O fantasma de Platão... que é que somos em verdade, Cristãos ou platônicos...





O Deus Cristão é um Deus concreto e não um Deus fantasmagórico ou espectral...

A economia Cristã é economia material e visível, posta e introduzida na imanência.

Sendo puro Espírito, o Deus Cristão fez-se homem de carne e osso, assumindo natureza física, material e visível.

Segundo o mistério supremo da fé, o criador da matéria quiz entrar e entrou de fato na dimensão material a que pertencemos.

Este Deus encarnado, escândalo para platônicos e transcendentalistas, é Jesus Cristo, homem verdadeiro filho de mulher. Homem procedente da carne e do sangue e não do céu apenas...

Então o Deus Cristão não é nem pode ser o deus dos judeus e dos maometanos, porque o deus dos judeus e maometanos não tem nem natureza humana, nem nascimento, nem carne, nem corpo, nem mãe... O Deus Cristão tudo isto tem pelo mistério de sua encarnação.

Para judeus e maometanos este deus é um ídolo e o culto cristão abominável e grosseira idolatria mesmo quando prestado por iconoclastas e iconófobos que excluem as representações do Senhor.

Então o que é deus para eles é espectro inexistente para nós e o que é deus para nós é ídolo abominável e monstruoso para eles.

Para a maior parte daqueles que apresentam-se a sí mesmos como monoteístas equivale a divindade a transcendência absoluta ou seja a um ser puramente espiritual e apartado da realidade material e sensível.

Como pode o deus ser limitado pela dita realidade material e sensível, ignoro-o; sabem-no eles...

Porque o deus deles não esta nas imanência e a imanência não esta nele... assim eles permanecem no contido e incontido, no limitado e no ilimitado, no finito e no infinito e o discurso deles, sendo contraditório e incoerente não faz qualquer sentido...

Já o Deus Cristão esta voltado para a imanência, movendo-se e e subsistindo em comunhão com ela.

Em Deus vivemos, existimos e somos, isto é, no meio divino como seres chamados a divinização, isto é a Theosis; pois o que seremos, manifesto não foi...

É o Deus Cristão um Deus encarnado no mundo, um Deus presente, um Deus em plena comunhão com a imanência; e não uma transcendência absoluta.

Eis porque o Deus humanado e visível ao entrar no Tempo e assinalar a História, estabelece uma Igreja invísível e vísivel, a imagem de sua dupla natureza.

E comunica-se a si mesmo enquanto graça incriada através de sacramentos materiais e visíveis que são como que extensões de sua encarnação. Por meio dos santos e divinos mistérios Jesus continua a encarnar-se no mundo, a penetra-lo, dignifica-lo, santifica-lo e transforma-lo de modo real, alterando suas estruturas íniquas e relações sociais desajustadas.

E perpetua sua presença no mundo por meio de símbolos vísiveis que adornam nossos templos, como as icones do Salvador, de sua mãe, de seus apóstolos, mártires, cujas memórias reverenciamos e honramos, uma vez que retornaram ao Uno.

Enquanto Platão imaginava o acesso ao Uno como um despojamento do material, sensivel, visivel e corpóreo, e por assim dizer um mergulho de cabeça no 'espírito' com exclusão de ritos, de expressões plásticas e artísticas. etc

Tal não foi o caminho indicado pelo Uno. O Uno não decretou que os homens se 'espiritualizassem' abraçando a qualquer tipo de espiritualismo fantasmagórico ou transcendente; pelo contrário o Uno aproximou-se do mundo material e sensivel fazendo-se um de nós na pessoa de Jesus Cristo.

Platão sendo homem carnal e visivel indica-nos o caminho das essências puras e ideiais e inculca a seus discipulos um acinto desprezo para tudo quando seja material e vísivel.

Jesus sendo Puro e Eterno Espírito indica-nos o caminho oposto na medida em que 'se fez carne' e 'habitou entre os mortais'. Em Platão a matéria condena e despreza a si mesma, em Jesus o Espirito honra e dignifica a matéria, elevando-a e unido-a a sí.

Eis porque Jesus, o Deus visivel, elege apóstolos visiveis, estabelece sacramentos visiveis e um culto visivel numa igreja visivel....

Ao estabelecer um parâmetro visivel ou de visibilidade a Igreja não agiu levianamente, limitou-se a tirar as devidas consequências do mistério da encarnação, do qual é testemunho vivo.

Como poderia a igreja dar bom testemunho da Encarnação assumindo modos platônicos como a sinagoga ou a mesquita?

Como poderia a instituição Cristã permanecer fiel ao mistério e ao mesmo tempo negar sua visibilidade bem como a materialidade e a visibilidade de seu culto.

Como poderia honrar o fundamento da fé e rejeitar sua economia sacramental.

Ora aquele que manifestou-se visivelmente na história manifestou-se a coletividade, ao gênero humano, a espécie e por isso determinou congrega-la numa só família unida pelos liames da fé e vínculos concretos do amor. A ideia de uma união individual e imediata do homem com o Uno que exclua a mediação que quaisquer criaturas materiais e sensíveis é antes platônica e platonizante que Cristã.

