Sobre crianças e carnavais...

Neste período que estamos vivendo, as escolas infantis costumam promover um tipo de festinha, um "carnavalzinho" para os alunos.

É um sarrinho.

As crinanças vão com as mais variadas fantasias, pulam, brincam, se divertem, etc. Eu mesmo já vi um pouco de tais festinhas quando fui buscar minha filhota na escolinha dela.

Entretanto, eis que conversando com uma amiga minha, evangélica, ela disse categoricamente que não envia a sua filha nesta data na escola.

É aquela coisa da mentalidade evangélica, de que carnaval é uma coisa mundana, da qual os filhos de Deus não devem se misturar, nem algo aprender...

Bom...

Lembro-me de um texto de Tillich que li em que ele mencionava que, as regióes protestantes na Alemanha eram locais bastante sóbrios, organizados... tristes até. E que, quando iam se adentrando às regiões católicas, tinha-se a impressão de que se estava entrando em um mundo mais alegre, colorido...

Pois é. O catolicismo sempre parece ter mantido um diálogo mais aberto com a cultura local, pois é muito mais fácil esta religião se adaptar a uma certa "mistura" da qual o protestantismo, de modo geral, em suas versões mais radicais, não tem se permitido. Esta mistura, as vezes com, as vezes sem razão, tem sido acusada de fazer incorporar certos elementos estranhos a fé cristã, criando-se, algumas vezes, o fenômeno do "pagão batizado", tão discutido no meio católico, por homens como Hans Kung, Comblin, entre outros teólogos, mas isto é outro assunto...

Voltando pro caso das menininhas, a educação infantil é algo que me impressiona, me deixa perplexo.

Todos somos experts em educação, até passarmos pelo processo de pais e educadores.

Aí, já não sabemos nada. Os livros não contam. A experiência alheia não ajuda muito, visto que, mesmo em situações diferentes, saem resultados iguais, e mesmo em situações iguais, podem sair resultados diferentes.

Vi crianças serem educadas em sistemas rígidos, mas que, quando cresceram, se desviaram e nada querem saber de religião.

Vi crianças não terem quase nenhuma educação religiosa, e, quando crescem, se apegam bastante à fé.

E também vi crianças educadas em sistemas rígidos, e que hoje são ótimos cristãos, bem como filhos de pais relaxados que relaxados também estão, e sem nenhum interesse de mudar no que tange ao seu compromisso ocm Deus ou com alguma igreja.

Por isso, cada um de nós está, de certa forma, cercado por uma nuvem de testemunhas, mas restrito à sua própria situação existencial.

De qualquer modo, segundo li por aí, além de ser o que vejo por experiência, aqueles que são educados em sistemas rígidos, em sua maior parte, quando crescem, não querem nada saber de religião.

Daí, talvez, expressões históricas do cristianismo mais conservador estar tão em baixa ultimamente. Geralmente eles, os presbiterianos, luteranos, anglicanos, batistas, etc, muitos não lograram êxito em manter aceso o interesse das crianças na religião. Igual suspiro de tristeza também existe por padres da igreja católica, sendo até um ditado, ou um adágio talvez, que, a primeira comunhão, para a maioria, é uma forma de despedida da igreja, que conte, talvez, a volta de alguns destes jovens, ora em algumas visitas esporádicas, ora em algum ano distante...

Por isso, a educação dita rígida, fundamentalista, me assuta um pouco. Talvez estejamso criando uma nova geração de crianças que não suportarão mais a religião quando crescerem.

A maior parte de nós, crentes carismáticos ou pentecostais, geralmente fazemos parte da primeira geração de crentes.

Foi isso que eu pensei quando conversei com minha amiga, cuja origem é bastante parecida com a minha.

Se quiséssemos drogas, tinha. Se quiséssemos balada, tinha (e como tinha). Se quiséssemos sexo, tinha. Se quiséssemos armas, e o crime, estava tudo lá...

E efetivamente eu, mais do que ela, me envolvi com muitas destas coisas...

Mas hoje, cá estamos. Membros de uma boa comunidade, adultos responsáveis, pais razoáveis, cumpridores de seus deveres, mas acima de tudo, cristãos alcançados pela graça e misericórdia de Deus, profundamente tocados pelo amor divino.

Portanto, temos que tomar cuidado para que nossas regras, nossas disciplinas, nosso fundamentalismo não acabe por abafar, "enfeiar" tal graça na vida de nossos pequeninos. Criá-los em um gueto cultural talvez não seja a melhor solução (não digo que ela esteja fazendo isso).

Daí, não vejo problemas em deixar a filhota ir na escolinha no dia de carnaval, integrada com o grupo na qual ela está inserida. Peço a Deus que de algum modo a fé cristã faça diferença na vida da minha pequena garotinha, quando estiver pulando, dançando, e se relacionando lá. Acho que a fé cristã não tem o condão de romper com as manifestações culturais de seu próprio meio, mas sim de integrar tal cultura a algo de mais belo, mais divertido, mais fraterno.

Sei que não tenho manual, sei que posso errar em minhas decisões quanto a mim mesmo e os meus, mas, conforme já disse, vou caminhando, ora retamente, ora cambaleando, mas vou caminhando....

Pois é. O que a paternidade nos faz pensar, não é mesmo?

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