Luzeiros no mundo
“... entre os quais resplandeceis como luzeiros no mundo”
(Filipenses 2.15)
No segundo capítulo de sua epístola aos filipenses, Paulo
parece tratar de alguns problemas que ocorriam naquela igreja por ele mesmo fundada. O apóstolo os exortou a considerarem cada qual o outro
superior a si próprio e buscarem sempre os interesses recíprocos, mencionando
como exemplo a própria auto humilhação do Senhor Jesus, que deixando sua
glória, encarnou-se, vivendo vida de servo e morrendo morte de cruz, sendo por
isso exaltado pelo Pai. As exortações práticas continuam, até que Paulo diz aos
seus leitores que, em meio a uma geração
corrupta e perversa, aqueles que levam o nome de Cristo a sério deveriam
resplandecer como astros, ou como luzeiros no mundo.
Ao me deparar com um texto como esse, fico com a sensação de
que nós, os cristãos, de modo geral, não sabemos muito bem o que devemos ser. Ser
luzeiros significa ser como estrelas brilhando no céu. Isso me parece
significar que alguém que se diz cristão deveria ter um comportamento
muitíssimo além daqueles que vivem “segundo o curso deste mundo”. Algo que deve servir de exemplo para todos.
Alguém poderia alegar que na época de Paulo isso era
especialmente verdade pelo fato daquela ser uma cultura verdadeiramente
corrompida, com barbaridades sem fim, prostituição cultual, escravidão, em uma
sociedade que não reconhecia os mais básicos direitos humanos, sociais e
individuais de cada qual. Entretanto, agora, dizem, somos uma sociedade
cristianizada, civilizada, e melhoramos um pouco nestes dois mil anos, de modo
que todos nós, em menor ou maior medida, já espelhamos, ainda que
culturalmente, um pouco da luz do evangelho.
Talvez haja alguma verdade em tal raciocínio, mas ainda
assim, para mim, não responde o anseio por mais. Mesmo em meio a uma cultura
cristianizada, podemos ser mais. Podemos ser mais bondosos. Podemos ser mais
despojados. Podemos servir mais os necessitados. Podemos ser mais caridosos em
nossos ambientes de trabalho. Ouvir mais o nosso próximo. Sermos menos
egoístas, menos centrados em nós mesmos. É duro ter a sensação de que a
sociedade olha para o corpo geral dos evangélicos, e não nos veem
necessariamente como pessoas melhores, mas como chatos, fanáticos, e hoje até
mesmo desonestos e ansiosos pelo poder.
Vejam bem: Paulo diz “como astros no mundo”. Me lembro de
Crisóstomo, de Francisco, de Wesley, de Booth, Bonhoeffer, Luther King, Schweitzer,
entre tantos outros. Pessoas que fizeram tanto em seu tempo, em sua própria
cultura. Deveríamos ser calmos, atenciosos. As pessoas deveriam ter certeza da
bondade do corpo de fiéis. Sermos realmente mais parecidos com ovelhas, mansos,
acolhedores, santos.
Que possamos ansiar isso. Agonizar por isso. Desejar isso. Não
para jogar na cara de ninguém que somos melhores (até porque realmente não somos); mas para consumar o desejo do
Senhor pela sua igreja, afinal, somos o seu Corpo. Senão, para que serviremos
se nossa luz não brilhar?
Se estamos longe de tal padrão, que possamos nos arrepender e
clamar ao Senhor.
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