmbito do culto exemplificam o que estou a dizer, pois embora Lutero e os Padres conciliares tivessem límites bastante precisos diante de si mesmos, ambas as reformas não pararam mais até os dias de hoje, chegando o protestantismo ao adventismo, e ao jeovismo, e ao pentecostalismo (o que deixaria Lutero e os primeiros reformadores perplexos ) e o conciliarismo a RCC (o que deixaria os Padres conciliares do CVII igualmente perplexos).

Tais os riscos de implementarmos uma sã reforma litúrgica no seio da ortodoxia, inda que apenas substituissemos alguns versículos e leituras vetero testamentários em prol duma perspectiva neo testamentária e Cristã, logo surgiriam outros e postulariam mudanças no terreno da adoração (voltada para para o altar) e da melôdia, da mesma maneira como se sucedeu no CVII, e assim ultrapassariam os límites da tradição, como o protestante Bultmann, com a melhor das intensões, ultrapassou os límites da fé, iniciando a demolição do Novo Testamento...

Aristóteles que era homem sábio ao mesmo tempo que reconheceu a necessidade de reformas políticas em diversas situações, opinou contra elas devido justamente ao Estado de confusão ou acracia a que elas podem conduzir o Estado. E no entanto - em que pese nosso horror a acracia - somos favoráveis a reformas e a reformas radicais no que diz respeito ao Estado...

A instituição Cristã porém consideramos como divina, sagrada e celestial, ao menos no que diz respeito a sua ética e a sua fé. Ética e fé cuja promoção cabe as formas litúrgicas pelo emprego do símbolo.

Tememos pois que qualquer mudança referente aos símbolos acabe atingindo o conteúdo da fé e da ética e dando a entender que nossa fé ou nossa ética foram alteradas.

Não ignoramos o quanto a reformação protestante e a reformação litúrgica promovidas pelo CVII contribuiram para a afirmação e desenvolvimento do relativismo epistemologico ora dominante. Relativismo que encaramos como o inmigo número um não só da fé, mas de nosso patrimônio filosofico, artístico e científico.

Não desejamos pois que a ortodoxia entre neste pernicioso jogo e fortaleça ainda mais as bases duma ideologia que cumpre combater e destruir sem quartel sob pena de relativizar-mos a Deus e ao Verbo.

Entretanto Deus é o que é e o Verbo é o que é porque uma simples caneta é o que é...

Creio pois que a forma da adoração Cristã - voltada para o altar - e sua musicalidade: bizantina ou gregoriana deva ser mantida fixa e inalterada a todo e qualquer preço e do mesmo modo nossos gestos e símbolos.

E que toda e qualquer apropriação de símbolos pelo culto ortodoxo em terras de missão seja pautado nestas diretrizes fixas da adoração e da melôdia, inda que, quanto a melôdia, se possa em certas situações - certos momentos litúrgicos ou fora da litúrgia - admitir alguma contribuição da cultura local e de seus ritmos, prevalecendo sempre porém a forma ortodoxa num plano mais genérico.

Isto nos leva a balizar muito bem o nosso pensamento: abrimos tais possibilidades as terras de missão cuja cultura multimilenar, possua formas próprias de culto com seus gestos e ritmos, formas que com certa prudência podem ser empregadas pela adoração ortodoxa.

O que não admitimos de modo algum - AQUI A DIFERENÇA BÁSICA ENTRE NÓS E OS DEMAIS LIBERAIS E PROGRESSISTAS - é a modernização do culto ortodoxo nos termos ocidentais de inspiração já protestante, já capitalista.

Eis o tipo de reformação litúrgica que não podemos suportar: aquele que destrua nossos símbolos e simplifique nossa litúrgia com apelos feitos ao Velho Testamento e a lei de Moisés, tomando por padrão a antiga sinagoga.

Pois tal postura nos levaria diretamente ao iconoclasmo e a supressão da arte...

E nós somos a favor da estética objetiva e da arte, empregadas com o intuito de promover e expandir a fé.

