Reflexões sobre a Reforma e Unidade

Entendo que a Soteriologia (doutrina da salvação) do protestantismo, com a crítica anabatista e a correção armínio-wesleyana é o ponto alto da teologia evangélica. Penso que faz juz à grande obra do Redentor e à graça de Deus.

Compreender que o homem pelas obras possa fazer algo para ser salvo, ainda que seja um programa sacramental eclesial pode tornar vã a graça, porém, entender que Deus de antemão escolheu, por um absoluto decreto quem será salvo e quem será condenado faz dele autor do mal e do mau (para Wesley, pior que o diabo).

Entretanto, a eclesiologia protestante é o seu ponto mais fraco. Ao desprezar a eclesiologia patrística, a sucessão apostólica, os protestantes se condenaram a dividirem-se em milhares e milhares de grupos, sendo muitos antagônicos entre si, espalhando o individualismo em um primeiro momento, e talvez sendo autor indireto da onda de ceticismo que varreu o ocidente. Só para se ter uma ideia, presbiterianos e metodistas já se dividiram centenas de vezes entre si.

O tempo todo damos uma demonstração pública deste antagonismo e nesse ponto a reforma falhou.

O anglicanismo poderia ter sido uma resposta eclesiológica bastante atraente, pois conservou a substância católica e o princípio protestante. Entretanto, o próprio anglicanismo parece ter sido duramente atingido pelo pensamento iluminista e está hoje mundialmente dividido.

O catolicismo romano não é mais uma opção para a grande maioria dos evangélicos, por conta de suas estranhas práticas e doutrinas para a mentalidade protestante. Mas é preciso reconhecer que a Igreja Católica se reformou em muitos pontos, ainda que com 400 anos de atraso.

A ortodoxia, a meu ver, poderia sim ser uma opção teológica para uma mentalidade evangélica pronta a aprender (sem doutrina do purgatório, papa infalível, mariologias exageradas, etc), porém, culturalmente estão muito distantes da mentalidade ocidental, e sua presença é muito pequena nestas terras, não parecendo haver muito interesse em uma significativa expansão.

Portanto, para minimizar tal falha eclesiológica, penso que os protestantes deveriam priorizar o diálogo, uma espécie de ecumenismo dentro de suas próprias confissões (metodistas com metodistas, presbiterianos com presbiterianos, batistas com batistas, e assim sucessivamente, em busca de unidade). Tentar desenvolver uma mentalidade que evite novas e inumeráveis divisões. Em segundo lugar, desenvolver um diálogo fora de suas confissões, ainda que dentro do próprio protestantismo, o que é um grande desafio. E finalmente, os evangélicos precisam ensinar a seus fiéis que há verdadeiros cristãos também fora do mundo protestante popular, desenvolvendo um diálogo fora de seu mundo religioso cultural. No contexto atual, isso é ainda mais desafiador. Mas ressalto, isso só minimizaria. Não resolveria o problema.



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