Religião e opressão da mulher

Acabo de ver no noticiário da Record como vivem algumas mulheres afegãs que foram presas por cometerem algo que é considerado um crime pela cultura local. Uma destas mulheres foi condenada a cinco anos de prisão por ter fugido com o namorado, que também foi preso. Depois, irá para um abrigo de mulheres, visto que foi rejeitada pela família.

Depois, a matéria ainda falava de diversas práticas em relação às mulheres pela cultura local; entre as tais, a de que a palavra o testemunho de um homem vale o de duas mulheres, a proibição, de modo geral, para o trabalho, estudo, etc, que não sei se é uma proibição geral.
Um professor meu de antropologia me contou a seguinte estorinha, que achei interessante (ou talvez uma grande bobagem) para entender o fenômeno religioso em relação às mulheres. Conta-se que nossos ancestrais machos tiveram inveja das mulheres, pois somente estas podiam procriar. Como vingança, já que os homens não podiam criar seres de carne e osso, começou a dar vida a seres espirituais, ou seja, criou a religião, que, segundo ele, é um fenônemo eminentemente masculino, embora haja muitas exceções. Na religião patriarcal, a mulher não tinha vez, sempre foi considerada um ser inferior; e assim foi praticamente em todas as religiões; e o cristianismo parece não ter sido exceção, embora todos saibam a honrosa posição que os evangelhos conferem às mulheres e aos mais discriminados pela sociedade de então.
 
Atualmente, cristãos das mais diversas denominações discutem a questão da ordenação feminina, e que esta possa exercer todas as prerrogativas exercidas pelos homens. Alguns, por exemplo, criticam a Igreja Católica pelo fato dela defender os direitos humanos, mas afirmando que estes não se configuram nem mesmo na velha Igreja Romana (no que tange às mulheres). Duro é ler quantas mulheres, talvez milhares e milhares, que foram sacrificadas e condenadas por bruxaria na Idade Média e no início da Idade Moderna (também por protestantes). Porque foi sempre tão difícil cumprir a regra de ouro, qual seja, amar o próximo como a ti mesmo?...
 
Bom... escutei um certo alguém dizer: "quem fala mal das mulheres, desonra os seios que o amamentaram..." Que possa cessar a violência contra a mulher, seja em nome da religião, ou de outra coisa qualquer

Comentários

  1. Convém lembrar que o fundamentalismo islâmico deve ser compreendido como produto da exploração econômica exercida por países nominalmente cristãos - como os estados unidos da américa do norte - em tais países e sobretudo como forma de resistência cultural.

    Julgo que os amigos protestantes bem fariam em ponderar e considerar os motivos porque num país economicamente próspero em cuja população é medianamente instruída, um pastor como Jerry Fowles, defendeu - até sua morte, sucedida a alguns anos - a retomada do escravismo, o apedrejamento de mulheres adulteras e a 'reeducação' de homossexuais, além da sacralidade do liberalismo econômico... Pat Robertson segue na mesma esteira de seu companheiro, ulemá Fowles.

    Penso que o protestantismo Yankee - de matriz calvinista e cujos tentáculos a século e meio estendem-se pelo Brasil, destruindo nosso modelo humanista de homem jovial -tenha telhados de vidro, tanto quanto o islan.

    Ambas são religiões do livro, livro muitas vezes posto nas mãos das massas medianamente instruidas numa perspectiva plenária, verbal e linear.

    Não vejo em que o fundamentalismo yankee seja menos deletério que o islâmico exceto pelo fato do primeiro ser contido - nos EUAN - pelos ateus, materialistas, incrédulos, judeus e papistas. Paz e bem.

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  2. Concordo com muito do que dizes, caríssimo Professor.

    Entretanto, creio que o fato de ser explorado economicamente não justifica a terrível opressão contra as mulheres.

    Tenho a impressão que a economia de mercado, com o passar do tempo, proporcionou a possibilidade de das mulheres emanciparem-se economicamente no Ocidente, o que possibilitou lutarem pelos seus direitos no campo político e jurídico.

    O ultra-fundamentalismo protestante, que defende a escravidão e o apedrejamento de mulheres não é melhor do que o islamismo de modo algum. O protestantismo, como outros fenômenos religiosos, tem suas ambiguidades. Produziu um Pat Robertson, mas produziu também um Luther King. Produziu machismo, mas também produziu as igrejas que ordenaram mulheres e homoafetivos declarados. Enfim, na hermenêutica do próprio protestantismo se encontra, muitas vezes, elementos para combater os seus excessos, o que, s.m.j., talvez não se encontre no Islã, no primeiro momento.