Nós não cremos que o belo seja um produto do meio, da cultura ou de relações econômicas, mas que o belo possui um valor entrinseco e real acima das convenções e gostos. Portanto nosso modo de encarar o belo não é nem hebreu, nem kantiano, nem marxista, mas grego ou melhor dizendo clássico.

Penso que a beleza seja composta de ordem, simetria e definição clara, cuja associação se traduz numa contemplação prazerosa. (Platão e Aristotéles).

Creio que tal ideal de estética seja universalmente válido para todas as épocas e locais, inda que sujeitos a certo fluxo evolutivo.

Do mesmo modo como penso objetivamente nossa fé e os dados obtidos pela ciência, assim penso a estética, a arte e o símbolo.

É verdade que o capitalismo apropriou-se da arte ou do belo fazendo dele um produto e de certo modo o 'cartão' duma determinada classe. Dir-se-ia que a burguezia monopolizou o belo e converteu-o em distintivo seu...

No entanto não encaro este apropriar-se do belo ou do estético como um frabricar ou produzir o belo...

Julgo que o sistema tenha se apropriado de algo que existe em si mesmo e não criado do nada este algo ou imposto padrões de gosto que são especificamente seus...

Afinal quando o capitalismo e o sistema de mercado fizeram sua aparição cerca do século XV/XVI desta era, a objetividade do belo ou do estético já havia sido enunciada pelos antigos gregos a cerca de vinte séculos.

Não houve pois uma construção ou reconstrução do belo por parte da burguesia mas uma pura e simples apropriação como manifestação de poder e forma de segregação.

A ação discriminatória e inumana partiu pois da burguesia e seu universo e não da arte, arte que como tal ficou passiva em suas mãos sendo empregada como vil instrumento.

Estou pois firmemente persuadido que os canônes clássicos de arte e todo nosso repertório simbolico tradicional serão retomados pela sociedade futura e pela religião na medida em que a instrução se dilate, em que a manobra das elites seja desmarcarada e em que as condições de vida se tornem mais faceis possibilitando que a problemática da estética seja retomada e aprofundada.

E por isso sou contra toda e qualquer tentativa de supressão da arte ou do simbólico seja no campo da religião ou da profanidade.

Mesmo porque no fim das contas o ritmo imposto pelo sistema econômico, pelo mercado e pela produção após terem exigido uma simplificação cada vez maior do culto Cristão, acabou por exigir também uma grande simplificação no terreno das arte dando origem a arte moderna. Arte cuja temática principal é a eliminação do detalhe...

Já estou acostumado a ser chamado de incoerente não só pelos contrários mas até mesmo pelos amigos e aliados (progressistas e marxistas) na medida em que encaram a arte como algo relativo.

Entretanto caso minha estruturação de pensamento esteja correta eles é que acabaram embarcando no trem da burguesia e do capital, ao menos neste terreno.

Pois chegamos ao cerne da questão.

Não podemos admitir o iconoclasmo promovido especialmente pelos calvinistas e ora retomado pelos pentecostais e tampouco a arte moderna, pelo mesmíssimo motivo: não são expressões culturais expontâneas desenvolvidas por um povo, mas EXIGÊNCIAS DE UM SISTEMA ECONÔMICO, cujas pretenssões eram absorver todas as esferar da atividade humana, não deixando espaço algum a religião ou a arte.

Penso pois que a religião inconoclasta e dominical bem como a arte moderna sejam expressões religiosas ou estéticas desfiguradas pelo economicismo.

Absorvido pelo ritmo alucinante do trabalho o homem moderno já não é capaz de compreender o simbólico ou de apreciar o detalher os quais se tornam supérfluos para ele.

Na medida em que se deixa escravizar e fatigar pelo ritmo da produção o homem moderno aspira por formas religiosas mais simples ou por formas de arte mais pobres... Não é algo que parta de sua natureza ou da graça divina mas de seu estado enquanto proletário.

Incapaz de desenvolver suas potêncialidades enquanto ser estético e simbólico que é este homem passa a odiar selvagemente o estético e o simbólico bem como todos aqueles que são capazes de capta-lo.

