Dialogo sobre a existência de Deus - provas de cárater subjetivo

Diagoras - Bispo Ortodoxo
Henrique - Pensador agnósta


Henrique: Além das provas tradicionais, que outras provas poderias elencar que sejam favoráveis a existência de deus?
Diagoras: Diversas são as evidências que corroboram a existência de Deus.
Henrique: Mostra-me as evidências.
Diagoras: Penso que já esta suficientemente demonstrada a tése de Cícero e de Plutarco segundo a qual não existem povos ou sociedades sem Deus
A suposição contrária, levantada por inumeros sociólogos e antropólogos ateus, mostrou-se falsa e inconsistente com relação aos pigmeus, os alacalufes, os tasai, etc
Destarte tornou-se díficil apresentar o conceito de Deus como produto da cultura, uma vez que não há uma única cultura ateística.
Henrique: Ouvi dizer que os alacalufes eram verdadeiramente ateus.
Diagoras: Sinto ter de classificar vossa afirmação como falsa, pois os alacalufes não só eram teistas como monoteistas prestando culto a Alep Láyp (Ser Bom) ou a Kercis Ark ou Espírito afortunado.
Henrique: Jamais ouvi dizer que os pigmeus ou tasais fossem teistas.
Diagoras: Também os pigmeus sustentam entre si a existência de um Ser Supremo, bem como a sobrevivência da alma, relutam no entanto a exprimir suas crenças perante os brancos que consideram como impuros ou profanos.
Quanto aos tasai, que são considerados como os derradeiros representantes da cultura pré histórica, também ficou demonstrado que não só eram teistas como monoteistas.
Podemos pois afirmar e com pleno conhecimento de causa que jamais houve sequer uma cultura ateistica.
Henrique: Seja lá, todavia não atino no que semelhante constatação atinja o ateismo.
Diagoras: Do fato segundo o qual não existe um só elemento cultural que seja universalmente homogêneo, somos levados a concluir que a idéia de Deus, sendo captada pelo homem num contexto que é cultural, supera e transcende as fronteias ou limites da cultura.
A cultura é localizada ou situada no espaço. A idéia de Deus é universal o que nos leva a supor que sua captação por nosso aparelho cognitivo é como que uma necessidade, correspondendo por isso mesmo a algo real.
Henrique: Neste caso a idéia de Deus seria o único elo de ligação ou elemento comum entre todas as culturas do universo?
Diagoras: Tomemos os Tasai a guiza de exemplo.
Quais seus elementos culturais característicos?
Consideremos os elementos mais comuns como alimentação e vestimentana medida em que correspondem a necessidades físicas.
  • Os alacalufes raramente cobriam seus corpos com peles de foca, limitando-se a cobri-los com gordura de baleia, já os pigmeus usavam uma tanga grosseiramente tecida enquanto os tasai envolviam seus corpos com folhagens e fibras. Em qualquer destas culturas a nudez provocava qualquer tipo de constrangimento enquanto em diversas outras culturas era encarada como uma ofensa ou pecado.
  • Os tasai possuiam eram coletores e seu principal instrumento uma pedaço de pau empregado com o intuito de coletar tuberculos. Sabemos no entanto que os corvos e os macacos também recorrem a pedaços de pau com o objetivo de extrair vermes dos troncos de certas arvores. Por outro lado as raras ferramentas de pedra destes três povos possuiam formas diferentes.
  • Os tasai em especial bricam, tal e qual os alacalufes e os aborigenes australianos. O lúdico no entanto é comum a quase todos os tipos de mamiferos e a forma de exprimi-lo ou de po-lo em prática variada e não uniforme.
  • O uso do fogo é comum mas a forma de produzi-lo diversa.
  • Os tasai são monógamos enquanto os alacalufes eram geralmente poligamos, portanto o conceito de estrutura familar variava entre tais povos e todos os outros. Não existe qualquer forma abstrata de família universalmente aceita.