A contragosto dos místicos, dos individualistas, dos espiritualistas, dos maniqueus e dos iconoclastas o Deus encarnado Jesus Cristo quis interpor entre si mesmo e a alma fiel, diversas mediações materiais e sensíveis a começar por seu corpo físico, por sua mãe, por seus apóstolos, pela igreja ('comunicai-o a igreja' disse ele!), pela água do batismo, pelo pão e pelo vinho, pelo óleo, pelo serviço fraterno imposto pela caridade viva, pelo prece e culto de adoração (litúrgia), etc

Excluir tais mediações é opor-se a vontade e ao plano divino.

Eis porque tememos os carmelitas com sua contemplação 'mistica', os palamitas (de Gregório Palamas) com sua piedade individualista, e sobretudo o zwinglianismo espiritualizante, transcendente e iconoclasta - cf Jeremias Klein 'Os sacramentos na tradição reformada' - que plasmou a consciência protestante contemporânea. Segundo nosso ponto de vista, o Carmelo - inclusive a Terezinha de Lisieux com sua piedade 'espiritualizante', descarnada e individualista - Palamas e Zwinglio, foram responsáveis pela introdução e pelo triunfo do platonismo na instituição Cristã; platonismo do qual decorre e decorrerá, numa intensidade cada vez maior, um afastamento da imanência, o repúdio ao mistério da Encarnação e uma convergência para o judaismo e islamismo que nós, enquanto Cristãos conscientes e radicalmente fiéis ao mistério da encarnação (principio e fundamento da teologia ortodoxa), consideramos como uma autêntica apostasia.

Segundo cremos o Cristianismo não carece ser espiritualizado na perspectiva de Platão ou de seus representantes, que é a mesma da sinagoga e da mesquita - voltada para a transcendência absoluta e para a negação radical da imanência - mas reconsiderado e encarado com seriedade e coerência segundo o mistério supremo da Encarnação. É necessário inferir e tirar consequências lógicas deste mistério até o fim... é necessário esgota-lo por completo.

Enquanto muitos clamam por uma espiritualização e por uma maior valorização do místico, nós, encarando tal 'espiritualização' como um 'movimento de desencarnação' de Deus; recomendamos pelo contrário um 'salto' ou 'mergulho' no grande mistério pelo qual Deus se faz homem, ou seja Emanuel, passando a perfilhar conosco a senda da imanência. Desejamos um Cristianismo cada vez mais prático, atuante, dinâmico, vivo e presente, que traga o sentido da 'comunhão' do 'além' ou do 'céu' para o tempo presente, para a vida, para o éthos....

Aspiramos por um Cristianismo cada vez mais encarnado nas estruturas sociais, políticas e econômicas da temporalidade e não por um Cristianismo mágico que adie a salvação do homem para o futuro distante tendo em vista os imaginários castigos do inferno ou os imaginários demônios. Aspiramos por um Cristianismo que 'faça realmente falta ou diferença', por um Cristianismo radicalmente fiel a seus valores, por um Cristianismo solidário, pautado na alteridade; por um Cristianismo que ao invés de separar e indispor congregue os seres humanos numa só família, por um Cristianismo que ao invés de brindar a humanidade com doutrinas exóticas e inuteis, brinde-a com obras em verdade; por um Cristianismo que ele o divino Mestre mais a sério e ensine os homens a imita-lo, por um Cristianismo que afirme a vitória total da graça e a extinção do pecado, por um Cristianismo que ao invés de prometer um perdão demasiado fácil, prometa a santidade e a perfeição; por um Cristianismo que exorte o homem a pensar e a refletir ao invés de remete-lo as trevas da ignorância; por um Cristianismo expurgado de vetustos mitos semitas e centrado apenas no Novo Testamento; por um Cristianismo ético e não imediatista; heroico; não mágico e fetichista... por um Cristianismo que satisfaça os anseios do homem pela arte glorificando o belo em seus atos de culto... por um Cristianismo sem medo do inferno, em que Deus seja amado pelo que é e pelo que fez... por um Cristianismo sem eleitos e excluidos, Cristianismo em que Deus seja honrado como Pai e não como senhor ou patrão... Cristianismo que não esteja voltado para ações de cárater individual mas antes de tudo para as ações que dizem respeito ao próximo ou a comunidade... por um Cristianismo cujo anuncio seja de fato uma boa e não uma odiosa nova de pecado, condenação, castigo, maldição, diabo e inferno... por um Cristianismo que fale apenas do necessário: do Cristo, da paternidade divina, da redenção, do bem, do amor, da reconciliação, da perfeição e da evolução que regem o universo; por este Cristianismo aspiramos e lutamos como se luta e combate por uma causa divina e pela mais importante das causas.

Nós não queremos um Cristianismo de Moisés, um Cristianismo judaico, sectário, judaizante... não queremos um cristianismo islamizado e islamizante... como não queremos o Cristianismo de Zwinglio...porque não somos nem queremos ser discípulos de Platão ou partilhar de sua febre transcendental... Nós desejamos e queremos o Cristianismo dos Padres e doutores dos primeiros séculos, radicalmente fiel ao mistério da encarnação, até as últimas consequências. Desejamos e queremos uma fé que ponha a transcendência em relação, contato, associação e união com a imanência...

Este é o nosso ideal de crença e fé.

Por isso não podemos em queremos compreender a ascensão e o triunfo do ideal platônico e platonizante senão como a destruição da fé o o império do 'anti Cristo'.

Amorosamente em Cristo, único Deus verdadeiro.

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