Aqui Kenneth Clark: "Suponho eu que o motivo - do iconoclaticismo calvinista - não foi meramente religioso, revelando antes de tudo uma certa tendência para destruir qualquer coisa que seja de atraente ou que refletisse um certo estado de espírito que um homem tanto mais atrasado não pudesse captar. A SIMPLES EXISTÊNCIA DE TAIS VALORES INCOMPREENSSIVEIS IRRITAVA-OS (aos calvinistas)."

Mesmo em seu berço - comercial - capitalismo esterilizou o espírito do homem quanto a captação do belo e suprimiu-lhe a dimenssão do simbólico, na medida em que direcionou sua alma e sentidos para a obtenção de lucros e seus investimentos para o mercado.

Para que houvessem mais investimentos era necessário despojar as igrejas de seus adornos e converte-las em novas sinagogas. Também as instituições benemerentes destinadas ao alivio dos miseráveis foram sucessivamente fechadas para que o capital fosse concentrado nas mãos do burguês e investido econômicamente...

O homem e a arte perderam juntos seu espaço na nova religião e isto só veio a beneficiar o sistema ascendente...

Portanto se se postula que as formas antigas da ortodoxia ou do romanismo devam incorporar as formas simplificadas da modernidade Ocidental, simplificadas pela reforma sob a moção do capítal, nossa resposta é não.

Nenhuma simplificação nos termos da simbólica, da arte ou da estética que correspondam as necessidades do mercado para que a religião se mantenha, expanda ou sobreviva, mas combate ao capital, seu regime e seu ideário em favor da arte e do simbólico.

Pereça, inda que em chamas, o mundo do dinheiro, mas em hipótese alguma o da estética, da arte e do simbólico.

Efetivamente as formas mais avançadas de protestantismo - como a arte de vanguarda - possuem seus redutos na cidade e nos grandes centros industriais e econômicos nos quais quase não há espaço para as formas religisoas tradicionais e artisticas bem como para a arte clássica.

Isto se dá por uma razão muito simples: no campo, onde as relações sociais são mais simples e lentas sobra tempo para que o homem contemple a natureza e a reproduza em seus sistemas simbólicos - dái ser capaz de compreender a linguagem simbólica da tradição Cristã - ou em suas obras, que assumem quase sempre uma conotação artistica.
Na cidade porém onde tais relações se intensificam ao máximo, assumindo um ritmo quase inumano ou desumano, o dinamismo da econômia não deixa tempo algum para que o homem contemple uma natureza que no fim das contas inexiste, para que reproduza seu simbolismo, trabalhe-o ou compreenda-o... ele perdeu a linguagem do símbolo e a compreenção da arte de modo que nem a Igreja nem o Atelier são capazes de prende-lo.

Saido da fabrica semi-morto e tendo de regressar a ele pelo mesmo caminho no dia seguinte, sua linguagem é a das paredes nuas seja no templo ou em sua casa e sua compreenção de arte são as linhas retas que tornam o objeto mais util ou eficiente.

Todos os valores do homem citadino, inclusive seus valores religiosos e estéticos são como que determinados ou poderosamente influenciados pelas relações econômicas. Relações que tendo em vista absorver todas as potencialidades do homem, procuram destruir todas as demais esferas de sua atuação...

Uma religião demasiado rica, absorvente e exigente não esta deacordo com as exigência do mercado e do capital e do mesmo modo uma expressão artistica que exija muito esforço para ser feita ou para ser compreendida.

Nisto tudo há uma grande verdade que os ortodoxos e romanistas (tradicionalistas) não compreenderam ou não desejam compreender: que na medida mesmo em que as relações econômicas vigentes se ampliarem em direção ao campo e as regiões periféricas a RELIGIÃO TRADICIONAL E SIMBÓLICA HAVERÁ DE MORRER.

