Dialogo entre o Cristão e o judeu sobre o 'homem da dor' (Isaias 53)

Issac - Rabino
Nectário - Bispo Ortodoxo



Isaac: Como vós cristãos sois capazes de admitir que Yoshua ben Pandira é o Messias anunciado pelos profetas se ao invés de 'aniquilar os ímpios com o sopro de sua boca' pereceu miseravelmente entre dois ladrões?
Nectário: Cremos que Jesus Cristo, filho da perpetuamente Virgem Maria, é de fato o Cristo anunciado pelos Santos profetas porque esta escrito:

"Era desprezado como rebotalho da humanidade, homem cheio de dores, iniciado nos sofrimentos; como aqueles diante dos quais se vira rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.

4. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, provado por Deus, abatido e humilhado.

5. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; a punição que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças a seus ferimentos.

6. Todos nós vagavamos dispersos como ovelhas sem pastor, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o juizo das faltas de todos nós.

7. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, não tomou defesa, como um cordeiro levado ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.)

8. Por um iníquo julgamento foi suprimido. Quem pensou em defender sua causa, quando foi cortado entre os filhos dos homens, morto pelo pecado de meu povo?

9. Foi-lhe dada sepultura ao lado de criminosos e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira.

10. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; e tendo ofertado a si mesmo como holocausto terá uma posteridade duradoura, prolongará sua herança entre os mortais, e a vontade do Senhor será por ele realizada.

11. Após suportar em sua pessoa grande padescimento, será capaz de consolar seus irmãos. Sim, o Justo, meu Servo, justificará todos os homens, e tomará sobre si suas iniqüidades."




