Homoafetividade e Promiscuidade


Trecho da entrevista de Ricardo Gondim à revista Carta Capital:
CC: O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?
RG: Sou a favor. O Brasil é um país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossensuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.

Um aluno, colega meu, indignou-se com este trecho da entrevista do Ricardo Gondim, e ficou como que pasmo, como quem não acreditara no que acabara de ler.

Dizia: “eu não acredito que o Pastor Ricardo é a favor da união entre homossexuais”.

Aí, eu que não tinha lido a entrevista, mas conhecendo o pensamento relativamente progressista de alguns evangélicos, notadamente do Gondim, disse que provavelmente o mencionado pastor estava se referindo à união civil, o reconhecimento jurídico de tal união, coisa que é defendida por muitos outros pastores.

Foi então que outro aluno disse: mas o Gondim falou que é diferente ser promíscuo e ter relação homossexual. Ser homossexual já não é ser promíscuo?

Aí, eu respondi: “Não necessariamente. Alguém pode ser homossexual e nem ter relações homossexuais”. Ou seja, pode ter a tendência a não sentir atração pelo sexo oposto, e nem por isso, praticar com alguém do mesmo sexo.

Obviamente, perguntaram, como pode alguém ter uma relação estável, como o Ricardo disse, e ainda não ser promíscuo...

Eu já estava me sentindo o advogado do Pr. Ricardo, e disse que precisava ler a entrevista primeiro (isso, sem falar quando me perguntam de teísmo aberto, e coisas do tipo...).

Agora que li, penso que minhas intuições se confirmaram, então, passo a formular minha opinião acerca da questão.

Promíscuo é alguém descontrolado sexualmente, praticando sexo com várias pessoas, sem pudor, etc, pode ser homo, pode ser hétero. Não tem a ver com a orientação sexual.

Daí, alguém que viva em união estável com um único parceiro, estará praticando o homossexualismo (ou expressando sua homoafetividade, conforme muitos preferem), mas não estará sendo promíscuo, tecnicamente falando. Penso que a distinção é esta, e penso que é isso que o Pr. Ricardo quis dizer.

É muito difícil para a mentalidade conservadora de boa parte dos evangélicos aceitar este tipo de distinção. Entendem que só pelo fato de alguém ser homossexual já será promíscuo, necessariamente. Não comungo desta opinião.

Algumas igrejas, como parte dos anglicanos e luteranos no Brasil (e no mundo), estão acolhendo este tipo de parceiros homoafetivos. Entendem que assim fazendo, fortalecem os valores da família entre os tais, e os livra da promiscuidade, do abandono, sem a necessidade de que estes precisem criar igrejas "guetos", quase que exclusivamente para gays. Entretanto, as Escrituras, sejam do Novo, ou do Antigo Testamento condenam a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo, ou qualquer outra que seja realizada fora do matrimônio.

Comentários

  1. Achei muito interessante seu ponto de vista e confesso que também fiquei surpresa com o comentário do Gondim, já tinha visto antes, porém Deus não acha o homossexualismo uma promiscuidade? Independente de ter relação afetiva e apenas com um parceiro (a)? Acho que é por isso que assusta tanto um evangélico dizer publicamente que concorda com o casamento gay. Realmente é um assunto muito delicado.
    Pelo pouco que entendo, pouco mesmo, acho que é pecado, pois Deus diz não ser natural que uma pessoa sinta atração por outra pessoa do mesmo sexo, mesmo que seja o mais puro amor. O que acha?

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  2. Oi, Fernanda. Desculpa a demora em responder...

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  3. ...mas é que eu, o dono do blog, do meu computador, não estou conseguindo postar com o meu perfil...
    Realmente, a maior parte dos evangélicos entenderá que uma relação homossexual, por mais amor que tenha será sempre promíscua. E é um direito que têm (por enquanto) de pensarem assim.
    Entretanto, eu entendo que, tecnicamente falando, a promíscuidade é um conceito que existe para além da orientação sexual de alguém. Um hétero pode ser promíscuo. Com isso, não quero dizer que a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo não seja pecado. Mas uma relação homoafetiva, em que haja amor, não se resume à questão sexual. Há fidelidade, amizade, companheirismo, mútua-doação, etc; valores que não existem em um promíscuo.
    Daí, para um diálogo na sociedade, entendo que os conceitos não devem ser confundidos.
    Um grande abraço! Carlos Seino.

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