Cuidam eles que poderão vencar o pentecostalismo, a RCC ou o modernismo no que tem de vulgar, por meio da polêmica intelectual... E no entanto esta polêmica intelectual não pode ser captada pela imensa maioria das pessoas e jamais poderá se-lo senão na medida em que o sistema econômico de amenize sob a pressão do socialismo.

Na medida em que o capitalismo produz miséria, alienação e ignorância solapa os fundamentos da religião tradicional e assenta as bases duma ordem totalmente subjetiva e imediatista que tende a beneficiar o pentecostalismo.

Foi esta reflexão que me levou a teologia da libertação e ao môdelo socialismo como únicas respostas possiveis a expansão pentecostal e fundamentalista. Minha aposta não é a polêmica de gabinete mas a redução do ritmo de produção, o aumento da qualidade de vida e especialmente o aprimoramento de nosso sistema de educação, somente este caminho poderá conduzir-nos a uma futura retomada do simbólico na arte e na religião.

O capitalismo, na medida em que exige o máximo do homem tendo em vista a produção de riquezas materiais, só poderia gerar pobreza e miséria imateriais, simplificando já as cerimônias religiosas, ja a própria arte.

Outro aspecto das expressões religiosas contemporâneas é que o culto divino cedeu lugar a uma terâpia charlatenesca ou há um esquema lúdico de lazer.

Explico: tendo de trabalhar sob o regime opressor do relógio durante 44 hrs semanais ou seja de segunda a sábado, só resta um dia para este homem complexado e neurótico, filho do capital, descontrair-se e buscar auxilio para seus problemas existênciais e este dia é o dia de Domingo, o dia em que justamente os consultórios psiquiatricos estão fechados (temo que mesmo que estivessem abertos nossos proletários não poderiam pagar pelas consultas) e no qual a mãe igreja cerébra seus oficios.

Acontece que a vida deste homem é regida por seu ritmo de produção: daí o rock, o gospel e a arte moderna... pois o dinamismo imposto pelo mercado penetra todos os seus póros levando-o ao paroxismo. O ritmo da igreja no entanto - refiro-me em especial ao da Igreja ortodoxa ou mesmo ao das igrejas tridentina e anglicana tradicional - é o ritmo da sociedade agrária em que ela nasceu e desenvolveu-se, com aquela placidez que o homem de hoje não pode mais compreender e que chega a lhe dar sono...

A falta de dinamismo nas cerimônias eclesiásticas aliada a fádiga faz com que o trabalhador adormeça durante seus ofícios...

E no entanto este homem não aspira por dormir! Mas por ser compreendido ou por divertir-se.

É ludens este homem como afirmou Huizinga e busca sempre alguma distração inda que sádia...

Coisa que não poderia encontrar no culto divino sob a forma tradicional.

Deve pois o trabalhador contemporâneo decidir entre a Missa ou alguma diversão... e não é para admirar-se que um numero cada vez maior de pessoas ponha a missa de lado e procure algum tipo de diversão com que entretecer seu dia de folga.

Por isso que nossas igrejas vão ficando vazias e os parques, e praias, e clubes, etc cada vez mais cheios...

O pentecostalismo e a RCC todavia acabaram por engendrar uma nova forma de culto, diferente de tudo quanto havia antes, e que comporta por assim dizer: algo de terapeútico e algo de lúdico sem renunciar as pretenssões de culto público...

Tais templos já foram classificados como clubes - Hipólite Taine - nos quais os amigos se encontram, canta-se a até dança-se com animação e escuta-se palavras de auto ajuda e encorajamento. As vezes há teatro, noutras são implementadas dinâmicas e noutras enfim há uma espécie de hipnose coletiva chamada cura interior...

Ali o homem houve o que deseja - que vai vencer, que vai triunfar, que tudo vai dar certo... - renuncia a seus medos e traumas e até descontrai-se um pouco...

Possui pois o culto pentecostal ou carismático este duplo aspecto do lúdico e do terapeútico, que o culto divino tradicional não possui e de fato não pode possuir por não pertender a sua natureza e a seu fim último.