  • Entre os Tasai não há nem pintura, nem escultura, nem dança, nem música ou qualquer tipo de expressão artística, o que é bastante significativo.
A conclusão salta a vista> a idéia de Deus é o único elemento abstrato existente entre a cultura tasai e comum as culturas aborigene, alacalufe e pigméia. logo a única idéia ou noção comum a todos os povos e culturas humanas e a todos os homens que não foram educados na crença do ateismo.
Portanto o teismo é mais natural do que cultural, enquanto o ateismo é artificial ou puramente ideológico.
Henrique: Não seria possivel que figura de deus tenha sido inventada numa determinada época e lugar e no decorrer do processo histórico atingido todas as outras culturas.
Diagoras: Neste caso, devido a precariedade dos transportes e dos meios de comunicação que acarretou o isolamento de continentes inteiros fica díficil entender como nenhuma pequena comunidade de ateus não tenha conseguido sobreviver isolada em qualquer canto do universo. Penso que seja muito díficil levar a sério a suposição difusionista.
Henrique: Talvez o conceito de deus seja o único conceito comum presente em todas as culturas humanas e sem embargo falso.
Diagoras: Sendo falso o único elemento comum que dizer então dos elementos multiples ou diferenciados?
Henrique: Admitido que o conceito de Deus seja o único conceito universalmente comum corresponda a um engano ou a uma ilusão nada nos impediria de por em dúvida todos os conceitos particulares ou localizados e de mergulhar no ceticismo mais absoluto e avassalador.
Diagoras: Sou da mesma opinião, quem ousa por em dúvida a existência do mais evidente dentre todos os seres, tenderá por via de coerência a duvidar de absolutamente tudo.
Por outro lado seriamos levados a perguntar se a doutrina da duvida universal pode ser posta em prática ou vivida?
Henrique: A experiência do dia a dia basta para provar que o ceticismo absoluto não pode ser vivido ou posto em prática.
Alias trata-se em perpétua contradição consigo mesma pois quem suspende o juizo e pretende duvidar de tudo deveria - por força de coerência - duvidar do próprio ceticismo o qual no entanto é um enunciado de cárater positivo.
Diagoras: Tua confisão exprime a verdade nua e crua.
Henrique: Tens alguma outra prova a acrescentar?
Diagoras: Sim, ainda outra.
Henrique: Então fala.
Diagoras: Na tua opinião qual seria o valor da justiça?
Henrique: Platão no livro da República fez da justiça o fundamento da sociedade ideal.
Diágoras: Efetivamente Platão apresentou a justiça como o fundamento de sua cidade, no entanto que significa a justiça para a pessoa humana, digo para a própria pessoa.
Henrique: Ihering, na 'Luta pelo direito' afirma que a justiça é como que o fundamento da dignidade humana a qual por isso mesmo sente-se ferida por qualquer ato de injustiça.
Diagoras: E no entanto nosso mundo comporta inumeras situações de injustiça.
Henrique: Chego a termer que as situações de injustiça superem as situações de justiça.
Diagoras: Partindo da definição clássica segundo a qual exercer a justiça é atribuir a cada qual aquilo que lhe convem por direito em virtude de suas ações boas ou más, como as coisas deveriam se suceder num mundo digno de ser considerado justo?
Henrique: Num mundo considerado justo os maus deveriam sofrer a pena devida por suas ações iniquas e os bons obter os prêmios devidos por suas boas ações.
Diagoras: No entanto o mundo real é mesmo assim?
Acaso não vez o ímpio, ao menos algumas vezes viver em meio a gozos e prazeres e morrer sem vir a sofrer qualquer tipo de dano?
Henrique: Contra fatos não há argumento possivel.
Diagoras: Noutras vezes não acontece justamente o contrário, quando uma pessoa honesta e irrepreenssivel, após experimentar as mais terriveis agruras no decurso da vida vem a perecer miseravelmente em meio aos mais atrozes sofrimentos?
