Dialogo sobre a constituição do homem e a origem do espírito humano

André = Cristão convencional
Gregório = Católico ortodoxo
Servácio = teólogo papista










André: Acaso acreditas que o homem seja formado por um corpo físico e por uma alma imaterial?
Gregório: Caso acreditasse que o homem é formado ou composto por duas entidades distintas seria dicotomista a exemplo de toda gente simples.
O senso comum é dicotomista.
Eu no entanto sou tricotomista.
André: Aqui em casa somente minha esposa é que faz tricô...
Gregório: Tricotômia não é a arte feita em casa por sua mulher, mas uma teoria antropológica sobre a natureza humana.
Segundo os adeptos da tricotômia o homem não é um duplo formado apenas por corpo e alma, mas um triplo, formado por corpo, alma e espírito.
André: E eu que pensava que corpo e espírito eram uma só coisa.
Gregório: Mas não são.
André: Neste caso em que consiste a diferença?
Gregório: O corpo constitui a parte física, material, biológica ou animal do homem; a alma uma espécie de mediador entre a alma e o corpo e o espírito sua parte mais profunda, imaterial, simples e invisivel.
O espírito age sobre a alma e esta sobre o corpo.
É assim que o espírito pode manifestar suas faculdades no mundo material e sensivel, por mediação da alma e do corpo.
André: Logo a alma do homem é material?
Gregório: Segundo nossos padres e doutores a começar por Irineu e Tertuliano, a alma do homem é uma entidade material, composta por uma matéria assaz sutil ou como ja se sabe (pela fotografia Kirliana) energia. É esta matéria sutil que imprime forma ao espírito imaterial e informe e que mantem sua forma após a dissolução do corpo físico.
Nossos Mestres congregados no segundo concílio de Nikaia, afirmaram que apenas a Deidade Bemaventurada deve ser encarada como puramente imaterial ou espiritual e que atribuir a espiritualidade a qualquer outro tipo de ser é uma usurpação blasfema.
Servácio: Salve caríssimo André e nobre Gregório, permiti que tome parte neste colóquio antropológico lançando alguma luz sobre o assunto.
Gregório: Estamos a ouvir-te filho de Roma.
Servácio: A falsa doutrina da tricotômia foi inventada pelo heresiarca Apolinário de Laocidéia, e até então jamais havia sido sustentada por qualquer padre da Igreja.
Eis porque a Igreja nossa Santa Mãe, ensina-nos a crer que o homem é uma dualidade formada apenas pelo corpo material e a alma imaterial.
Que os protestantes e espiritas tenha acolhido com entusiasmo a teoria tricotomista é bastante compreenssivel, afinal detestam tudo quanto esteja deacordo com a igreja de Cristo.
Gregório: Sabe porém que mesmo não sendo protestante ou espírita sustento firmemente a teoria tricotomista.
Servácio: Como grego cismático não tens vergonha de ensinar uma doutrina oposta ao dogma da tua igreja?
Gregório: Caro Servácio, os presentes que me ofertas não desejo recebe-los, fica pois com eles... quanto ao dogmas da igreja devias saber que não possuimos qualquer papa infalivel capaz de aumentar seu número.
Quanto a Apolinário ter introduzido a tricotomia na Igreja de Deus devias ter ao menos algum pudor e não vir a público, diante duma alma simples como a de André, para mentir assim tão delavadamente.
Ou ignoras que S Clemente de Alexandria, S Irineu, S Origenes e S Gregório de Nissa ministraram o mesmo ensino sobre os três componentes do homem?
Quanto ao eruditíssimo mestre Clemente e seu ilustre púpilo e mártir bem sei que vós latinos brindais com o título de heréticos.
Irineu e Gregório no entanto são designados por vós como Santos e reverenciados em vossas cerimônias.
Mesmo porque um foi discípulo de S Policarpo enquanto o outro foi irmão de Basílio, o padre dos padres e amigo do grande Crisóstomo.
Ignorariam pois eles a falsidade ou a periculosidade da tricotomia?
Compreendo que vós escravos do papa romano e adversários da santa tradição, pura e imaculada; condeneis servilmente tudo quanto vosso mestre vos ordena condenar.
Eu porém, sendo ortodoxo, revindico os exemplos de S Irineu e de meu glorioso patrono e sustento a mesma opinião que ambos, a saber, que o homem é composto por três elementos distintos: espírito, alma e corpo.
Condenas a mim, sê honesto e condenai também a S Gregório - proclamado 'Mestre' pelos padres congregados no primeiro concílio de Constantinopla - e S Irineu, martir invicto de Jesus Cristo
Acaso Irineu, Clemente, Origenes e Gregório eram protestantes ou espíritas?
Guarda tuas idiotices para tí mesmo nobre Servácio!
Servácio: Acaso não tens vergonha de sustentar que Clemente, Origenes e S Gregório de Nissa sustentaram uma doutrina tão grosseira como a da tricotômia?