    Particularmente, entendo que os EUA é diferente dos países islâmicos, pois um dos elementos do fundamentalismo protestante norte-americando é a separação da Igreja e do Estado, proporcionando a liberdade religiosa naquele país desde suas origens (com recuos e avanços, creio). É justamente por ser um Estado Laico que faz com que todos, de um modo ou de outro, possam conter todos, havendo na sociedade um verdadeiro sistema de freios e contra-pesos, o que nos países islâmicos, s.m.j., não pode ocorrer. Catolicismo Romano, Ortodoxia e Islamismo crescem, em alguns momentos, até mais que o próprio protestantismo naquele país. Tais paises, islâmicos, talvez precisem passar pelo seu próprio Iluminismo, separando a Religião do Estado, segundo um dia um professor meu opinou.

    Grande abraço, prezado amigo.

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  3. Paz e bem

    É verdade que a opressão econômica não justifica a opressão machista.

    Julgo que o termo justificar seja inadequado. Justificar é por assim dizer anti científico e em certa medida passional.

    Compreender é o que buscamos e não podemos compreender um tipo de opressão isolando-o das demais, a opressão costuma ser solidária. O mecanismo de solidariedade cultural foi deslindado por Alfred Weber e Max Weber.

    Penso que numa perspectiva realista não seja prudente excluir o fator material ou econômico. Naturalmente que o marxismo ortodoxo dele abusa até a metafísica... Abuso no entanto não tolhe o uso.

    Aristóteles há muito estabeleceu a relação entre as condições materiais e os fenômenos sociais e humanos, tese desenvolvida brilhantemente por Dikearkos de Messina na sua analise sobre a civilização helênica.

    Excluir o material ou o econômico, enquanto condicionamento real, nos levaria ao extremo oposto do platonismo ou do voluntarismo ingênuo nos termos do idealismo alemão.

    Julgo pois que a analise da estrutura econômica seja imprescindível, assim podemos compreender de certo modo o florescimento do fundamentalismo nas sociedades islâmicas economicamente exploradas pelo imperialismo ocidental.

    Julgo tratar-se duma analise que favorece a compreensão do fenômeno social sem no entanto justifica-lo.

    Quanto aos EUAN no entanto, prescindindo da miséria e da exploração como compreender a fúria ascendente do fundamentalismo sem recorrer a analises tanto mais profundas nos campos de teologia e da filosofia???

    A Europa tornou-se tolerante graças a dialética romanismo protestantismo, que engendrou a incredulidade, mormente entre as sociedades protestantes. Enquanto o protestantismo contou com a adesão das maiorias foi tão ou mais intolerante face ao romanismo.

    Eu não percebo que o protestantismo tenha implementado a liberdade e tampouco o romanismo de modo geral, entre o combate ideológico surgiram espaços de incredulidade e liberdade; então eu não percebo qualquer nexo metafisico ou ontológico entre protestantismo e liberdade.

    Acontece que as condições vigentes no Brasil não dizem respeito a dinâmica cultural européia, antes mostram-se cada vez mais distintas.

    O modelo de protestantismo que adotamos neste pais não é nem europeu, nem iluminizado, nem liberal, mas; Yankee, calvinista e fundamentalista o que não pode deixar de ser sociologicamente considerado.

    Nos EUA existe um contrapeso, exercido pelos agnóstas, ateus, judeus, papistas, etc E é este contrapeso que tem contido o desejo dos fundamentalistas ou dos protestantes ortodoxos no sentido de desconstruir e solapar o estado leigo. O islã não conta com este contrapeso, que é o diferencial.

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  4. A história nos mostra que o protestantismo ortodoxo de matriz calvinista jamais deixou de desejar a substituição do estado leigo por um estado religioso ou protestante nos EUA, estado calcado nos moldes totalitários e puritanescos da Santa Genebra e em nada distinto do antigo israel ou das atuais sociedades islâmicas.

    Preocupa-me no entanto a possibilidade que nosso protestantismo, calcado no protestantismo yankee, adquira a hegemonia espiritual neste pais. Temos o mesmo contrapeso que a Europa ou mesmo os EUAN para conter a fúria dos ulemás como Malafaia???

