Fé e Dúvida


"Pensada de forma radical, a experiência da fé se revela como irmã gêmea da dúvida. Não, de forma alguma estou sugerindo que falte alguma coisa a fé, que a fé seja incompleta por estar ainda assombrada pela dúvida. Exatamente o contrário. Fé e dúvida se pertencem. A dúvida é uma das dimensões da fé, exatamente porque existe um abismo intransponível entre a intensidade da paixão subjetiva e a incerteza permanente da experiência objetiva.


(...)

Na realidade existe uma incompatibilidade entre a certeza objetiva e a paixão da fé....

(...)

Tudo o que é objetivamente verdadeiro permanece dentro da esfera do finito. E 'aquilo que é finito para a compreensão é nada para o coração'. A verdade objetiva, portanto, não pode ser objeto de fé: ela nada tem a dizer acerca do sentido da vida.

(...)

Podemos, pela linguagem, tentar descrever a beleza de uma sonata de Mozart. A descrição brota de uma experiência de beleza. Mas ninguém seria tolo a ponto de pensar que aquele que entendeu a descrição se apropriou, ao mesmo tempo, da experiência estética que ela confessa. A confissão expressa e revela uma experiência. Mas aquele que confessa sabe da incomensurabilidade entre o sentir e o falar. A fé, portanto, proibe que se cristalize uma linguagem absoluta. Porque a experiência de fé não pode ser expressa diretamente, todas as formas de linguagem são inadequadas. Em outras palavras, a fé proíbe o dogma".



(Rubem Alves em "Religião e Repressão, Teológica/Loyola, p. 108-110)

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