Henrique: Contra fatos não é possivel opor qualquer tipo de argumentação.
Diagoras: Concluimos pois que nem sempre ou melhor que quase nunca a justiça perfeita tem seu cumprimento neste mundo.
Henrique: Mesmo quando tentamos realizar a justiça em nossos tribunais, erramos e errando agravamos ainda mais a injustiça.
Diagoras: E no entanto todos aspiramos por ver realizada a justiça.
Henrique: Ao menos no que tange a gente honesta e decente todos gostariam de ver a justiça realizada.
Diagoras: No entanto caso não apostemos na hipótese da imortalidade da alma, devemos confesar que tal esperança é utópica ou vã.
Pois muitas vezes o que é feito aqui não se paga...
Desaparecendo os maus com vantagem e os bons com prejuizo.
Henrique: Ao que parece a vida presente é mesmo assim: vitória da injustiça e triunfo da iniquidade.
Diagoras: A crer em tuas palavras as melhores aspirações do homem ficam frustradas.
Henrique: É melhor aceitar as coisas como elas são...
Diagoras: No entanto tal perspectiva não é lá muito estimulante.
Henrique:...
Diagoras: Considera porém que existe Deus...
Considera também que a alma sobrevive a morte.
Considera ainda que após a morte o homem seja capaz de instruir-se, arrepender-se e de reparar seus erros caso tenha vivido desastrosamente, ou de peregrinar por outras esferas, aprender e experimentar uma felicidade incomum caso tenha vivido corretamente em obediência a lei natural ou a lei divina do Evangelho conforme a luz a que tenha tido acesso.
Neste caso não fica satisfeita sua aspiração por justiça?
Henrique: Admitindo que Deus exista e que a alma sobreviva a morte é possivel que a justiça seja satisfeita em suas exigências.
Diagoras: Julgo portanto que Deus deva existir e que tenha estabelecido um processo espiritual capaz de recompensar os bons e de corrigir os maus.
Henrique: Penso que não devemos passar do plano ideal para o plano real.
Diagoras: Penso que o homem seria o mais desgraçado de todos os seres caso fosse capaz de imaginar certo bem e de aspirar por ele sem no entanto ser capaz de frui-lo.
Pois bem, caso não exista Deus nem imortalidade, todo homem bom e honesto é na verdade um infeliz que jamais virá a tomar posse daquilo que tão ardentemente deseja, a saber, o triunfo do bem e da justiça.
O leão que caça, come, bebe, dorme, gera, não raciocina e não entertem qualquer ilusão em torno do que seja justo ou injusto é certamente um bemaventurado em comparação com o homem justo frequentemente confrontado por sua consciência.
Henrique: Talvez de fato o homem seja o mais infeliz de todos os seres na medida em que deixa-se levar por seus devaneios de justiça, ideais de retidão e sonhos, enquanto as feras simplesmente vivem... e talvez diante de toda esta comédia ou tragédia da vida a melhor solução seja sair de fininho pela porta dos fundos como fizeram Sêneca e Catão...
Diagoras: Sêneca e Catão no entanto acreditavam firmemente num ideal imperecivel de justiça e buscaram a morte esperando encontra-lo... os suicidas ateus encontraram o caminho do absurdo apontado por Camus. Porque enfrentar ou viver o absurdo.
Na verdade o homem é um ser que busca um sentido para viver e sem Deus, imortalidade, próximo, amor, bondade, justiça, tolerância, paz, etc não há sentido, só angústia e desespero.
São os princípios e valores fundamentados na existência de Deus e na imortalidade que injetam no bicho homem a força necessária para viver num mundo em que o real se choca com o ideal porque se aspira.
Henrique: Embora não esteja certo a respeito de qualquer coisa é possivel que haja algo de verdadeiramente belo ou sublime nesta visão.


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