    Neste caso que serão de nossas liberdades?

    Sabe vossa ilustríssima que diversas leis de excessão, em favor do protestantismo, tem sido propostas e aprovadas neste nosso pais.

    Como a lei carioca que privilegia indevidamente a Bíblia face aos outros representantes da literatura religiosa.

    Repúdio igualmente toda esta polêmica travada em torno da opção sexual, pois comporta sacralização da cultura hebraíca e dissolução do estado leigo, face a valores 'revelados' que não lhe dizem respeito.

    Enquanto escrevo estas linhas um projeto de lei de teor homofóbico esta sendo encaminhado ao congresso nacional.

    Choca-me profundamente a oposição das autoridades religiosas nacionais (protestantes evidentemente) face a lei anti palmada, fundamentada em textos do antigo testamento!!! Dois séculos e meio após o 'Emílio' de Russeau...

    Tais eventos assustam-me muito mais do que aqueles que sucedem no velho Oriente em condições perfeitamente compreensíveis.

    Porque preocupo-me com a liberdade e a dignidade humanas nesta sociedade a que pertenço, em que exerço magistério e procuro praticar a cidadania.

    O homem jovial e afável de nossa cultura esta ameaçado por elementos alienígenas procendentes da sociedade Yankee e não da afegã. Isto repito merece analise tanto mais detida e aprofundada e preocupo-me.

    Julgo que o Sebast Castellio, aquele protestante fantástico que fez guerra a opressão calviniana não veria as coisas doutro modo.

    Porque o protestantismo, onde tem poder e força não optou por Castellio, homem em que vivia Jesus Cristo, mas por Calvino e sua lei de ferro???

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  5. Olá, prezado Professor!!

    Graça, paz e muito bem, neste novo ano que se inicia!!!

    Sempre adquiro um pouco mais de cultura ao ler suas ponderações!!!

    De fato, no islã, falta o contrapeso necessário que somente um Estado imparcial no campo religioso poderia proporcionar, em minha opinião. Terá o Islã o seu período iluminista, ou este é um fruto tardio de um cristianismo que se auto-questionou (entre outras possibilidades)? Tem o Islã a dialética necessária que possibilite a liberdade religiosa nos países em que são maioria?

    Sua preocupação com o crescimento, digo, não do protestantismo dito clássico (os presbiterianos, metodistas, batistas, anglicanos e luteranos deste país, s. m. j., não têm nenhum projeto para dominar os poderes constituídos), mas talvez do neopentecostalismo e do pentecostalismo realmente é digno de preocupação. As igrejas ditas midiáticas sempre têm uma quantidade razoável de membros no Congresso Nacional e nas demais casas legislativas. É realmente uma possibilidade, ainda mais caso se organizem para as votações. É uma possibilidade que o Estado Democrático dá a todos os grupos sociais de nosso país, para o bem, ou para o mal.

    Entretanto, acredito que a nossa estrutura de Estado, nos moldes de Montesquieu não permita um controle por parte da religião, mesmo a Romana. É algo que precisamos ficar de olho, por assim dizer.

    Sobre Genebra, creio que em um primeiro momento, não se deixou realmente de elaborar um Estado Teocrático (não sei se naquele momento histórico seria possível de outro modo a uma república burguesa), nos moldes calvinistas; entretanto, entendo que o dentro do próprio protestantismo estavam algumas das sementes que possibilitaram a secularização do Estado (entre tais sementes, o próprio livre-exame, e a eterna desconfiança de todas as autoridades por demais centralizadas). O próprio Rousseau, de certa forma, era um cidadão Genebrino, e, nas suas Cartas da Montanha, insistia em defender que suas idéias poderiam chocar os católico-romanos, mas não os protestantes. Enfim; é algo que preciso estudar um pouco mais. Charles Finney também era de uma igreja presbiteriana calvinista, mas negou completamente o calvinismo, combatendo-lhe até onde podia, e implantando no presbiterianismo norte-americano o arminianismo wesleyano. Há uma monografia de um autor calvinista que acusa Finney de possibilitar um processo maior de secularização no próprio protestantismo norte-americano, enfim.

    Sobre o homem jovial e afável de nossa sociedade, teria sido este o cidadão médio na América Latina?

    Um grande abraço!!!

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