Isaac:: Vós nazarenos nada sabeis sobre nossos Santos livros sendo incapazes de compreeder o que foi escritos pelos profetas do Povo.
Ignorantes como sois a respeito dos Escribas e doutores de Israel não é para admirar que sustenteis a doutrina blasfema segundo a qual vosso falso messias Yoshua ben Pandira é o objeto deste oráculo.
Nós no entanto sabemos que o homem das dores e iniciado nos sofrimentos, simboliza o povo de Israel, abandonado por deus, exilado em terra estrangeira, ferido, abatido e esmagado por causa de seus pecados.
Nectário: Sustentais pois que o vaticinio do profeta não se aplica a qualquer mortal filho de mulher, mas a todo povo de Israel levado ao exílio por Nabucodorosor da Babilônia?
Isaac: Nem podemos nós, filhos de Abraão, compreender doutra forma as palavras sagradas, indubitavelmente referem-se elas ao povo de Israel e a tribo de Judá.
Nectario: Mesmo com toda boa vontade do mundo parece-me impossivel admitir vossa interpretação.
Isaac: Não percebo qualquer impossibilidade...
Nectário: Observe rabino que a entidade a que se refere o profeta deve distinguir-se do povo, porque foi morta pela iniquidade do povo. V 08
Logo, se foi morto pela iniquidade do povo, não pode ser o povo...
Por outro lado o profeta, empregando o plural e inserindo-se no plano coletivo do povo, diz em nome do povo que a personagem descrita, foi ferida pelas iniquidades e carregou os pecados do povo.
Ou quereis que acreditemos que o povo foi ferido, esmagado, abatido e morto pelo povo?
Isaac: Não disse que o povo morre pelo povo ou coisa semelhante mas que nossos tanains, amorains e sábios ensinaram que por homem devemos compreender povo.
Nectário: Embora não tenhais dito que o povo morre pelo povo, esta é a única conclusão que podemos tirar partindo da opinião de vossos sábios e doutores e do anuncio segundo o qual o objeto do anuncio seria morto pelos pecados do povo. Limita-mo-nos a tirar as conclusões...
Isaac: De minha parte prefiro ficar com as tradições dos pais do que com vossos raciocínios e conclusões sacrilegos.
Nectário: Bem vejo que não argumentais com seriedade sr Rabino. Pois tenhamos ou não razão estaremos sempre errados pelo simples fato de sermos cristãos e não judeus, enquanto vossos antessapados estarão sempre corretos mesmo que suas explanações comportem os mais grosseiros ilogismos. Com gente semelhante a vós não é possivel argumentar.
Isaac: Tendo Isaias escrito sua profecia em hebraico e não em grego ou em qualquer outra lingua pagã não é bem mais seguro crer que nossos mestres e doutores conheçam o sentido melhor do que vós?
Nectário: Podeis recorrer a qualquer versão hebraica ou aramaica e não conseguireis obscurecer o sentido da profecia, pois a menos que haja falsificação, todas as versões e traduções existentes distinguem muito bem o povo da entidade que é esmagada pelo povo e morta por ele.
Do contrário dizei-me rabino, porque vosso povo foi regeitado, esmagado, triturado, exilado?
Isaac: Porque segundo o profeta Jerusalem havia fornicado com os egipcios e outros povos pagãos, voltado suas costas a Adonai, prestado culto as falsas divindades, erguido estatuas e simulacros, passado os filhos pelo fogo, abandonado os sábados e as luas novas... outro de nossos videntes descreveu o santúario repleto de deuses mortos e idolos podres: a cruz de Tammuz, a estrela de Tanit, o altar de Renfan... diante disto o Senhor ardeu em zelo e seu ciume consumiu a cidade.
Nectario: Foram pois vossos antepassados que provocaram a ira do Senhor?
Isaac: Os videntes e profetas afirmaram que nossos pais pecaram gravemente, insultaram o nome e por isso foram exilados as margens do Cobar entre os salgueiros de Madain.
Nectário: Admitis pois que o povo fosse pecador?
Isaac: Nem podemos compreender que tenha sido castigado sem que antes tenha pecado e irritado o Santo e Bendito.
Nectário: Confesai pois que o oráculo de Isaias não diz respeito a vosso povo.
Isaac: Porque haverei de confesar uma opinião contraria de nossos sábios?
Nectario: Porque disseste que vosso povo pecou, enquanto Isaias referindo-se ao 'homem das dores' afirma que sua boca não conheceu a mentira e que ele jamais cometera uma só iniquidade.
Vosso profeta no entanto diz, em nome do povo: 'Da mentira fiz meu escudo' (Is 28,15) e também: 'Não fazeis justiça ao orfão e a viúva. (id 1,23)
Isaac: Vós cristãis não cessais de distorcer nossos textos sagrados com o intuito de exaltar o filho da fiandeira.
Nectário: Em vão citais nomes e mais nomes de escribas e targumins, pois sabemos que vossos pais lutaram e deram combate aos reis da Assiria e da Babilônia.
Isaac: Decerto lutamos contra os gentios que desejavam arruinar nossa cidade santa e profanar nosso santuario, mas quem em nosso lugar não teria resistido e lutado bravamente?
Nectário: Não cabe a mim que sou homem como tu julgar as ações de teus antepassados, no entanto Isaias, referindo-se ao 'homem das dores' afirma que ele não resistiu, não abriu a boca, não lutou, não protestou... deixando-se abater por seus inimigos como um cordeirinho.
Logo, o oráculo do profeta não poder dizer respeito ao vosso povo pois vosso povo jamais se entregou aos assirios, babilônicos ou romanos como um cordeirinho.
Isaac: Bem vejo que vossa adoração ao filho do adultério torrou vossos miolos... e percebo que fazeis parte duma raça maligna que ignora por completo os mistérios divinos e zomba dos oraculos sagrados.
Nectário: Tampouco percebo que vosso povo tenha sido enterrado ao lado de criminosos ou que tenha irmãos para consolar... Nosso Jesus no entanto foi verdadeiramente sepultado entre malfeitores e sua morte tem servido de balsamo e lenitivo a milhões de seres humanos, seus irmãos, por obra e graça da Encarnação.
Isaac: De fato vós cristãos jamais cessais de blasfemar e de ofender aos céus.

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