É pois natural que aquele homem fatigado e sem dinheiro para pagar uma boa terápia ou assistir a um espetáculo de qualidade, vá a igreja, crendo inclusive que presta culto a Nosso Senhor Jesus Cristo na medida em que relacha e se liberta de seus medos...

E falando francamente nosso culto tradicional não lhe promete nada disto, pois está voltado unicamente para a glória divina. Ali o homem fatigado ouvirá coisas que não gostaria de ouvir e fará gestos que talvez não goste de fazer ou não compreenda... sinto dizer mais esta não é seu mundo, porque foi interiormente desumanizado pelo capital... brutalizado como está pela lei do dinheiro o culto divino e seus simbolos pouco ou nada lhe dizem a menos que seja reeducado pela catequeze empenhando nisto mais uma hora de seu precioso Domingo.

Reconhecemos que a diversão e a terápia sejam necessidades prementes na atual conjuntura e até somos a favor de que a igreja de Deus lhas patrocine sem no entanto associa-las ao culto divino. Seria de fato louvável que a igreja promovesse saraus, bailes, painéis, teatro, concertos e bailes, não porém associados ao culto divino...

Também seria digno de aplausos e encômios que nossas igrejas fornecem um auxilio médico e psiquiatrico a seus membros através de ações voluntárias.

É forçoso pois reconhecer que a situação atual favorece amplamente aos cultos pentecostais e carismáticos em detrimento do culto tradicional e que nem um nem outro procura libertar integralmente ao homem advogando a supressão do sistema econômico vigente.

Até seria demais exigir tal postura do pentecostalismo na medida em que sua razão de ser corresponde justamente a uma situação X criada e mantida pelo sistema e que a destruição do sistema poderia vir a prejudicar sua expansão.

Entretanto que o culto tradicional, que é a forma mais prejudicada pelo sistema, não se lhe oponha decididamente é algo que não logrei compreender até hoje.

Afinal nenhuma forma religiosa conseguiu sobreviver a custa das elites dominantes e esclarecidas as quais ou são incrédulas ou tendem ao ceticismo. As formas religiosas só podem manter sua vitalidade na medida em que contam com a adesão consciente do povo... e nosso povo não esta nem um pouco disposto a aderir ou a abraçar as formas tradicionais.

O que estamos assistindo hoje é uma cisão entre duas formas de culto: uma simbolica e tradiconal prevalecente nos meios mais abastados e cultos e de cuja cinseridade seriamente dúvido e uma simples, iconoclasta e animada prevalecente nos meios simples e incultos, de cuja cinseridade não dúvido mas cujos efeitos - como o criacionismo por exemplo - maldigo e temo.

Parece haver uma verdadeira luta de classes e môdelos de culto no Cristianismo hodierno, o que de modo algum é saudável, mas amplamente escandaloso se levamos em conta as críticas que procedem de fora.

Se desejamos pois manter a forma de culto tradicional a única alternativa possivel é nos aproximar-mos do povo e assumir-mos sua causa, esclarecendo-o como o pentecostalismo e as formas analogas de religiosidade inda não lograram fazer. De algum maneira advogo uma associação entre ideário progressista (TL) e a forma de culto tradioncal cujos meios sejam ou a Igreja ortodoxa ou a igreja anglicana.

Reformar o homem e suas condições sociais para que nosso culto não precise ser reformado ou destruido.

Lutar para elevar a qualidade de vida das pessoas para que elas possam estar a altura de nossa simbologia litúrgica tradicional e purificadas de todo e qualquer pensamento imediatistas.

Que venham a nossos templos em busca de Cristo e da vida da alma, que se prolonga até a eternidade e não em busca de tudo quanto são perfeitamente capazes de obter naturalmente com seus próprias mãos e esforços.

Sou pois a favor da riqueza litúrgica e do Cristianismo social e não vejo oposição alguma entre estas duas metas.

Pois na medida em que combato a forma litúrgica e deixo de esclarecer os fiéis sobre a verdadeira origem dos males e dos problemas que lhos afetam estou dividindo e fazendo o jogo da burguesia.

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