Quando oramos mal



Certa vez, os discípulos de Jesus se aproximaram dele e lhe fizeram a ele o seguinte pedido: "ensina-nos a orar" (Lc 11.1). Hum... Até os apóstolos precisaram aprender a orar. Orar não é algo que a gente já nasce sabendo. Jesus considerou tão relevante aquela solicitação que passou imediatamente a ensinar-lhes a orar, apresentando-lhes uma oração que lhes serviria de modelo por conter os princípios fundamentais da boa oração.

Alguém poderia aqui conjecturar: "Então, quer dizer que existe oração má?" Sim, existe oração má, quer por não glorificar a Deus, quer por estar completamente fora dos propósitos divinos. Vejamos:

Oramos mal por ignorância, pois "não sabemos orar como convém" (Rm 8.26-27); porque nosso conhecimento sobre todos os fatores e implicações futuras é limitado, de modo que "o coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa vem do Senhor" (Pv 16.1); 

Oramos mal por ambição carnal como bem apontou o Apóstolo Tiago: "Pedis e não recebeis, porque pedis mal para esbanjardes nos vossos deleiteis e prazeres" (Tg 4.3); 

Oramos mal por orgulho, egoísmo e presunção espiritual tal como o fariseu que orava sentido-se superior ao publicano (Lc 18.9-14); 

Oramos mal por desconhecermos a verdadeira natureza de Deus: “Vós adorais o que não conheceis” (Jo 4:22). 



Oramos mal quando agimos como os pagãos que se valem de vãs repetições acreditando que por muito falarem é que serão ouvidos (Mt 6:7,8); 

Oramos mal quando usamos a oração como instrumento de autopromoção como faziam muitos fariseus que gostavam de orar para alcançar prestigio espiritual em suas comunidades (Mt 6.5); 

Oramos mal quando estamos, ao mesmo tempo, tratando indignamente as pessoas do nosso convívio:

Quanto a isto Pedro adverte: “tratai vossas esposas com dignidade para que não se interrompam as vossas orações” (1 Pe 3.7); 

Oramos mal quando somos impiedosos como aquele credor incompassivo da parábola, que tendo sido imensamente perdoado, na sequência, não usou de misericórdia para com aquele que lhe devia (Mt 18.21-35 e Mt 6.35); Pois quem depende da misericórdia divina deve também tornar-se misericordioso e perdoador.

Oramos mal quando conservamos mágoa e não estamos abertos a reconciliação, não atentando para a seguinte exortação do Apósto Paulo: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja em vós alguma raiz de amargura..." (Hb 12.14,15); 

Oramos mal quando oramos sem fé, pois devemos pedir "com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa” (Tg 1.6,7; ver também Hb 11.1 e Mc 11.24); 

Oramos mal quando não estamos dispostos a produzir frutos para a glória de Deus e nem buscamos o seu Reino em primeiro lugar, pois Jesus nos vocacionou para sermos frutíferos e para que o nosso "fruto permaneça; a fim de que tudo o que pedirmos ao Pai em nome de Jesus, nos seja concedido...” (Jo 15.16; Mt 6.33); 

Oramos mal quando não oramos diretamente ao Pai em nome de Jesus, como ensinava ele dizendo ao seus discípulos, que: “... se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome” (Jo 16.23); 

Oramos mal quando dirigimos nossa oração aos santos que já morreram, algo que foi terminantemente proibido por Deus, que disse ao seu povo: “não acharás entre ti quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor" (Dt 17.10,11) e, no mesmo sentido também falou através do profeta Isaías, questionando: "a favor dos vivos se consultarão os mortos?" (Is 8.19); 

Oramos mal quando solicitamos a mediação de qualquer outra pessoa que não seja Jesus, “porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2.5; ver também At 4.12; Hb 9.15 e 12.24); Jesus é nosso único advogado perante Deus (1 Jo 2.1); Jesus é também o único caminho para Deus (Jo 14.6); Ele é o nosso supremo sumo sacerdote que, por tudo que sofreu, sabe exatamente como nos sentimos, sendo capaz de compadecer-se de nós, de modo que, em parceria com o Espírito Santo (Rm 8.26), nos socorre em nossas fraquezas, vivendo a interceder a nosso favor  diante do trono de Deus (Hb 4.14-16; 7.25).

Vemos aí que o Senhor Jesus não apenas nos ensina a orar, como também intercede por nós. Com um reforço deste, os cristãos sinceros têm esperança de que suas orações imperfeitas, mesmo as do tipo que produzem os gemidos inexprimíveis do Espírito, alcançarão o trono da graça. 

E, como oração não é monólogo, mas, sim, diálogo, neste processo de orar, estamos também ouvindo a Deus, o que propicia o desenvolvimento de nosso relacionamento com ele, nos levando a conhecê-lo melhor, a admirá-lo mais, e ao desejo profundo de nos tornarmos cada vez mais parecidos com nosso grande Pai. Portanto, quando não nos conformamos com este mundo, mas buscamos a transformação pela renovação do nosso entendimento (Rm 12.1), alcançamos a mente de Cristo (1 Co 2.16; Jo 15.7) de modo a orarmos cada vez  melhor de acordo com aquela que é a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2). E já podemos começar orando assim: "Jesus, ensina-nos a orar!"

Em um próximo programa, estaremos estudando a oração do "Pai Nosso" para aprender de Jesus os princípios de uma boa oração.

Oro para que o Senhor o ajude em sua caminhada cristã. Até breve se o Senhor assim o permitir. Um grande abraço e fique na paz do Senhor.

Bispo Ildo Mello
www.metodistalivre.org.br

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