Gregório: E para completar a medida te direi que Paulo era tricotomista, que a Virgem Maria era tricotomista, que o próprio Senhor Jesus Cristo era tricotomista e que tu e todos os dicotomistas laborais em erro.
Servácio: Não acredito que sejas capaz de faze-lo.
Gregório: Então vê...
Acaso ignoras que o bemaventurado Paulo mencinou os crentes de Tessalonica desigando seus espíritos, almas e corpos?
Servácio: Quem não percebe ao ler tais palavras que espírito e alma são sinônimos e que designam a mesma entidade?
Gregório: Belo comentário expositivo este que faz palo referir-se duas vezes a mesma entidade e uma só vez ao corpo como se fosse um perfeito idiota... pois dicotomista algum em sua linguagem ordinária faz uso de semelhante construção. Todo dicotomista, fiel ao senso comum de que faz gala, diz amiude: corpo e alma, expressão já consagrada pelos autores devocionais da santa madre...
Servácio: Quem não percebe que Paulo expressa-se tanto mais livremente neste passo?
Gregório: Agora Paulo é poeta e suas e suas cartas devaneios líricos...
Porque os romanistas não interpretam da mesma maneira as passagens das epistolas paulinas referentes a ressurreição, a eucaristia, a tradição? Tudo arroubos poéticos duma alma exaltada...
Concedo que Paulo possa ter incorrido em erro caso tenha fundamentado sua opinião tricotomista na tradição dos fariseus seus mestres ou nas especulações dos filósofos gregos.
Parece-me no entanto que tanto a Virgem quanto seu divino filho sejam adeptos da tricotômia e que sejam, por assim dizer, o fundamento da doutrina enunciada pelo apóstolo a qual por isso mesmo deve assumir, para todo Cristão piedoso e fiel, o 'status' de verdade divina, infálive e inquestionavel.
Servácio: Não sei donde tiraste a opinião segundo a qual a Virgem e seu divino filho fossem hereges tricotômistas.
Gregório: Que Jesus seja um herege excomungado segundo a opinião do homem do vaticano, sabe-mo-lo muito bem. Pois temos conhecimento da instituição eucaristica e das palavras pertinentes ao sangue 'Bebei dele todos'...
Também sabemos que Jesus condenou o divórcio, EXCETO EM CASO DE ADULTÉRIO, Roma no entanto, condena todos aqueles que foram traidos e abandonados por seus conjuges, impedindo-os de contrair segundas nupcias conforme a honestidade. Assim se adultera as palavras do Mestre dos mestres consignadas no livro sagrado...
Acontece que a Santa Virgem também expressou-se levianamente ao dizer: "Minha alma engradece ao Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador."....
Mais uma vez os dicotomistas de plantão asseveram que para a Virgem é tudo a mesma coisa: alma e espírito, espírito e alma... pura e simples questão de estilo, a Virgem após emocionar-se com a manifestação de Gabriel, tornou-se estilosa ou confundio espírito com alma sem perbecer que estava a chover no molhado...
Afinal tratava-se dum canto ou dum hino, cuja precisão teológica...
E assim bulimos com o livro sagrado.
Servácio: Maria era dicotomista, pois não faz qualquer referência a uma terceira parte, o corpo.
Gregório: É que Maria Santíssima era doceta ou seja provida de um corpo aparente ou fantasmagórico.
Por isso não faz qualquer alusão a ele, do tipo: "E meu corpo emagrece no Deus verdadeiro..."
Fala com seriedade Servácio, no que a exclusão do corpo ou do terceiro elemento toca a questão da tricotômia se fora dele, ela menciona outros dois elementos bem distintos?
Acorda Servácio e deixa de mencionar o corpo como uma nuvem de poeira destinada a obscurecer a questão.
Servácio: Ignoro supinamente qualquer sentença proferida por Nosso Senhor que possa favorecer vossa disparatada opinião.
Gregório: Ah Ignoras! Grande!
Acaso não disse ele a respeito de si mesmo: 'Ao Senhor teu Deus amaras de todo coração, alma e espirito?'
Como quem diz: com o corpo - 'Pois aqui o coração significa o complemente da carne.' afirmou nosso Crisóstomo -  a alma e o espírito, isto é, com todo ser, integralmente.
Servácio: Sendo o homem uma dualidade como ousas fazer dele uma triplicidade?
Gregório: Se aprecias tanto assim a dualidade porque não imitas a Macedônio de Constantinopla, que adorava apenas ao Pai e ao Filho com exclusão do Espírito Santo, Puro e Perfeito?
Arrenega duma vez a Santa Trindade e glorifica a dualidade elevando-a a categoria das coisas divinas e imortais.
Nós no entanto afirmamos que a natureza do homem reflete de algum modo a natureza divina em sua triplicidade.

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